Fotos: Secom PMVC

Na última quarta-feira, 3 de julho, o secretário estadual de cultura, Albino Rubim, esteve em Vitória da Conquista para dialogar com a comunidade cultural da cidade e da região. O encontro aconteceu no Centro de Cultura Camillo de Jesus Lima e serviu ainda para a apresentação do novo diretor do espaço, Daniel Nunes.

Rubim fez uma apresentação das últimas ações da sua pasta, de projetos e ideias que estão para serem implantadas ou em análise. Diante de produtores, artistas e ativistas culturais, o secretário “deu cara a tapa” para ouvir as críticas e responder a cada uma delas, inclusive sobre a exoneração da última diretora do Centro de Cultura, Maris Stella Schiavo.

Foram mais de três horas de um intenso e acalorado debate. Leia abaixo as declarações do secretário sobre os temas que foram colocados pela plateia.

ENCONTRO DE GESTORES E CONSELHO DOS CENTROS DE CULTURA

“Nós estamos fazendo encontros periódicos de gestores a cada dois meses para discutir as questões dos centros, os problemas administrativos, a programação, coisas desse tipo. Nós estamos fazendo uma qualificação periódica desses dirigentes. Estamos fazendo duas coisas: queremos que cada um desses espaços faça uma programação específica para o seu território, um evento regional que nós iremos bancar esse evento, política pública nossa; segunda coisa, criar, até o fim de 2013, em cada um dos nossos espaços culturais uma espécie de Conselho, para aconselhar, acompanhar as atividades, propor coisas ao Centro e que seja representativo, plural, amplo e diversificado. Queremos isso em Conquista. Estamos propondo à comunidade cultural de Conquista uma participação efetiva nesse Conselho, que vai ter um papel importante na política e nas atividades desse espaço cultural. Os coordenadores dos espaços sabiam disso desde o início do ano, alguns já têm esses Conselhos. É extremamente importante para democratizar a gestão e criar uma conexão entre o espaço e a comunidade da cidade e do território”.

TERRITORIALIZAÇÃO DA CULTURA

“Nós temos alguns editais hoje que são territorializados, não são editais em que todo mundo concorre com Salvador, ou concorrência estadual. Têm editais que a concorrência é em determinados territórios. Antigamente não existiam os editais, eram favores, iam lá e falavam com o secretário, com o governador, eram amigos do rei e tinham apoio para os seus projetos. Márcio (Meireles) começou a implantar editais e nós continuamos. Os editais têm comissões para julgar com autonomia total, o secretário não se intromete, o governador não se intromete. As comissões são qualificadas, com pessoas da capital e do interior e de fora da Bahia, mas nós recomendamos que sejam contemplados vários territórios. Nos editais dos últimos anos, cada vez mais o interior tem mais participação. Isso é importante, territorialização é isso. Agora, existem diferenças, existem setores que sabem fazer projetos mais elaborados, nós fazemos o esforço de dar cursos, o QualiCultura oferece cursos para tentar qualificar mais, agora não é da noite pro dia [que o interior vai ter mais projetos que a capital]. E não são só os editais. Por exemplo, diferente das outras secretarias, nós não fazemos a nossa Conferência Estadual em Salvador, já fizemos em Feira de Santana, Ilhéus, Conquista e nesse ano vai ser em Alagoinhas. É claro que reverter essa situação histórica, em que tudo estava concentrado em Salvador e que a secretaria não se preocupava com o resto do estado, não é da noite pro dia, é um processo”.

ESTADO X MUNICÍPIO

“Vivemos numa federação, existe o poder estadual, o federal e o municipal. Esses poderes têm que se respeitar. Cada um tem sua área de competência e um não interfere no outro. Nós temos que chegar a processos de trabalhos colaborativos e o que temos feito é, na medida do possível, estimular prefeitos, secretários, a criar seu sistema municipal de cultura, o seu fundo municipal, aquilo que é importante para o município desenvolver sua política cultural municipal. Tenho ido a encontros com prefeitos para falar da cultura, da importância da cultura, para que atue no campo da cultura, que tenha investimento, setor de cultura. O que o estado pode fazer é colaborar, subsidiar tecnicamente e estimular os prefeitos”.

PÚBLICO

“Nós achamos que a cultura não pode se contentar com os públicos que a cultura tem hoje, primeiro porque esse público é elitizado, a cultura sempre foi muito elitizada, temos a obrigação de fazer com que a cultura tenha um público maior. Como no Brasil nós tivemos um grande processo de inclusão social, 40 milhões de pessoas foram incluídas, temos potencialmente um grande público, que antes talvez estivesse excluído não só por conta de discriminação e exclusão educacional, mas também pela exclusão econômica. Nós temos que ter o papel de fazer com que esse processo de inclusão não seja só social e econômica, precisar ser um processo de inclusão cultural. Os indicadores de exclusão cultural são absurdos, é uma enormidade o número de pessoas que nunca foram a um cinema, ao teatro… É um escândalo. Somos um país desigual não só economicamente e socialmente, é também na exclusão cultural, as pessoas não tem acesso a muitas das atividades que fazemos. A quantidade de livros que são lidos pelo brasileiro em um ano é mínima, comparado com a Colômbia, nós tomamos uma surra. Nos eventos culturais da Copa das Confederações, que a entrada era de R$ 1, era possível ver as pessoas tirando foto dentro do Teatro Castro Alves, se fotografando, significa que aquelas pessoas nunca tinham pisados no TCA. Era bonito de se ver”.

CASO MARIS STELLA

“Existia uma norma que foi feita justamente para garantir que os espaços tivessem atividades culturais, que a prioridade dele fosse as atividades culturais e ela era do conhecimento de todos os diretores, foi feita com todos os diretores e foi desobedecida e foi dito para não fazer [o velório de J. Murilo]. Com a norma desobedecida não tem outro jeito, norma democrática. As normas são feitas para todos obedecerem. Essa norma é uma garantia, porque nossos espaços culturais tinham dificuldades por ser utilizados para muita coisa. No caso do velório no Teatro Castro Alves há diferenças. Primeira, o teatro não é da Secretaria, ele é ligado à Fundação Cultural, essa norma não existe na Fundação Cultural e não existe no Teatro Castro Alves. Então, não houve desobediência de norma. Segundo, Augusto Omolú pertencia ao balé do TCA, portanto era ligado ao TCA, foi professor da escola de dança da Funceb, foi uma solicitação dos colegas dele, de pessoas do próprio TCA, nós relutamos muito, não queríamos fazer isso, mas tivemos que ceder por ser uma pessoa ligada e, mais uma coisa, o TCA não tem nenhum problema de fazer atividades outras que não sejam atividades culturais. É uma situação muito diferente. A única coisa semelhante é que teve um velório, em circunstâncias muito diferentes”.

“Não vamos aqui chegar a um acordo pelo episódio acontecido. Eu dei a minha versão, a versão da secretaria. Óbvio que pessoas ligadas a ela e que conviveram com ela não vão aceitar, isso faz parte da vida, faz parte da democracia, meu dever é dar uma explicação, não quero com isso convencer todo mundo”.

” Os movimentos sociais e políticos demandam atitudes sociais e políticas. Por que eu iria vir aqui com o Centro ocupado? Primeiro que o documento não foi enviado a mim e sim postado no Facebook. Não recebi nenhum documento, eu costumo responder a todos, inclusive dizendo se concordo ou discordo deles”.

PROJETOS CONTEMPLADOS NO INTERIOR

“Os dados que nós temos mostram que se ampliou a participação dos proponentes do interior com aumento entre os contemplados. [Dados apresentados: Projetos inscritos em 2012 – Salvador: 829; Interior: 353; 2013 – Salvador: 889; Interior: 576; Selecionados em 2012 – Salvador: 87; Interior: 19; Selecionados em 2013 – Salvador: 107; Interior: 68.] Vejam como se ampliou. Isso é um processo, estamos ampliando a participação do interior e esses dados demonstram isso. O interior tem que apresentar muito mais projetos, o percentual de projetos de Salvador é enorme e essa desigualdade é em termos de Brasil. Temos que melhorar isso. Como podemos melhorar? Primeiro tem uma orientação clara de contemplar cada vez mais projetos de territórios diferenciados, agora é preciso que os territórios apresentem projetos. Não dá para fazer essa conta de dividir o número de contemplados do interior pelo número de municípios, pois quantos municípios apresentaram projetos? Nós fizemos cento e tantas oficinas de capacitação e não se pode querer exigir de uma secretaria pequena e que está concentrada em Salvador que ela se transforme de uma dia para a noite em uma secretaria em toda a Bahia. A gente conseguir fazer mais de cem oficinas no interior com a estrutura que nós temos… Sabe quantas secretarias têm representantes territoriais? Nós e a de Planejamento – só. Eu, se tivesse do lado de vocês, estaria fazendo o que vocês estão fazendo, não tenho nenhuma dúvida disso, mas como eu estou do lado de cá eu preciso dizer dos limites que a secretaria tem”.

CONFERÊNCIAS

“Conferências para gente importa muito, não é só uma reunião de pessoas para ficar conversando. Algumas conferências propuseram, por exemplo, que se desenvolvesse na Bahia uma Lei Orgânica da Cultura, nós fizemos a Lei Orgânica da Cultura. Se pegarem as demandas de todas as Conferências, uma das demandas que aparece o tempo todo é que na Bahia não tinha uma instituição que desse conta das culturas populares e culturas identitárias, nós criamos o Centro de Cultura Popular Identitária, havia uma demanda imensa sobre formação na área de pintura, criamos o Centro de Formação em Artes, que tem feito cursos em Salvador e em várias cidades e muitos dos cursos em centros como o daqui de Conquista. São resultados concretos, são alguns exemplos, não é mera falação, isso veio de demandas das Conferências. Temos um edital específico de formação, somos um dos poucos estados do Brasil que tem um edital de formação, que está fazendo vários cursos de formação, porque isso era uma demanda das Conferências”.

CURSO SUPERIOR NA ÁREA DAS ARTES

“Nós mandamos a todos os reitores das universidades públicas uma carta dizendo que estamos precisando ampliar os cursos de artes, o número de cursos de gestão cultural, o número de cursos da área de cultura na Bahia. Estamos conversando com os reitores da Federal do Recôncavo, do Ifba, da Federal, da Uesb… estimulando para que se amplie os cursos da área de artes”.

AUDIOVISUAL

“A área de audiovisual está passando por uma imensa revolução, porque com a aprovação do nova lei da tv paga ela cria uma abertura de mercado para o audiovisual brasileiro imenso e o aumento de recursos do fundo do audiovisual foi absolutamente significativo, então, hoje, o problema é ter audiovisual porque as televisões fechadas estão precisando de material para se adequar à lei. Inclusive, nós criamos um grupo de trabalho para ver como a Bahia pode entrar nisso com mais substância, porque é uma oportunidade de produção, de acessar verbas”.

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