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Ele é apaixonado por política e futebol, foi vereador na década de 80, lutou para que a micareta de Vitória da Conquista fosse criada e hoje defende o seu retorno. Natural de Condeúba, cidade do sudoeste baiano, Pedro Alexandre Massinha é o principal produtor de eventos de Conquista, responsável por trazer nomes como Chiclete com Banana e Ivete Sangalo. É dono do Massicas, bloco de carnaval que se tornou empresa e que hoje atua do norte de Minas Gerais ao sul da Bahia. Acredita no axé music, no poder transformador do esporte e defende a juventude sadia: “para brincar uma micareta você não precisa se embriagar, não há necessidade, a alegria sai desse desfile de forma saudável”.

Por que o retorno da Miconquista?

A micareta é uma festa que marcou época não só na nossa cidade, mas no Brasil inteiro, por que foi naquele momento que surgiram as festas e os carnavais antecipados no Nordeste e logo em seguida o Brasil foi tomado de “assalto” pelos trios elétricos da Bahia e Vitória da Conquista sobressaiu pela grandiosidade da nossa festa, pelas grandes atrações que vinham para cá contratadas pelos blocos, pelo clima da cidade, geograficamente somos bem localizados também, o que favorecia a presença de muitos turistas que puderam estar aqui mesmo de carro, vindo do norte de Minas Gerais, do sertão e do sul da Bahia, além dos que vinham de avião. A cidade era visitada por muita gente do Brasil inteiro e até do exterior. A festa foi muito importante para a cidade e importantíssima para o axé music, pela grandiosidade. A prefeitura ficava à frente da organização, dando estrutura, e os blocos eram responsáveis pela presença das principais bandas na cidade. Uma festa que nasceu de um interesse coletivo, o Massicas foi o artífice desse movimento, foi quem imaginou inicialmente, houve resistências é claro, as pessoas não acreditavam que a micareta poderia vingar, mas vingou e foi tida como uma das melhores micaretas do Norte e Nordeste: pacífica e com clima aprazível, o que sempre chamou a atenção dos artistas.

“Estamos preparados para voltar com a Miconquista, já estamos em contato com todos os blocos, alguns que saíam, outras novos e parcerias com blocos de Salvador”

É possível fazer a festa no dia de hoje com a mesma grandeza de antes?

Eu diria que até maior. Evidente que muda o conceito, o formato. Isso tem acontecido no Brasil inteiro por ter ganhados outras proporções. Em Conquista, por exemplo, apesar dela ter sido uma grande micareta, a gente cometia um equívoco em razão de não termos um outro espaço, mas o nosso circuito era muito acidentado, além de longo, dificultava muito para que os trios elétricos fizessem as curvas… Hoje, isso não cabe mais, seria uma insistência até burra fazer descendo a pracinha do Gil, as avenidas Otávio Santos, Bartolomeu… muito complicado. Mas, hoje nós temos a possibilidade de fazermos uma grande festa na avenida Olívia Flores, sentido da Uesb, é uma área pouco habitada, o que facilitaria muito a festa ali, pois ficava longe do centro da cidade e é uma avenida bonita. A propósito disso, há dois anos atrás, foi sugestão do prefeito Guilherme para que o Massicas na Rua fosse lá naquela avenida, o que aconteceu e mostrou de que o povo quer a micareta de volta. Ali foi apenas o Chiclete com Banana e o Massicas e as ruas da cidade estavam tomadas de gente, foi uma festa linda. Tenho a certeza de que estamos preparados para voltar, ensaiamos isso, já estamos em contato com todos os blocos, alguns que saíam, outras novos e parcerias com blocos de Salvador.

Outros blocos então também querem o retorno da Miconquista?

Claro. A Miconquista só é interessante quando tem a participação de todos os blocos, eu acho que só é bom assim, até para motivar. O Massicas na Rua é uma festa só do Massicas que a gente pode repetir, mas o bom é quando tem mais blocos, a gente quer  voltar a encher os hotéis, fazer a cidade ganhar, o comércio ganhar. É uma manifestação cultural, que é o trio elétrico da Bahia, não tem porque não fazer, é uma festa popular que o povo quer, não por unanimidade, o que é impossível, até por uma questão religiosa, mas ao mesmo tempo setores de outras religiões, que não seja o católico, o espírita, mas os evangélicos, os que não são intolerantes, eles não repudiam, eles recomendam uma juventude sadia, como as demais religiões, porque para você brincar um São João, uma micareta, você não precisa se embriagar, não há necessidade, a alegria sai desse desfile de forma saudável, aliás o Massicas nasceu disso aí, do esporte, da cultura e da prevenção às drogas, desde a década de 70 quando nós começamos o Massicas. Hoje, por exemplo, tenho certeza que com a volta da micareta a música gospel estará presente entre os blocos, pois eles marcam posição e mostram o contraditório e isso é importante.

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Como foi esse início do Massicas, ligado ao esporte?

Isso veio do meu pai, um entusiasta de eventos esportivos, foi professor de educação física, esteve no exército, e tudo isso passou para os filhos e eu aderi e incorporei isso. Chegando a Vitória da Conquista, a gente começou no Colégio Paulo VI e no Ginásio Conquista a promover atividades esportistas, participávamos de campeonatos e fomos promovendo jogos inter-colegiais, no Paulo VI, Centro Integrado, com todas as escolas, a gente fazia campeonatos escolares e as gincanas, daí surgiu o Massicas. A gente descobriu que era um canal importante para juntar-se aos jovens e propiciar eventos esportivos e culturais naquela situação de letargia, por que até então de não tinha muito o que se fazer, era uma situação que favorecia a busca pelas bebidas e o uso de drogas. Então, fomos nós que primeiro fizemos eventos aqui com Edilson Dil, Papalo Monteiro, Nagib, com Pedrinho, Evandro Correia, Chico Luz, essa turma toda. Fizemos aqui o Festival de Música e Poesia em Vitória da Conquista, grandes nomes vieram para cá participar. Sempre fizemos isso, eventos dentro das escolas, inter-colegiais de música e poesia, aí aconteceu que avançamos, o Massicas se destacou, fizemos memoráveis eventos esportivos com o Magnatas, chegava ao ponto de em dia de jogos do Serrano e do Humaitá, a direção do time vinha nos pedir para que não fizéssemos jogo se não concorria, e nós tínhamos mais público e daí foi crescendo. O Massicas virou vôlei de praia – foi o primeiro campeão baiano de vôlei de praia, com 166 equipes inscritas e a única do interior era o Massicas, de uma cidade que não tinha praia, mas nós tínhamos atletas fantásticos, como Betão, Dias, Binho, Atanásio, Gutemberg, uma turma… Aí veio vôlei feminino e masculino, handball… Fomos presidente da  Liga Conquistense de Desportos Terrestres (LCDT) durante três mandatos, inclusive campeão baiano sob a nossa presidência, em 1984.

“No primeiro dia da primeira micareta, contrários a ela desfilaram na contra-mão como protesto, e simbolizaram o meu enterro”

E o bloco surgiu em que momento?

O Massicas foi criado em 1973, está fazendo 40 anos agora, criamos o bloco em 1977, menor, participou dos carnavais, na época dos Apaxes, do Blocafé, dos Esnobes, era uma disputa saudável com os Esnobes, que sempre ganhavam, no último ano que o Massicas ganhou, em 80. Daí esses blocos foram se desfazendo, surgiu o Executivos, que foi uma dissidência do Massicas, veio o Pra Brincar, o bloco Beijo, enfim, criamos a micareta por que não tínhamos condições de competir com os blocos de Salvador, não tinha como trazer as grandes atrações, então a juventude se ausentava da cidade para ir para Salvador, não ia rolar mais carnaval na cidade e aí a briga foi ferrenha, de 85 a 88 defendendo essa causa, essa ideia, consultando a população, parte entendia que sim, parte que não, tanto que em 89, a gente implantou a micareta, uma das primeiras do Brasil, a de Feira de Santana já existia e nós estávamos ali, fizemos uma manifestação em praça, na Bartolomeu, em cima do trio pedindo a micareta. No primeiro dia da micareta, as escolas de samba que eram contrárias a ela desfilaram na contra-mão como protesto, e simbolizaram o meu enterro, me botaram dentro de um caixão, mas no último dia da micareta, a gente foi cumprimentado com manifestações de aplausos pela festa, que ganhou dimensão, sendo transmitida pelo principais telejornais do país, pela Rede Globo, Faustão, Jornal Nacional…

E na década de 80 você foi também vereador…

É. Foi entre 82 e 86. Eu tinha me candidato antes com o nome Massinha, mas não fui eleito porque não podia por ser apelido. Depois eu inscrevi, averbei o Massinha ao meu nome e fui eleito o vereador mais bem votado na cidade, com 1330 votos, até hoje eu sinto orgulho disso porque naquela oportunidade nós tivemos um legislativo com Ilza Matos, Robério Sampaio, José Willian, Everaldo Públio de Castro, professor Bira Mota, Antônio Aragão, Zinho do Prado, Zé Góes, Ramaldes Rocha, Lanteney, Gésner Chagas, um time de grandes vereadores e eu, ainda bastante jovem, fui o mais votado na cidade. E eu gosto de política, tenho orgulho do meu mandato, foi um mandato promissor, interessante, com a ajuda de pessoas infinitamente mais preparadas do que eu, me assessoravam e a gente cumpria a nossa missão, o mais importante de tudo foi essa assessoria que eu tive, espontânea, não era parlamentar, eram amigos que viam na gente um canal forte para consolidar uma juventude sadia na cidade.

“Você não sabe o quanto é importante um cidadão ter um mandato e, acima de tudo, exercitá-lo em benefício da população”

Em todo ano eleitoral seu nome é lembrado como pré-candidato. Nunca quis voltar a ser vereador?

Eu sou apaixonado por política. Tem duas coisas que eu faço quando eu estou viajando: se é época de política e tem um comício na cidade, eu paro para ouvir, não quero nem saber quem é o partido ou o candidato. Outra é se tiver um baba às margens da rodovia, eu também paro para assistir. Mas, eu estou na política, continuo político, participo necessariamente, nunca precisei voltar a ser candidato, sempre tem os convites para participar mais uma vez a uma vaga no legislativo, sempre sou lembrado, isso me honra bastante, mas necessariamente, não preciso. A gente está incorporado à questão política, você não pode ficar muito tempo longe dela, até porque um partido político, um mandato parlamentar, lhe dá mais força para você brigar pelas coisas, que é uma coisa legítima, você não sabe o quanto é importante um cidadão ter um mandato e, acima de tudo, exercitá-lo em benefício da população.

Já que falou sobre a sua paixão pelo futebol, como você avalia os times de Conquista e o futebol amador?

Eu entendo que o principal canal para deixar o jovem distante da droga é o esporte, não estou fazendo um discurso repetitivo não, essa é a verdade. Primeiro porque o cara tem que estar bem de saúde, então ele não pode fumar, não pode beber, não pode usar droga e segundo que é um meio de se popularizar, de se destacar, o que todos nós gostamos, então chama a atenção da colega da escola, do amigo, então isso é interessante. Preparar uma cidade, dar condições para que a juventude exercite o seu esporte preferido é importantíssimo, é tão importante quanto edificar uma escola, preparar uma aguada, uma barragem, pavimentar uma rua. O esporte é importante, nada mais importante que um jovem ser saudável, então tem que criar mecanismos para que o esporte seja praticado e saber fazer uso dele, não simplesmente fazer a quadra e deixar lá para que a turma vá desordenadamente bater seu baba. Tem que ter monitores, professores, campeonatos, educar o jovem para que ele participe disso. O futebol amador precisa de muito incentivo, é a descoberta de futuros craques do futebol profissional.

“Eu sou apaixonado por futebol e acho que Conquista já merece ser campeão baiano”

E o nosso profissional?

Do futebol profissional eu tenho uma saudade imensa do Conquista da época de Zé Maria, porque era um timaço, eu inclusive participei, Conquista era respeitadíssima. O futebol profissional passou por momentos de turbulência administrativa, mas sempre defendido por pessoas interessadas em fazer o esporte, só que o esporte mudou muito e talvez as pessoas não acompanharam a profissionalização do esporte como uma empresa. O Conquista voltou forte, está organizado, o próprio Serrano também, são gestões empresariais. Hoje a coisa não é só o amor à camisa, é uma empresa mesmo. Visionários investem dinheiro para ganhar lá na frente com o surgimento de atletas, é lógico isso, é cabível. Eu só não acho legal quando o capital sobrepõe ao esporte como princípio de vida. Quando você vê a seleção, por exemplo, os atletas vão e às vezes para entrar em campo tem que discutir antes o bicho (a gratificação), não é mais o amor por defender sua pátria. O profissional nosso teve chance de ser campeão baiano, eu lamento que não tenha sido, por pequenos erros, que eu entendo, mas não é fácil dirigir. Eu desejo não só ao Serrano, mas ao Conquista, sucesso absoluto, a torcida adora, nós temos um estádio belíssimo, e o futebol é um elo para as pessoas, para unir os povos. Eu sou apaixonado por futebol e acho que Conquista já merece ser campeão baiano.

Quais as dificuldades para se produzir um evento em Conquista hoje em dia?

Conquista sempre teve vocação para festa. Todas as grandes festas que se fazem aqui, elas vingam. Hoje até temos produções demais em determinados momentos. As dificuldades de hoje é porque antes era tudo mais fácil, era tudo barato, não só o artista como a produção, hoje um som é caríssimo, a locação do espaço é caríssima, a mídia é cara e o ingresso continua no patamar de sempre, barato. Então para custear uma atração de renome é muito difícil. Às vezes, vem uma atração barata, mas o custo operacional é quase o mesmo, muda um pouco porque uma atração mais simples fica em um hotel mais simples, talvez não precisa do transporte aéreo, não precisa dos jatos fretados, mas a segurança tem que ser a mesma, e sobre isso podemos dizer que Conquista prima por cumprir, até porque as autoridades a partir do Corpo de Bombeiros, da Prefeitura Municipal, do Crea, da Polícia Militar, da Vara da Infância e Juventude, eles exigem mesmo que seja cumprido e nós temos correspondido e não é de agora não, não é por causa dessa tragédia em Santa Maria, agora isso nos alerta para sermos mais cuidadosos. Todos os eventos aqui são obrigado a ter o Corpo de Bombeiros, claro, isso é primário, é coisa que não se fazia porque se ignorava, mas hoje a cartilha que tem na cidade e eles cobram da gente, são coisas simples, a Vigilância Sanitária vai ver se os alimentos estão bem cuidados para servir ao público, se não for contratar brigadistas que são profissionais preparados para evitar um possível incêndio, ou se não for contratar a segurança particular e solicitar a Polícia Militar, então melhor não fazer o evento.

Sobre espaço, o Massicas nunca pensou em ter o seu próprio espaço para festas?

Não é fácil um espaço próprio. Primeiro que é preciso edificá-lo, e para isso é preciso ser dono de um bom terreno. Tudo isso é muito dinheiro. O Parque de Exposições nos atendeu durante muito tempo e vem nos atendendo ainda, embora com algumas limitações de datas, agora tem o Mira Flores, que para mim é o melhor espaço do Norte e Nordeste do país. Tem outros espaços para festas menores, de público mais direcionado, tem muitos espaços legais, que também atendem. Seria bom um espaço próprio, mas é preciso ter muito dinheiro para isso.

Conquista tem bons produtores de eventos?

Tem. São ousados produtores. Conquista cresceu muito. Antigamente resumia-se a Codó, que foi a pessoa que me inspirou, com quem eu comecei a trabalhar e fui aprendendo. Hoje a cidade é rica, não depende só de Massinha para fazer eventos. Hoje a cidade é uma expressão em termos de população e de pluralidade, em todos os cantos, inclusive de eventos, tem eventos alternativos, como os do Suíça Bahiana. A prefeitura despertou também para essa área com o Natal da Cidade. O bom é assim, quando se tem a capacidade de escolher, quando se é único, coloca em dúvida a sua capacidade e a sua competência. Você tem que ser avaliado.

E a atual produção musical?

É muito boa! Eu acho que deveria ter um super festival aqui para mostrar os talentos, dar visibilidade, transformar as coisas que parecem pequenas em coisas grandes, e que ninguém está inventando, é dar a oportunidade que merecem. Se pegar esses artistas da cidade e colocar em um super palco, com mega estrutura de som e iluminação, você fala assim: “eu vou lá assistir”, talvez você não se desperte pelo artista, mas pela produção, chega lá e descobre que o cara é fantástico.

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“Eu não abandono o axé, primeiro que eu acredito no movimento, foi quem me deu visibilidade em termos de produção e tenho uma parceria incrível com eles”

Sobre o mercado do axé music, existe decadência?

Não, não existe decadência. O carnaval de Salvador é a maior festa de rua do planeta, o axé é uma das coisas mais importantes que aconteceu no cenário musical, há distorções claro, mas criar um evento de massa que está há 30 anos em evidência… A MPB é uma coisa que te toca profundamente, pela qualidade das composições, pelas melodias, pela serenidade das músicas, é importante, não tenha dúvida. O axé invadiu, são trinta anos reinando, teve um momento, como agora, que parece que decaiu, não é que decaiu, é que ele acomodou um pouco e tinha outros movimentos, como o sertanejo, que já existia, mas foi inspirado inclusive no formato e no perfil do axé em termos de empreendedorismo, a turma foi ousada, fez grandes DVDs, grandes produções, tanto é que o sertanejo tem bloco, Jorge e Mateus, Gustavo Lima estão lá dentro do carnaval de Salvador. Foram ousados imitando o axé, inclusive na pegada, tem isso de “tira o pé do chão”, as festas de camisa… Não é que o axé caiu, é que o sertanejo veio forte, com estrutura econômica fortíssima, aparecem demais, as TVs investem e viu que o povo aderiu, aí você pensa que o axé sumiu, mas o Brasil é imenso, ele pode não estar aqui, mas está em outras partes. Eu não abandono o axé, primeiro que eu acredito no movimento, foi quem me deu na verdade visibilidade em termos de produção e tenho uma parceria incrível com eles, mas claro que eu posso fazer o sertanejo, fui o primeiro a trazer Vitor e Léo para o interior da Bahia, eu acreditei e trouxe, mas não por pensar que o axé estava caindo, o axé está caro, é o mercado, nós temos nomes fantásticos no axé que estão aí a muito tempo e que continuam.

“Feliz de quem tem a oportunidade de frequentar a escola, para poder escolher, não apenas em quem votar, mas o que comer, o que ouvir…”

Qual sua opinião sobre a chamada “lei anti-baixaria”, que proíbe o estado de contratar bandas que tenham músicas consideradas depreciativas?

O mercado é livre a partir do momento em que você está pagando, mas, quanto mais você for seleto na sua atividade diária, melhor. Se faz um show em ambiente pago tudo bem, agora o poder público financiar bandas que depreciam as minorias e a mulher eu acho ruim. O governo não tem apenas que contemplar um grupo seleto de intelectuais, ou pessoas que preferem um determinador ritmo, ele tem que contemplar a todos, porque eu não posso exigir que as pessoas que moram na periferia, as que não frequentaram a escola, ou que fizeram apenas de forma moderada, que não chegaram ao ambiente universitário, elas vivem no ambiente de simplicidade, quem canta a realidade dessas pessoas é o gueto, são os pagodes de lá, o funk e tal… Uma pessoa não pode curtir Caetano se nunca ouviu nada de Caetano, nunca leu sobre Caetano, Beto Guedes, Bethânia, Milton Nascimento… Aí é exigir demais! Feliz de quem tem a oportunidade de frequentar a escola, para poder escolher, não apenas em quem votar, mas o que comer, o que ouvir… Então, não exijam de todos as mesmas coisas. Não financiar a música que explora a mulher, que deprecia a mulher, está certíssimo, não pode pagar para colocar em praça pública. Mas o poder público tem que contemplar os vários segmentos, financiar para todo mundo.

Em recente entrevista, Zeca Pagodinho afirmou que o carnaval acabou faz tempo. Qual a sua opinião?

Eu precisaria entender qual o contexto.

Ele explica dizendo que se existe ainda é em Olinda, Recife…

Eu não vou questionar Zeca Pagodinho, é um propagador do samba, ganha muito dinheiro com a sua arte, eu bato palmas para quem é inteligente e que através da sua arte sustenta sua família de forma digna e confortável, mas o carnaval que ele defende e que ele é saudoso, talvez seja mesmo o de Recife, porque o cara brinca gratuitamente, mas o Zeca mesmo, ele não faz show de graça, ele sobrevive disso, ele tem que pagar os músicos dele, é o trabalho dele. Lá tem essa característica, mas não é só lá, aqui em Rio de Contas tem o carnaval de rua, em Ouro Preto e em outras cidades pelo Brasil afora, não é só o de Recife. Poderíamos brigar então, faça as duas coisas, Zeca pode ser um precursor disso aí, vamos dar visibilidade ao carnaval de rua, “eu vou em cima do trio gratuitamente”, olha que enriquecimento. Zeca defende o carnaval das antigas, que eu gosto também, e se eu for defender essa ideia eu faço sabendo que existe também o outro lado, que é quem quer o carnaval eletrizado.

É a ideia de se permitir sempre a escolha…

Isso. Tem que ter para os dois lados. É o que eu falo, o que a prefeitura não pode é financiar o Massicas para desfilar na rua, eu estou vendendo abadá, quem tem que financiar sou eu, ele tem é que possibilitar a rua, a festa popular tem que ser incentivada, eu acho que o carnaval de rua é outra vertente. O Zeca é saudosista, ele está certo quando fala isso porque ele lembra das marchinhas e tal, mas agora mudou, antigamente a gente queria a Rural, o Jeep, hoje a gente quer o Cherokee, o Camaro…  Alguns podem comprar, outros não. A vida é dinâmica. A modernidade só não pode atrapalhar aquela visão que todos nós temos, a do mundo fraterno, não o igualitário, que é impossível, é uma ilusão.

Como você lida com as críticas e as cobranças do seu público?

Quem não souber ser criticado, não participe do mundo. Fique dentro de casa, vá para um convento, obedeça a madre superiora e seus divinos ensinamentos, mas até na igreja existem as divergências entre os seguidores do cristianismo e de outras religiões. Eu recebo críticas e elas são naturais, uns porque identificam as críticas verdadeiramente, outros porque as fazem só por criticar e outros por ignorar. Quem não souber ouvir as críticas e observações, se estrepa, ai de quem viver cercado só de “puxas-saco”, de pessoas que se curvam e dizem amém e que ouvem obedientemente aquilo que você fala. Eu confesso, o Massicas continua até hoje com um grande grau de aceitação na cidade e no Estado porque a gente ouviu muito, construiu, ousou, agora longe de mim achar que eu não mereço crítica.

Me permita desfazer dois mitos sobre o Massicas:

1) O Chiclete com Banana é sócio do Massicas?

Rapaz, eu vou ligar pra Bell (Marques) e dizer, “Bell, faça isso” (risos). Seria muito honroso para mim ter um sócio como o Bell, trata-se de um dos maiores artistas e empresários da música nacional, é uma grande figura, um vencedor, tanto que está enveredando seus dois filhos, Rafa e Pipo, pelo caminho da música, com o mesmo rigor que ele atua no Chiclete ele cobra essa disciplina dos seus filhos. O Chiclete com Banana é um fenômeno e para mim seria honroso. Eu queria muito, ele é sim um parceiro.

2) Existe contrato de exclusividade com artistas como Chiclete e Ivete?

Não. Essa é uma relação natural. Você foi o primeiro a trazer ou talvez um trouxe primeiro e não deu segmento, aí você constrói essa relação. Muita gente tem os contratos, eu não vou assinar contrato com Ivete ou com o Chiclete dizendo que são exclusivos. Isso é um entendimento natural. O silêncio é tão marcante quanto a assinatura e o registro no cartório de um contrato. Não tenho nada disso, eu venho trazendo sempre. Chiclete vai fazer 21 anos que eu trago, Ivete vai completar 20. Então, não tem isso. É que eu acreditei neles, como acreditei no Asa de Águia, em Daniela Mercury, na Timbalada, em Netinho, no Cheiro de Amor, na banda Eva, acreditei desde o início, é natural que continuem conosco.

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