Davi Correia, do Rio de Janeiro para o Veja.com

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A explosão de popularidade do MMA no Brasil aconteceu em 2011, quando o campeão Anderson Silva derrotou Vitor Belfort em Las Vegas e despontou para o estrelato. Com o crescimento da modalidade, muitos outros atletas viraram ídolos, principalmente os que conquistaram títulos do UFC, como Júnior Cigano e José Aldo. Para os fãs de longa data, porém, o grande herói do esporte é um atleta que não está mais no auge e que não briga mais pelo cinturão. Não por coincidência, ele é também um ídolo para os próprios campeões – afinal, é um dos grandes responsáveis pelo sucesso de nomes como Anderson e Cigano. Aos 36 anos, o baiano Rodrigo Minotauro Nogueira – que enfrenta Fabrício Werdum na final da segunda temporada brasileira do reality show The Ultimate Fighter, no próximo sábado, em Fortaleza – continua lutando em alto nível e, mais importante ainda, segue moldando os campeões do futuro. Quem o conhece garante que não existe amigo, treinador, mestre e conselheiro mais perfeccionista do que Minotauro. Reverenciado por seus pares, o atleta nega a pretensão de ser um mentor para os outros lutadores e resume sua influência à simples motivação. A ajuda nos treinos e os conselhos aos pupilos só dão um empurrão em atletas que seriam campeões de qualquer maneira, insiste ele. Os seguidores discordam: apontam Minotauro como uma espécie de guru, uma figura essencial para fazer a modalidade crescer e um defensor ferrenho dos melhores valores das artes marciais, como o trabalho duro, a disciplina e o respeito ao oponente.

Professor de jiu-jitsu desde a adolescência, Minotauro encontrou um canal ideal para espalhar sua filosofia de trabalho e ainda fazer dinheiro com essa atividade. Ao juntar sua experiência nas lutas com um modelo de negócio inspirado nas grandes academias americanas, ele fundou a Team Nogueira, uma rede que já alcança diversos pontos do exterior e começa a se espalhar por todas as regiões do Brasil. Minotauro pretende ter mais de 30 academias no Brasil até o fim deste ano. Um sucesso que ele nem sequer imaginava quando começou a lutar, ainda na Bahia, por influência da mãe, Marina – que também era dona de academia. Ele treinava judô, jiu-jitsu e boxe, mas o primeiro grande adversário passou de forma esmagadora pelo seu caminho: um caminhão o atropelou quando ele tinha apenas 11 anos. Minotauro brincava com seu irmão gêmeo, Rogério Minotouro, também lutador do UFC, quando foi atingido pelo veículo. Complicações graves nos pulmões, rins e diafragma fizeram com que ele permanecesse onze meses internado – durante parte desse tempo, respirando por aparelhos. Depois de diversas cirurgias, as marcas do acidente ainda estão no corpo do atleta. Quem não conhece sua história pode até imaginar que ume lesão visível nas costas e os incontáveis pinos em ombros, braços e trapézio são reflexos das batalhas nos octógonos. São, no entanto, apenas as lembranças daquela que foi seu primeiro grande triunfo. A recuperação quase miraculosa deu a ele a resistência necessária para uma longa série de façanhas. Em treze anos no MMA, o atleta soma 34 vitórias, sete derrotas, um empate e muitas histórias para contar.

Os grandes nomes da Team Nogueira

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Bom de conversa, o gigante de 1,90 metro e 109 quilos costuma cativar seus interlocutores com sua fala amistosa e divertida. E foi durante um desses diálogos que ele convenceu um lutador paulista desacreditado a deixar de lado a ideia de se aposentar precocemente e continuar treinando. Anderson Silva pensava em virar segurança, sonhava em comprar um lava-rápido e se contentava até em dar aulas de artes marciais. Um longo bate-papo com Rodrigo Minotauro o fez mudar de ideia. O Spider continuou treinando, entrou no torneio japonês Pride graças à amizade de Minotauro com os organizadores e hoje é apontado como o maior lutador de MMA do mundo. “O Minotauro me chamou para conversar e disse que ia me apoiar na carreira”, relembra o campão. “Certa vez, o contrato dele com o Pride estava perto de acabar. Quando ele foi falar com os chefões do torneio, disseram: ‘Ou você renova ou coloca o Anderson Silva para lutar no seu lugar’. Ele optou por mim. Eu estava disposto a parar de lutar, mas ele e o Minotouro garantiram que iriam me ajudar.” Hoje, Anderson credita grande parte de seu sucesso ao mentor, que continua sendo seu parceiro de treinos e quase uma figura paterna, ainda que seja dois anos mais jovem que o campeão. Mais recentemente, o baiano começou a trabalhar com um ex-garçom de Caçador, Santa Catarina, que sonhava em ser lutador do UFC. O protegido de Minotauro era Júnior Cigano, um dos atletas que chegaram mais rapidamente ao título do UFC. Seguindo à risca os preceitos da artes marciais, o professor mantém a modéstia e garante que o sucesso de Anderson e Cigano pouco tem a ver com ele.

Negócios – Mesmo quando não está se preparando para um combate, Minotauro passa a maior parte do tempo em sua academia no Rio. Além de lutador, ele acumula outra função: a de administrador. Com o sucesso da Team Nogueira carioca, ele e o irmão Minotouro costuraram um plano ambicioso de expansão pelo Brasil. Com oito unidades já em funcionamento, a marca Team Nogueira poderá ter outras 24 filiais abertas até o fim do ano. A ideia de montar um centro de treinamento para iniciantes era antiga, mas faltava experiência para os irmãos. Minotauro confessa que penou até conseguir montar um modelo de negócio de sucesso. A inspiração veio de redes bem-sucedidas nos Estados Unidos, que apostam no atendimento personalizado e numa organização bem azeitada para satisfazer a clientela. “Nosso atendimento já é diferenciado a partir do momento em que alguém atende ao telefone”, gaba-se Minotauro, que tem na ponta da língua o preço das mensalidades e quantos alunos têm cada uma das oito franquias já espalhadas pelo Brasil. A Team Nogueira também fincou sua bandeira nos EUA e na Europa, com unidades na Flórida, na Califórnia e em Zurique, na Suíça. Na cidade onde funciona a sede da Fifa, uma academia de nome brasileiro não ensina futebol, mas sim MMA.

Passar horas a fio na academia não é sacrifício nenhum para os irmãos Nogueira, que se definem como “maníacos por treinos”. De acordo com eles, isso se reflete no trabalho dos funcionários da academia, também adeptos de rotinas rigorosas de preparação e muita disciplina. Os professores são cuidadosamente escolhidos, passam por constantes treinamentos e são sempre avaliados pelo seu desempenho na função. Além de tocar o projeto de expansão da rede, Rodrigo Minotauro e Rogério Minotouro também cuidam do aperfeiçoamento dos 85 lutadores profissionais que defendem as cores da Team Nogueira. Os irmãos, no entanto, não trabalham como empresários dos atletas e não se envolvem no gerenciamento da carreira deles – há um profissional dedicado exclusivamente a isso na equipe. Minotauro, que mora num apartamento confortável de frente para o mar, na Barra da Tijuca, também mantém dois apartamentos e um alojamento na matriz da Team Nogueira, no Recreio dos Bandeirantes, para abrigar os lutadores. Os pupilos não economizam elogios ao “patrão”, como muitos chamam o mentor do time. Em meio aos atletas, ele espalha conselhos, fiscaliza a evolução técnica dos lutadores e coloca na linha quem parece estar saindo dos trilhos. Tornou-se cena comum ver o chefe resolvendo encrencas familiares e financeiras dos discípulos. Minotauro pode até fugir do rótulo de guru, mas para essa turma não resta dúvidas de quem dá as cartas no MMA brasileiro.

‘Virar lutador foi mais surpreendente que ser empresário’

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Como a Team Nogueira começou? A primeira Team Nogueira foi montada nos Estados Unidos, em 1999. Mas as viagens frequentes para o Japão e para o Brasil atrapalharam bastante e acabei fechando o negócio. Sou professor de jiu-jitsu desde 1996, sempre tive mais de duzentos alunos ao mesmo tempo, até quando ainda era faixa roxa, em Salvador. Tinha três tatames em que ministrava as aulas e foi lá onde eu adquiri a experiência como professor.

Quantos atletas moram na Team Nogueira atualmente? São 30 atletas. Eles comem, dormem e treinam com a gente. Temos uma equipe que dá uma estrutura boa. Há desde dentista até nutricionista. Quando chegam à academia, só sabem comer feijão e chutar saco de areia, e acham que já são lutadores. Aí a gente passa um sistema de treinamentos, inclusive com controle de presença. Outro dia um chegou bêbado. Foi cortado da próxima luta. Tem aqueles que sempre colocam a culpa dos problemas na mulher, por exemplo. É bem difícil administrar tudo isso.

Eles o tratam como um pai? Os mais simples me chamam de “patrão” mesmo. Mas é complicado administrar o ciúme. Sempre chega gente nova, aí é preciso conversar com os atletas que estão há mais tempo por lá. Os mais antigos ficam chateados quando a gente compra alguma coisa para os novos. Mas todos os que estão ali são campeões em potencial.

Como você escolhe os atletas? É impressionante o número de lutadores que chegam para fazer testes. Antigamente chegava mais gente, mas agora estamos priorizando a escolha pelos DVDs enviados por eles com os melhores momentos de suas lutas. Mas ainda existem aqueles que chegam com a malinha a tiracolo, batem na porta, pedem pra treinar e acabam ficando.

A Team Nogueira se transformou numa referência na formação de lutadores. Como manter essa condição? Eu gosto de saber disso, mas ao mesmo tempo fico um pouco frustrado, pois é impossível ajudar o tanto de gente que me procura. A receita da Team Nogueira do Recreio dos Bandeirantes vai toda para o orçamento do time profissional, com 85 atletas. Infelizmente, tenho um número limitado de atletas a quem posso dar suporte.

E como é a sensação de ser uma espécie de guru até para os mais experientes? O mérito é todo deles, que trabalharam muito. Não são atletas normais. São caras como Anderson Silva, Júnior Cigano, Rafael Feijão. Eu tive um papel importante, claro, mas apenas na motivação. Apresentei a eles os treinos de alto rendimento e eles decolaram. O Anderson, por exemplo, já era um talento, só precisou organizar seus treinos. Na formação do Cigano eu tive uma participação maior: expliquei como deveriam ser montados os treinos e indiquei alguns profissionais para ajudá-lo. Eu e o Minotouro somos obcecados por treinos e mostramos isso a todos eles.

É difícil trabalhar ao mesmo tempo com atletas profissionais e alunos comuns da academia? A gente sabe separar muito bem. Já estamos com mais de 800 alunos na Team Nogueira do Rio de Janeiro e eles treinam em horários separados dos profissionais. Nossa intenção é permitir que a família toda frequente a academia, com a mãe fazendo um treino específico para mulheres, o pai treinando jiu-jitsu e uma criança de três anos dando os primeiros passos nas artes marciais.

Quem é sua inspiração nos negócios? Meu pai, Amilton Nogueira, de 62 anos, sempre me ajudou muito. Ele foi um exemplo para mim, pois trabalhava em vários negócios diferentes: tinha imobiliária, era dono de escritório de contabilidade e até de uma papelaria. Era ele que me fazia acreditar que minhas academias um dia dariam certo. Para mim, virar um lutador profissional foi uma surpresa muito maior do que ter me tornado dono de academia.

Cinco vitórias marcantes de Minotauro

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