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O Ministério da Cultura divulgou nesta sexta-feira (20) que o filme “O som ao redor” vai ser o representante do Brasil na disputa pelo Oscar 2014 na categoria melhor filme estrangeiro. A seleção final dos filmes que vão concorrer será definida pela organização do Oscar. “O Som ao Redor” é o primeiro longa de ficção do crítico e cineasta pernambucano Kléber Mendonça Filho. Na obra, são retratadas as tensões e contradições sociais do Brasil. A trama se passa na cidade do Recife.

Leia abaixo a crítica do jornalista conquistense Rafael Carvalho sobre o longa, publicada originalmente no site Coisa de Cinema, em janeiro desse ano.

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O Som ao Redor é para não se perder de vista nesse início de ano. Quem não viu o filme que já correu diversos festivais, fora e dentro do Brasil, arregimentando diversos prêmios, como as láureas principais no Festival do Rio, na Mostra Internacional de São Paulo e no Panorama Coisa de Cinema, além de figurar na lista de melhores do ano passado do The New York Times, não deve perder a oportunidade de conferi-lo nos cinemas.

Quem já assistiu só se derrama em elogios, em um raro caso de quase unanimidade sobre as qualidades únicas da obra em meio à produção brasileira recente, o que não deixa de ser um problema pela grande expectativa que gera. Soma-se a isso o fato de ter na direção um dos críticos de cinema mais interessantes e perspicazes de sua geração, dono de uma carreira como curta-metragista também muito interessante.

E o filme consegue crescer facilmente numa revisão, que ajuda bastante a perceber a complexidade das inter-relações sociogeográficas que desenha. Antes da sessão na Mostra SP, o diretor Kleber Mendonça Filho apresentou o filme como sendo sobre o Brasil. A afirmação pode parecer um tanto pretensiosa e mesmo genérica, mas vendo o filme isso se torna bastante claro. Porque o bairro de classe média em Recife de onde se pinça determinados personagens funciona como um microcosmo brasileiro, primeiro das relações interpessoais que se confrontam ali, mas também, e em maior escala, da representação de uma sociedade que esconde muito de podridão.

No fundo, em estrutura, O Som ao Redor é um filme muito simples ao construir seu mosaico de personagens, sem arroubos estéticos, mas muito bem filmado e enquadrado, sem maneirismos. Por isso é tão bom de acompanhar e suas pouco mais de duas horas de duração nunca chegam a incomodar, isso porque todos os personagens e histórias ali são interessantes como estudo de uma sociedade marcada de hipocrisias. Não pressa em acompanhar o cotidiano daquelas pessoas, nem agressividade na forma de alfinetá-los, daí o carinho que o filme transparece sobre todos.

Somente algumas cenas aleatórias (como o pesadelo da menina, o banho na cachoeira) soam caprichosas demais, ou mesmo desnecessárias, como que buscando um impacto pela força de suas. Ou o jovem casal de namorados e a cena dos passos no assoalho quando personagens estão no andar de baixo. São gorduras que o filme podia evitar. Mesmo assim, não chega a atrapalhar o todo coeso e bem montado, maior que a soma de suas pequenas partes.

Isso porque impressiona a quantidade de questões que o diretor consegue expor com tanta sutileza e acidez, por vezes acrescidas de pitadas de humor rápido e inteligente, equilibrando o filme entre o cômico e o trágico. Das friezas da vida urbana, tema tão caro ao cinema pernambucano recente, à questão da violência, falta de segurança, especulação imobiliária, até os ecos do coronelismo latifundiário (que remete especialmente às raízes históricas do Nordeste, como evidenciam as imagens que abrem o filme), O Som ao Redor consegue fazer um estudo pontual de tudo isso sem soar pretensioso.

Tudo isso está lá distribuído entre os personagens, na dona de casa (Maeve Jinkings) que compra maconha do entregador de água e libera seus desejos sexuais com a máquina de lavar (ideia chupada de Eletrodoméstica, curta anterior do cineasta); no poderoso e prepotente patriarca da família Oliveira (W. J. Solha), dono da maioria das casas do bairro, um verdadeiro coronel; em um de seus netos (Yuri Holanda), um ladrãozinho vagabundo protegido pelo avô; o grupo de seguranças (liderado por Irandhir Santos) que chega para garantir a tranquilidade do lugar; e mesmo naqueles que aparecem rapidamente (o gringo perdido no bairro, a empregada que se aventura com o segurança numa das casas que ele devia vigiar); e todos morando em casas com grades ou câmeras de vigilância. Enfim, são eles que vestem as camadas das aparências sociais, mas que deixam escapar posturas e princípios distorcidos.

O trabalho de som, a propósito do próprio título, é de uma sutileza fenomenal na forma como consegue integrar aquele ambiente e demarcar certas inquietações. Quando o som de um ambiente invade uma outra circunstância, terreno de outros personagens, percebemos como aqueles pedaços estão integrados num todo maior, partes de um mesmo sistema social, rumo à falência. De fato, há um imenso ruído na comunicação.

cartaz-o-som-ao-redor copyO Som ao Redor (Idem, Brasil, 2012)
Direção: Kleber Mendonça Filho
Com Irandhir Santos, Gustavo Jahn, Maeve Jinkings, Irma Brown, Sebastião Formiga, Gustavo Jahn, W. J. Solha,
Yuri Holanda, Lula Terra

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