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A segunda edição do Festival da Juventude colocou no palco principal a cantora Tulipa Ruiz, na sexta (10), e o cantor Otto, no sábado (11). Os dois são artistas independentes – aqueles que não pertencem a uma determinada gravadora e que não contam, portanto, com uma mega estrutura para divulgação e vendas dos seus álbuns. O caminho seguido por eles, no entanto, não atrapalha a carreira desses nomes, que chegaram à praça Barão do Rio Branco e fizeram seus shows com direito a coro e muitos aplausos.

TULIPA – A cada novo acorde, o público reconhecia a canção que era introduzida pela cantora Tulipa Ruiz durante o seu show. A praça estava tomada por jovens, quando ela subiu ao palco. Uma das revelações da MPB nos últimos anos, a cantora despontou após compartilhar suas músicas na internet – o que faz até hoje. Taí um dos motivos para “Só sei dançar com você”, “Desinibida”, “Da maior importância”, “Do amor” e “A ordem das árvores” estarem na boca da galera. Esta última foi improvisada em parceria com Otto, que estava no backstage e acompanhava o show, mas que só subiria ao palco no dia seguinte.

De 2009 para cá, quando iniciou sua carreira profissional, Tulipa gravou dois discos, “Efêmera” (2010) e “Tudo Tanto” (2012), e não tem pressa para lançar um novo, pelo contrário, ainda comemora o mais recente: “a rapidez das coisas não me assusta tanto, meu primeiro disco se chama ‘Efêmera’ justamente para discutir isso tudo e vou desfrutar totalmente do meu último disco, até o último segundo. Eu gosto de acreditar que as coisas não são tão perecíveis assim. ‘Tudo Tanto’ está sendo muito bem recebido e já me levou ao Japão, a vários lugares do Brasil e vamos fazer turnê na Europa e nos Estados Unidos”.

Tulipa recebeu Otto para uma parceria improvisada - ao fundo o pai-guitarrista
Tulipa recebeu Otto para uma parceria improvisada – ao fundo o pai-guitarrista

EM FAMÍLIA – O pai da cantora Tulipa Ruiz, Luiz Chagas, é jornalista, crítico musical, e guitarrista – hoje, o guitarrista da filha. “A Tulipa chegou para mim em 2008 e falou que queria largar tudo e cantar, daí eu achei legal e falei: ‘papai faz umas musiquinhas pra você’, ela falou: ‘eu já tenho as músicas’, que são as do disco ‘Efêmera’. Então, eu só dei apoio, não fui eu que fiz isso, é tudo deles (se referindo a ela e ao filho Gustavo, que é diretor musical da irmã), eles sempre foram muito talentosos e hoje eu sou apenas um guitarrista, assalariado, com direito a penalidades, broncas e tudo mais”, explica o pai coruja assumido: “eu sou um puta fã, é um negócio que me surpreende, a Tulipa aparece com coisas que são demais e a gente (ele e o filho) tem que ir atrás”.

Sobre o caminho da independência, o veterano esclarece: “hoje não tem mais a indústria fonográfica, antes o artista era independente porque era rebelde, era contra, hoje é porque o que a indústria oferece não é suficiente, não está à altura”.

Foto: Lucas Dantas / O Rebucetê
Foto: Lucas Dantas / O Rebucetê

SAM_3075 copyOTTO – Salsas e atabaques estavam no palco com o pernambucano Otto em uma mistura de Cuba com a Bahia. Preparando o terreiro, o cantor entrou cantando “Exu Parade” e chamou o público para a festa, que teve um diversificado repertório. À suas músicas ele uniu Reginaldo Rossi, Odair José, Chorão (Charlie Brown Jr.), Olodum e lembrou o manguebeat de Chico Science e a embolada de Jackson do Pandeiro, além da Mundo Livre S/A, banda da qual participou como percussionista. Saiu das matrizes africanas para a caatinga de Elomar, citou Antonio Conselheiro e falou de Glauber Rocha.

Entregue, ele confessou que se divertia, “estou adorando fazer este show aqui em Vitória da Conquista”. À vontade, com uma conta verde no pescoço, Otto tomava goles de um copo descartável e tragava os cigarros que os músicos da sua banda acendiam. Jogava os copos de água mineral sobre a própria cabeça até que tirou a camisa, torceu e vestiu de novo, dançava com um rebolado que tentava alguma sensualidade. Saiu do palco após cantar “6 minutos”, comemorando a diversidade: “eu gosto é desse caldeirão, um ensopado de gente de toda cor e idade”, exclamou.

Fotos: Ailton Fernandes.

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