Por Renan Quinalha
Que horas ela volta?, dirigido por Ana Muylaert e protagonizado por Regina Casé, já se consagrou como uma das mais finas e potentes leituras do Brasil recente nas telas do cinema.
A pergunta que dá nome ao filme, proferida com todas as letras pelo filho da patroa, pode enganar os mais apressados, ao sugerir tratar-se de um relato edulcorado sobre o lugar afetivo de uma mãe ausente que acaba ocupado por uma empregada doméstica, mais próxima do filho da patroa do que da sua própria filha.
Sem dúvida, essa referência de abandono e de desencontros está também ali presente. Mas a força do filme é, ao tomar uma prosaica relação de trabalho doméstico entre a empregada Val (Regina Casé) e a família que a emprega, tendo Dona Bárbara (Karine Teles) como a matriarca, conseguir escancarar, tão provocativamente, a realidade social brasileira.
Assim, a perspectiva micro da família em questão torna-se uma fecunda porta de entrada para a compreensão das relações de poder que governam a vida dentro e fora dos lares brasileiros.