Confesso que fechei os olhos e me imaginei atrás do trio elétrico descendo a avenida Siqueira Campos em direção à Bartolomeu de Gusmão e tentando acompanhar a música, mas enrolando a língua nos versos do Chiclete: “vista sua saia bem rodada, com a blusa decotada, que lá vem a batucada, levantar poeira, eira”. De repente voltei a mim e eu não estava de abadá, muito menos dentro do bloco Massicas, mas o Chiclete com Banana, à minha frente, tinha acabado de iniciar “Saia rodada” quando dei mais um gole na latinha de cerveja e uma lágrima escorreu no canto do meu olho. Eu estava na despedida de Bell Marques do Chiclete em Vitória da Conquista, cidade à qual a banda esteve religiosamente, pelo menos uma vez ao ano, desde 1993. A partir de agora, cada um segue para um lado e a nação chicleteira encontra-se dividida.

Neste último oito de novembro, véspera de feriado municipal, os chicleteiros de Conquista tinham só uma expectativa: assistir a um show repleto de emoções, mas não foi. Bell até que sentiu a energia diferente da galera, de cima do trio revelou: “eu não me lembro quando foi a última vez que vim aqui e senti uma energia tão boa vindo de vocês como estou sentindo hoje”. A razão era só uma, a cidade estava se despedindo do cantor e da banda. Mas, nem o cantor, nem a banda se despediram. A apresentação foi apenas mais uma, com alguns dos grandes hits da carreira e sem qualquer discurso de “valeu, foi bom, adeus”.

Eu esperava que o cantor fizesse, ao menos, um agradecimento pela parceria da cidade com a banda, mas nem isso. A impressão que ficou foi que o grupo está tomado pela frieza e tendo que se conter, sem fazer menções ao “fim”, que, para eles, não existe, pois nem Bell, nem o Chiclete anunciaram fim – ambos continuarão fazendo música, carnaval, micaretas… (ou não). Com a saída de Bell, a continuidade do Chiclete é incerta, apesar de já ter anunciado novo vocalista, assim como é incerta a carreira solo do cantor de 61 anos, mas que também já está em estúdio gravando seu disco e fechando agenda para 2014.

Os chicleteiros sabem que, depois do carnaval, será um recomeço tanto para Bell como para o irmão Wadinho e o restante da banda, daí a sensação de que tudo acabou. Então vêm à tona as lembranças – as vezes que sai atrás do trio Rex, que viajei para curtir uma micareta com o Chiclete e os shows que vi aqui em Conquista e em outras cidades passam como um filme e, por isso, a emoção, que ficou sob a nossa responsabilidade durante esta última festa do Chicletão.

Depois do anúncio da saída de Bell a agenda do grupo ficou lotada e subiu também o cachê, a banda então segue o seu caminho fazendo despedidas sem se despedir, cumprindo os compromissos sem clima para festa ou lamentações. Mas, cá entre nós, de qualquer forma, é um fim e, por isso, uma despedida sim, mesmo que eles não queiram fazê-la. Chiclete sem Bell e Bell sem o Chiclete é “um céu sem estrela, uma praia sem mar…”, como diz a própria música do grupo.

A gente sabe que Bell e o Chiclete podem voltar, separados, a Conquista em eventos futuros, por isso ficou a sensação de “até logo” (e, talvez por isso, o grupo esteja fazendo os shows de despedida como apenas mais um show do Chiclete). Mas, eu e toda nação chicleteira, com certeza, preferiria não ver essa divisão acontecer, mas como não terá volta (ou não), a gente segue se despedindo até o carnaval, quando, com certeza, não vai ter quem segure a emoção de Bell e do grupo pelas avenidas de Salvador.

Agora, só nos resta fechar os olhos pra não ver passar o tempo.

*Texto baseado nas emoções de um chicleteiro anônimo.

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