Vivemos em uma sociedade que vem construindo historicamente muitas de suas relações sociais alicerçadas pelo uso de diversas formas de violência. Hoje, nos percebemos enquanto herdeiros dessa história e ao mesmo tempo responsáveis por contribuir para sua mudança efetiva. Deparamo-nos com um cenário que já acumula muitos séculos de sofrimento humano e que desafia nossa capacidade de (re) ligação com nossa condição colaborativa e coletiva de atuar no mundo.

A Comunicação Não-Violenta (CNV) é um processo conhecido por nos apoiar no diálogo com a lógica de punição e retribuição estabelecendo, como descreveu Gandhi, relações de poder com os outros ao invés de sobre ou sob eles. Ela facilita a conexão entre indivíduos ou grupos em conflito e aprimora a comunicação entre parceiros de qualquer atividade, inspirando a ação compassiva.

De fato, os conflitos são parte inerente das relações humanas. Porém, de maneira geral, o valor que atribuímos a eles na sociedade ocidental moderna reflete uma perspectiva negativa que assume como resposta mais comum a negação, a coerção ou a punição dos envolvidos. Carregamos a idéia de que para resolver um conflito uma das partes necessariamente tem que perder e com isso reforçamos o uso da força como estratégia para gerenciá-los.

A CNV funciona como um caminho de mediação para conflitos de diversas naturezas. Na dimensão ambiental, conhecemos inúmeros conflitos socioambientais que criam atritos entre os objetivos desenvolvimentistas e conservacionistas. A CNV como mediação de conflitos pode contribuir para estabelecer canais de diálogo em contextos conflituosos desta ordem.

Assim, ela vem sendo usada para viabilização do diálogo aonde ele não acontece, conectando as pessoas a partir das necessidades que apresentam. Quando percebemos que toda violência é uma expressão trágica de uma necessidade não atendida podemos criar espaço para que um caminho de conciliação seja possível reforçando nossa habilidade de, em parceria, resolvermos nossas diferenças com respeito e consideração.

Hoje, a CNV vem sendo praticada por um crescente número de pessoas que desejam intervir e agir com meios práticos e eficazes para uma transição da cultura de violência para uma cultura humana mais pacífica. Em escolas, a CNV é reconhecida pelo Ministério de Educação da Itália. Em Israel faz parte do programa do Ministério de Educação pela prevenção de violência e é aplicada em creches. Na Inglaterra, nos Estados Unidos, na Dinamarca e outras países é cada vez mais adotada, desde a educação infantil até universidades, e, em parceria com a UNICEF, na Sérvia, está presente em todas as escolas de segundo grau.

Em penitenciárias na Suécia, nos Estados Unidos e no Reino Unido a CNV faz parte de programas para presos e guardas, e é cada vez mais utilizada no processo da reintegração de ex-presos. Psicólogos e agentes comunitários usam a CNV em reconciliação e no processo de recuperação depois de traumas e dependência.

Na gestão pública de governos federais, estaduais e municipais a CNV é empregada em vários países, tanto na comunicação interna como em projetos com o público. Grupos religiosos aprendem, ensinam e mediam disputas usando a CNV, em comunidades cristãs, muçulmanas, budistas e judeus.

A CNV é também usada na área de saúde por médicos, enfermeiros e administradores como potente recurso no processo de re-humanização do setor. No mundo empresarial a CNV abre o caminho para inovações em equipes, em relações públicas, atendimento de clientes, e programas de gestão pacífica, tanto interna às organizações quanto em suas intervenções sociais.

Indivíduos e grupos usam a CNV na mediação de conflitos em algumas das áreas mais violentas do mundo, muitas vezes evitando a atenção da mídia. Grupos agindo para justiça humana e ambiental incluem a CNV na sua metodologia interna e nos seus projetos em mais que 65 países.

No Brasil, o Ministério de Justiça, secretarias de educação e a UNESCO escolheram a modalidade dos Círculos Restaurativos, como aplicação social da Comunicação Não-Violenta para projetos de Justiça Restaurativa e de capacitação de agentes de mudança social em 8 estados.

Talvez, mais potente de que tudo isso, cidadãos usam a CNV como um guia nas suas vidas familiares e comunitárias, fornecendo as condições necessárias para que diferenças sejam respeitadas e recursos compartilhados de forma mais pacífica.

Para saber mais sobre a CNV, recomenda-se o livro de Marshall Rosenberg, “Comunicação Não-Violenta”, indicado por William Ury, Riane Eisler, Leonardo Boff, Arun Gandhi, John Gray, Pierre Weil, Deepak Chopra, entre outros, e traduzido em dezenove idiomas. No Brasil, é publicado pela Editora Ágora de SP.

Texto do blog redecnvbrasil.blogspot.com.br

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