Quando terminei de assistir, a minha vontade foi colocar a fita embaixo do braço e sair exibindo esse filme por aí. Na casa dos amigos, dos parentes, na porta das escolas, nas praças, em toda parte onde ainda tem resquícios da última eleição presidencial – e eleitores do senhor eleito. Mas, como não é uma fita (talvez alguns nem entendam o que eu quis dizer), está mais fácil: abra o seu Netflix e procure por “Democracia em vertigem”.
Simples, dinâmico, reflexivo e didático, o documentário de Petra Costa, que não teve medo de assumir um lado, é real e necessário. Você precisa assistir. Sério! Não estou dizendo que você precisa assumir o lado da diretora, estou dizendo apenas que você deveria assisti-lo. Caso não queira, lamento por sua teimosia. #paz
O acesso extraordinário que Petra teve, inclusive à ex-presidente Dilma, já serve de uma boa motivação. Os bastidores da votação do impeachment, a tensão e as reações da presidenta retratam um momento surreal da política brasileira. O que acontecia dentro do Sindicato dos Metalúrgicos, em São Bernardo, no dia da prisão do ex-presidente Lula, também está no filme.
Caso queira outro motivo para assistir ao longa: nesta semana, o New York Times divulgou uma lista com os melhores filmes de 2019 até agora. “Democracia em Vertigem” foi um dos selecionados. De acordo com o jornal americano, o filme “analisa a política brasileira — dois presidentes recentes em desgraça, o atual inclinando ao autoritarismo — a partir do ponto de vista indignado da cineasta.
A lista também cita um trecho da crítica assinada pelo jornalista A.O. Scott. Para ele, o documentário brasileiro é “uma crônica da traição cívica e do abuso de poder, e também da mágoa.
Parcialmente financiado e distribuído pela Netflix, o filme chegou à plataforma de streaming no último dia 19 de junho. Nos Estados Unidos, está disponível tanto pela internet quanto em salas de cinema.
Sobre Petra – Neta de um dos fundadores da empreiteira Andrade Gutierrez e filha de dois militantes de esquerda presos durante a ditadura militar (1964-1985), ela votou em Lula no pleito que o elegeu, se decepcionou com as alianças feitas durante os governos petistas e se chocou com a vitória de Jair Bolsonaro no ano passado. “Eu não sabia, antes de começar o filme, que era tão sofrido perder um projeto de país. O trauma e a dor da minha relação com a democracia foram meu guia nesse filme”, disse Petra em entrevista à Folha.