O baiano Divaldo Franco é um dos mais renomados oradores da doutrina espírita. Médium respeitado em todo o mundo, ele sempre faz parte das programações da Semana Espírita de Vitória da Conquista, que este ano chegou à 59ª edição. Divaldo já realizou mais de 13 mil conferências, já visitou mais de duas mil cidades brasileiras e 65 países. Como médium, publicou mais de 250 livros, somando mais de oito milhões de exemplares e traduzidos para 17 línguas. A renda proveniente da venda dessas obras, bem como os direitos autorais foram doados à Mansão do Caminho* e a outras entidades filantrópicas.
Em Vitória da Conquista, onde já recebeu o título de cidadão, Divaldo é um dos palestrantes mais aguardados. A União Espírita da cidade deu o seu nome ao Centro de Convenções da instituição e, este ano, inaugurou um busto em sua homenagem e instalado no espaço. Em entrevista ao Conversa de Balcão, Divaldo considera a relação de anos com a cidade rica de ternura.
A sua trajetória é impressionante, são 65 dos seus 85 anos dedicados ao espiritismo. E até hoje percorre o Brasil inteiro e todos os continentes para conferências e demonstra vitalidade e vontade ao estar nos lugares. O senhor já pensou em parar ou diminuir o ritmo e de onde vem a força que o move?
Todas as criaturas humanas têm perguntas, conflitos e ansiedades. O espiritismo é uma ciência que confirma a sobrevivência da alma à morte, o intercâmbio das criaturas humanas à encarnação. O espiritismo é uma filosofia muito rica e como consequencia inevitável em encontro entusiasmo nos próprios conteúdos doutrinários. Para ser honesto eu nunca tive qualquer dúvida, qualquer momento de menos alegria. Muitas lutas, porque numa vida longa as dificuldades são muito grandes, mas sempre encarei as lutas como parte da própria jornada e isso sempre me dá impulso para continuar adiante. Hoje, com a idade avançada, eu me sinto muito bem, porque o espiritismo me ensinou a vencer os vícios, não apenas aqueles vícios tradicionais como o tabaco, o álcool, as drogas, o sexo desvairado, como também os vícios mentais e morais, falar mal do próximo, guardar ressentimento, que não encontraram até hoje no meu coração guarida. A pessoa que guarda ressentimentos, que se entrega aos distúrbios emocionais e morais, está conspirando contra si mesmo, porque eles infelicitam, a princípio, que os cultiva e liberta quem deles se afasta.
É possível dizer em qual estágio está a evolução da humanidade?
Segundo a doutrina espírita vivemos um momento da grande transição planetária, em que a nossa evolução, facultando no discernimento da razão, ainda não nos liberou dos instintos da agressividade e das heranças do primarismo evolutivo. Dizemos que hoje é o ‘homo sapiens-sapiens”, mas estamos caminhando para o “homo virtualis” graças à tecnologia de ponta, mas o homem do futuro será o homem psíquico, que entrará em contato com as demais criaturas através do pensamento. A evolução é considerável do ponto de vista da ciência e da tecnologia, mas do ponto de vista moral ainda estamos engatinhando, porque vivemos o período do desrespeito à ética e aos valores constituídos, sem havermos encontrado a plenitude, nem a paz.
Segundo o espiritismo, qual a explicação para tantos problemas sociais?
Como nem todos os espíritos são criados no mesmo momento, há uma graduação evolutiva e muitas vezes aqueles que desenvolveram a inteligência e não o sentimento, utilizam-se do conhecimento para escravizar, submeter e cometer as injustiças sociais – isso faz parte de um mundo de transição e de um período em que vivemos agarrados ao ego, mas logo mais estaremos transitando para o ser que nós somos, então a solidariedade, o amor, a caridade e a compaixão tomarão conta das criaturas e não experimentaremos mais injustiças sociais.

Este ano o senhor foi homenageado com um busto, instalado aqui no Centro de Convenções que leva o seu nome, como é essa relação com Vitória da Conquista?
Eu venho a Vitória da Conquista há mais de 50 anos, desde muito jovem, e participei de algumas das primeiras semanas espíritas, então os nossos vínculos são muito profundos. Ademais, em Vitória da Conquista esteve um grande semeador da doutrina espírita, que foi José da Costa Freitas, esse homem, que na época era um jovem de 31 anos, em 1947, esteve conosco em Salvador e foi o estimulador para que criássemos o Centro Espírita Caminho da Redenção. Então o nosso envolvimento é muito profundo e muito rico de ternura, por causa dos seus filhos que sempre nos receberam muito bem e pelo nosso profundo afeto de conviver com a mentalidade livre e absolutamente dedicada à causa do bem.
Como é o trabalho social na Mansão do Caminho?
A nossa experiência na Mansão do Caminho é muito grande, porque hoje não apenas atendemos às crianças na educação, mas iniciamos o atendimento quando a mulher está gestante. Fazemos o pré-natal, depois o parto natural na própria instituição, as crianças necessitadas vão para a creche, depois fazem a alfabetização, depois o fundamental, posteriormente a profissionalização e artes. Mas em todo o conjunto de atendimento à família, atendemos a aproximadamente 300 famílias com cestas básicas, 90 soro positivo HIV, pessoas portadoras de hanseníase, de tuberculose. É uma comunidade cristã que se dedica a contribuir em favor do bem-estar da sociedade, é uma herança que deixaremos para a posteridade para demonstrar a força do amor, que nós podemos realizar tudo quanto é digno e elevado sob as bênçãos de Jesus.

*Instituição social de apoio à crianças e famílias da capital baiana fundada em 1952 por Divaldo e Nilson de Souza Pereira.