No dia da ceia de Natal, a praça que recebeu milhares de pessoas nos últimos dias estava esvaziada. O palco do Natal da Cidade receberia a cantora Geisiane, o cantor Papalo Monteiro e a portuguesa Susana Travassos com o violonista Chico Saraiva. As apresentações começaram mais cedo neste 24 de dezembro, quando não passava de cem o número de presentes na praça Barão do Rio Branco.

Para Geisiane o pequeno público não foi problema. Ela entrou e cumpriu o seu papel. Terceiro lugar do concurso “Por Isso É Que Eu canto”, a jovem de 14 anos ainda não domina a imensidão de um palco como aquele, mas sua voz compensa e preenche todo aquele universo pouco desbravado por ela. “O que eu mais queria era mostrar o meu talento, queria que as pessoas me vissem cantar. Foi a minha primeira vez num palco grande desse e foi muito bom”, comemorou após a apresentação.

Foto: Secom PMVC/Arthur Garcia
Foto: Secom PMVC/Arthur Garcia

A jovem da Lagoa das Flores começou a cantar nas igrejas e aos poucos foi descobrindo a música. “Eu nem sei o que me fez a começar a cantar, descobri a música sozinha e fui cantando”, diz ela que cantou sucessos da MPB, dos quais ela diz gostar muito, e também a canção “Da Saudade”, de Carlos Barros.

Ao deixar o palco, a iniciante deu espaço para um veterano cantor, também da cidade, assim como ela. Papalo Monteiro mostrou ao público o seu novo trabalho, mas a experiência o fez iniciar a apresentação com a sua composição mais marcante. Com “Pau de atiradeira” estava anunciado quem estava se apresentando e o público foi aos poucos ganhando mais corpo para assistir à “Bossa Embolada”, título do show.

Fotos e texto: Ailton Fernandes

“É uma novidade, o show é do meu quarto cd, que ainda estou gravando. E existe um contexto: ele é um encontro imaginário entre a bossa nova e o coco de embolada”, explica o músico, cantor e compositor, que faz pela primeira um trabalho com a evidência da influência da bossa nova. “Será uma novidade para mim também”, diz ele, que nem se lembra há quanto tempo está na estrada, muito menos quantas vezes já se apresentou no palco do Natal da Cidade.

“Esse evento valoriza o artista regional, a gente fica super honrado em participar junto com artistas de uma grade como essa, mas acredito que poderia haver uma valorização bem maior. Os artistas conquistenses poderiam ser convidados ao invés de concorrer, claro que tem a democracia quando todos podem se inscrever, mas alguns bons artistas acabam ficando de fora”, destaca ele ao avaliar o evento.

Além das novas canções, Papalo incluiu entre uma música e outra trechos de músicas de Tom Jobim e João Gilberto e surpreendeu ao cantar “A Cidade”, de Chico Science.

SUSANA TRAVASSOS – “Ela é maravilhosa e conhece tudo da cultura popular brasileira, sobretudo da nordestina. A data de hoje é de uma certa forma prejudicada, mas quem ficar para assisti-la só tem a ganhar”, assim o empresário Nadinho Rocha, entusiasta da cantora Susana Travassos, justificou sua animação enquanto aguardava o início da apresentação da portuguesa.

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Susana subiu ao palco com o violonista e compositor Chico Saraiva, de quem ela é parceira musical há quatro anos. A plateia para a sua apresentação já tinha aumentado um pouco, mas nada parecido com a multidão que foi conferir shows como o de Nando Reis e Maria Gadú. Boa parte das pessoas que estavam ali não conheciam a cantora que acabava de iniciar sua apresentação.

“Ela é uma grande cantora portuguesa que vem traçando um importante trabalho de costura entre a música brasileira e a música portuguesa já há um tempo com essa trajetória, entre as duas culturas”, diz o violonista, que conheceu Susana na época que ela veio ao Brasil por conta do seu primeiro trabalho, o disco “Oi Elis”, dedicado à cantora Elis Regina. “Eu sou um dos compositores brasileiros que desenvolve um trabalho com certa introspecção e meus discos têm esse traço, ela sentiu isso e ela tem isso, como uma intérprete, muito poderoso”, fala ele sobre a proximidade entre os dois.

Da parceria nasceu o disco recém-lançado, “Tejo-Tietê”, composto por 12 canções, sete assinadas pelo Chico. “Quando nos conhecemos, ela cantou algumas músicas minhas e a gente sentiu uma afinidade e desenvolveu um trabalho a partir daí com um repertório com minhas músicas e de grandes mestres , de lá de Portugal e daqui do Brasil, então a gente desenvolveu o disco”, relata ele.

O repertório apresentado no palco do Natal da Cidade é do novo álbum, que tem composições do português Carlos Paredes, do brasileiro Villa-Lobos e do conquistense Elomar, quem eles conheceram pessoalmente durante a passagem pela cidade. “Passamos a noite na Casa dos Carneiros. Foi um dia mágico com o mestre Elomar, foi muito especial pra gente, até por ser Natal, e foi uma honra muito grande encontrar ele que é para mim e para tanta gente uma das principais referências musicais”, comemorou Chico.

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“O Elomar foi uma descoberta incrível, estou encantada com ele, com a obra e com a pessoa, acho fascinante mesmo”, disse a cantora, que está sempre tentando encontrar relação entre as músicas do Brasil e de Portugal para o seu trabalho. “Quando vim ao Brasil e conheci mais a fundo a musica brasileira e os compositores, como é o caso do Chico Saraiva, me fez pensar a traçar um caminho que ficou constante desde 2009 até agora, e esta tem sido a minha vida, cantar música portuguesa ou brasileira, mas sempre tentando encontrar o elo entre as duas culturas. Para mim, no momento em que eu canto uma musica brasileira é como se ela fosse portuguesa”, diz.

susana2Sobre a parceria com o Chico, ela diz: “a primeira e única preocupação dele é com a música. Nosso encontro foi muito importante para mim enquanto cantora por poder dar voz a músicas que acabara de nascer, até então eu cantava músicas que outras intérpretes já tinham gravado, e isso me fez aproximar cada vez mais da minha individualidade enquanto interprete. Ele é um violonista incrível, acho que estou bem acompanhada”.

Susana canta desde 2007, quando deixou de seguir a carreira de psicóloga para se dedicar à música, que estava sempre presente em sua vida desde cedo. “Estudei acordeon, piano, canto, primeiro clássico depois passei para o jazz, foi sempre uma formação paralela à formação acadêmica”, conta a portuguesa que está sempre no Brasil. “Esse ano já vim cinco ou seis vezes e aos poucos vamos trabalhando bastante”, ri.

A noite foi de celebração, entre amigos, desconhecidos e a música, seja ela feita por iniciantes ou veteranos, seja ela brasileira ou portuguesa.

Hoje, na noite de encerramento do Natal da Cidade se apresentam Vivaldo Bonfim, Renato Braz e Luiz Caldas, a partir das 19:30.

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