Noite fria, neblina fina e vento de assustar qualquer visitante. “Frio da p*!” – diz o cantor Saulo Fernandes, no palco do Massicas Indoor, pouco depois das 23 horas deste sábado, 10. O cantor foi o primeiro a subir no palco da décima edição da festa que nasceu quando a Miconquista começava a declinar, com cada vez menos blocos nas ruas.
Saulo apresentou o show do seu DVD ao vivo, iniciando com um dos sucessos do último carnaval, “Raiz de Todo Bem”. Totalmente entregue, Saulo abriu a festa com um show cheio de energia, levado principalmente pelas batidas da percussão.
“Todas as vertentes de tambor nos interessa muito, essas coisas são sotaques da gente, eu quero que a minha música seja cada vez mais sotaqueada para que as pessoas identifiquem cada vez mais de onde eu vim”, fala o cantor sobre a pegada mais afro. Sobre a energia que extrapola quando está no palco, ele tenta explicar: “eu sou completamente banal fora do palco, completamente sem graça. Algo acontece no palco, eu não estou sozinho, no palco tem incorporações e coisas que só a música me leva a isso, é uma entrega, eu desço, quase caio, mas prefiro assim que ser morno e não fazer jus à glória de ser músico”.
O cantor, ex-banda Eva, está há um pouco de mais de um ano na estrada com a carreira solo. “É tudo novo de novo. O recomeço é diário, tem que matar um leão por dia mesmo, o jogo nunca está ganho. A luta é o tempo inteiro de reafirmação de coisas”
O ex-Chiclete com Banana, Bell Marques, também se apresentou no Indoor e também está recomeçando. Parceiro de longa data do Massicas, Bell fez a sua primeira apresentação solo na cidade com sucessos eternizados pela banda e músicas do novo disco, “Vumbora”.
“As pessoas acham que por já ser uma carreira consolidada, dali para a frente é só dá um estralo de dedos e tudo vai acontecer. Mas, é um recomeço, e todo recomeço é difícil, é uma reconquista, porque todos esses fãs que estão lá fora não sabem o que eu vou cantar, o que espera por eles, de que forma eles vão me ver, porque estão acostumados por enxergar um único grupo por 30 e tantos anos, agora é um novo formato, um novo estilo, um novo conceito, é necessária, agora, essa reconquista”, afirma Bell, antes da apresentação. “Mas, Conquista eu já tenho uma segurança maior porque fiz bons amigos aqui”, completa.
O cantor foi a terceira apresentação da noite, antes dele, os filhos Rafa e Pipo, da banda Oito7Nove4, se apresentaram na festa, cantando, principalmente, músicas do repertório do pai.
“Ser filho de Bell é uma responsabilidade que já é natural hoje em dia, mas é um peso que a gente carrega porque a gente sofre a comparação. Meu pai tem bem mais história, então procuramos trabalhar ao máximo para suprir e agradar a esses comentários, que são bons porque nos dão essa responsabilidade de trabalhar cada vez mais, acaba sendo um tipo de controle de qualidade”, diz o guitarrista Pipo.
O vocalista Rafa diz o que gostam de copiar do pai: “o estilo de ser, ele é o nosso ídolo não só na carreira artística, mas como pessoa. O exemplo de família, de união, de respeito ao público, de cuidado e carinho, tudo isso a gente gosta de copiar realmente, o resto nós buscamos só como inspiração mesmo”.

A Oito7Nove4 ainda cantou funk, pagode e até o arrocha da banda conquistense Polentinha. Apesar do frio, que sempre estava entre as atrações da Miconquista, o público resistiu explodindo de alegria, acompanhando as músicas, dançando, pulando e vibrando com as atrações – uma espécie de revival daqueles tempos que não voltam mais.