A música “Oração de Mãe Menininha” é um agradecimento sincero de Dorival Caymmi à iluminação que ele e a Bahia recebem da mãe-de-santo mais reverenciada de Salvador, apregoando sua crença no candomblé. Feita em comemoração aos 50 anos da ialorixá, Caymmi afirmou que o título da canção se pronuncia na boca do povo: “de Mãe Menininha”, assim como dizem “de Santo Antônio”. Samba lançado em 1972 que marcou terreiro nas vozes de Gal Costa, Maria Bethânia e Clementina de Jesus.

FOp11-13
Jorge Amado, Caymmi, Mãe Menininha e Carybé

Mas, afinal, quem foi Mãe Menininha?

Era 1894, quando nasceu Escolástica Maria da Conceição Nazaré, a Mãe Menininha do Gantois, mulher que mudaria o rumo da situação dos povos de terreiros no Brasil. A mais famosa ialorixá da Bahia foi a quarta mãe de santo do terreiro do Gantois, na Bahia. Com seu falecimento, em 1986, marcou o início de importantes debates e lutas sobre discriminação e intolerância religiosa.

Mãe menininha foi vítima de um enfarto provocado pelas constantes perseguições violentas que sofria por pertencer ao Candomblé. Neta de escravos, ela nasceu no dia 10 de fevereiro, na cidade de Salvador. O terreiro do Gantois foi fundado por sua bisavó, Maria Júlia da Conceição Nazaré, em 1849. A instituição religiosa de origem ketu mantém historicamente a política do matriarcado e de sucessão hereditária de linhagem consanguínea.

A ialorixá foi iniciada nos rituais pela tia Pulquéria, sua antecessora. Quando assumiu a liderança do terreiro, escolhida pelos orixás, ainda não tinha 30 anos completos. Com doçura, carisma e diplomacia mudou a visão de governantes, artistas e intelectuais e garantiu o respeito de líderes de outros terreiros e até de sacerdotes católicos. Enfrentou o preconceito da sociedade em relação aos adeptos da sua religião em um momento em que não havia liberdade de culto e os terreiros eram constantemente invadidos pela polícia.

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Apesar de ter conquistado mais tolerância na década de 1930, com a Lei de Jogos e Costumes, as festas só podiam ser realizadas em horários determinados e mediante autorização por escrito. A situação só melhorou, em 1976, quando o então governador da Bahia, Roberto Santos, sancionou um decreto liberando as casas de candomblé da obtenção de licença e do pagamento de taxas à delegacia de Jogos e Costumes.

Mãe Menininha recebeu muitos títulos, homenagens e medalhas. Uma das que mais gostava era a dos Filhos de Gandhi, que a consideraram madrinha do Afoxé. Em 1972, Dorival Caymmi compôs a famosa música Oração a Mãe Menininha, que trazia os versos: “A beleza do mundo, hein? Tá no Gantois./ E a mão da doçura, hein? Tá no Gantois./ O consolo da gente, ai. Tá no Gantois…/ Ai, minha mãe. Minha Mãe Menininha”.

Além dele, Jorge Amado, Antônio Carlos Magalhães, Vinícius de Moraes, Maria Bethânia e Caetano Veloso eram algumas das inúmeras personalidades que se aconselhavam com Mãe Menininha. Em 1994, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos lançou um selo comemorativo para marcar o centenário de seu nascimento.

Mãe Menininha morreu em 13 de agosto de 1986, aos 92 anos, Após a sua morte, seus filhos deixaram seu quarto intacto, com seus objetos de uso pessoal e ritualísticos. O aposento foi transformado no Memorial Mãe Menininha e é uma das grandes atrações do Gantois.

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