Em 2011, o então secretário de cultura da Paraíba, o cantor Chico César, polemizou ao decidir que o Estado não apoiaria a participação de bandas que ele chamou de “forró de plástico” nos festejos juninos daquele ano. Na sua justificativa, em nota oficial, o secretário explicou que cabe ao Estado apoiar artistas menos populares. “Não faz muito tempo vaiaram Sivuca em festa junina paga com dinheiro público aqui na Paraíba porque ele, já velhinho, tocava sanfona em vez de teclado e não tinha moças seminuas dançando em seu palco”, escreveu.
Lá na Paraíba, a decisão de Chico César visava a valorização do tradicional. Chico reconheceu que, como agente público, caberia a ele sustentar essa bandeira, em prol das raízes nordestinas e da valorização da própria cultura. No entanto, muitas das festas juninas pelo Nordeste brasileiro, promovidas por prefeituras, tem entre as suas atrações essas bandas.
Aqui na Bahia, algumas cidades cancelaram ou tiveram que reduzir os investimentos para as festas por conta da seca. Mas, por outro lado, algumas cidades estão promovendo festas milionárias com bandas do tal “forró de plástico” e até mesmo com axé, pagode e sertanejo.
O que vemos hoje é uma descaracterização dos festejos juninos com o apoio do poder público, que deveria promover atividades culturais visando a educação e a formação de plateias para a arte brasileira e nordestina. É lamentável constatar que o “interesse do público” tenha superado o que de fato é “interesse público”. E, o pior: com o aval do Estado.
Para comprovação dos fatos, números:
1) O governo da Bahia destinou R$ 3,75 milhões para 77 municípios através de convênio com a secretaria de Turismo para promoção das festas juninas. Cidades como Jequié, Santo Antonio de Jesus e Amargosa receberão R$ 120 mil, cada.
2) SANTO ANTONIO DE JESUS – Em 16 de maio, o prefeito da cidade disse que o investimento já passava de R$ 2 milhões. Segundo informações que circulam na cidade, a festa custará R$ 4 milhões. No Diário Oficial Eletrônico não há publicação sobre os contratos com as bandas. Entre elas, estão o pagodeiro Thiaguinho, o sertanejo Gustavo Lima, as bandas baianas Chiclete com Banana e Harmonia do Samba, e os grupos Aviões do Forró e Calypso.
3) CRUZ DAS ALMAS – A administração da cidade não fez contrato diretamente com os artistas, terceirizou o serviço com oito empresas diferentes e vai gastar no total R$ 940.870 com Aviões do Forró, Bruno e Marrone, João Lucas e Marcelo e outros.
4) CACHÊS – O cachê da banda Aviões do Forró é de R$ 250.000, de acordo os contratos fechados com as prefeituras de Amargosa, Porto Seguro e Jequié.
Em Eunápolis e Porto Seguro, os sertanejos receberão verdadeiras boladas para se apresentar nos festejos.
Eunápolis
– Luan Santana: R$ 293.500
– Fernando e Sorocaba: R$ 273.500
– Zezé di Camargo e Luciano: R$ 268.600
– Daniel: R$ 190.000
– Cavaleiros do Forró: R$ 108.500
– Saia Rodada: R$ 108.500
Porto Seguro
– Jorge e Mateus: R$ 450.000
– Gustavo Lima: R$ 350.000
– Aviões do Forró: R$ 250.000