650x375_paralamas-do-sucesso_1435345Quando o show começa, um filme dos últimos 30 anos passa não só na cabeça dos Paralamas do Sucesso como também num telão de LED, montado estrategicamente ao fundo do palco. Nele, um álbum de fotos multimídia, em ritmo frenético de videoclipe, repassa a limpo toda a trajetória da banda. Esse é o cartão de visita para a plateia que vai assistir à apresentação da turnê de 30 anos do grupo que roda o Brasil desde o ano passado – eles tomam como ponto de partida da carreira o disco de estreia Cinema Mudo, de 1983, que os alçou ao sucesso com músicas como Vital e Sua Moto.

O repertório do show, executado na sequência pelo núcleo paralâmico Herbert Vianna (vocal e guitarra), Bi Ribeiro (baixo) e João Barone (bateria), vem na mesma toada retrospectiva. E, a cada música, o telão continua a lembrar, através de imagens, que ali está uma banda com muita história para contar. A experiência epifânica tanto para os Paralamas quanto para o público proporcionada por essa turnê foi registrada no CD e no DVD Multishow ao Vivo – Os Paralamas do Sucesso 30 Anos, que já estão disponíveis no iTunes e em pré-venda na Saraiva.

Segundo os Paralamas, a data redonda é apenas o mote para a celebração. “Foi grande a demanda dos fãs, que esperavam nossa vez para fazer essa comemoração, porque o pessoal da nossa geração estava celebrando esses 30 anos de estrada: Titãs, Barão, Kid Abelha”, conta Barone, em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo. “A turnê ficou tão legal que a gente vai estender esse show. Ele ficou bem costurado. A gente deve mexer em uma coisa ou outra do repertório, colocar algo inédito.”

No DVD, a seção extra traz um documentário, que acompanha os bastidores desses shows, além de mostrar entrevistas com integrantes da banda, como o empresário José Fortes (amigo de faculdade de arquitetura de Herbert e que é considerado uma espécie de quarto Paralama) e com amigos deles. Por meio desses depoimentos, é feita uma análise sobre a importância do grupo na história do rock brasileiro, que ultrapassou as barreiras de banda-dos-anos-80 e encontrou perenidade ao longo das décadas seguintes. Mas, mais do que isso: tenta-se encontrar uma explicação para essa vocação da banda de manter uma unidade insolúvel por tanto tempo.

No registro, o baterista Charles Gavin, ex-Titãs, avalia: “Nos bastidores dos Titãs, uma coisa que a gente sempre dizia era que os Paralamas tinham uma leveza e uma inteligência em lidar com as relações internas da banda. Esses caras vão durar por toda vida, porque eles entendem que, para ser uma banda e ficar junto por todos esses anos, você tem de abrir mão de muita coisa, tem de ser muito generoso, precisa ter muito bom senso, que sem isso você não chega lá”.
Para a banda, não há uma justificativa ‘aritmética’ para isso. “A gente conseguiu sobreviver aos egos, passar por isso”, arrisca Bi. “A sensação é de que é cada vez melhor”, completa Herbert.

Protestos
A preparação do projeto durou cerca de três meses, período em que a banda se reunia em seu pequeno estúdio, no Jardim Botânico, no Rio, para acertar o repertório de show. Para chegar ao que queriam, os Paralamas decidiram passear pelos vários momentos da carreira, dos primeiros discos até a produção mais recente. Diante uma discografia com 19 álbuns, entre discos de estúdio, acústico e ao vivo, e uma coleção de hits, a tarefa não foi das mais fáceis. “Acho que o desafio foi a gente costurar essas músicas, fazer um roteiro que criasse um andamento para o show inteiro, com os climas que a gente precisa fazer para o show: a hora que você acelera, a hora que você pesa”, conta Barone. De acordo com ele, na verdade, é mais ou menos o que a banda faz quando vai sair numa turnê de um trabalho novo, autoral. “Dessa vez, tivemos de usar o conjunto da obra. Fomos fazendo blocos, hora do rock mais pesado, das baladas, do reggae, das músicas mais pop.”

Com direção geral de José Fortes e Claudio Torres, o show investe forte nos grandes sucessos como Alagados, Cuide Bem do Seu Amor, Saber Amar/Romance Ideal, Óculos, Lanterna dos Afogados, Ela Disse Adeus, Lourinha Bombril, entre outras. Você, de Tim Maia, ganhou versão tão marcante com o grupo que a música também foi incorporada nesse repertório comemorativo. Composta por Herbert, Bi Ribeiro, João Barone e Gilberto Gil, A Novidade, outro hit, tem uma história de bastidor bacana, que é relembrada no documentário. Eles tinham a melodia e pediram para Gil colocar letra. Mandaram um cassete para o músico e, no mesmo dia, ele ligou com a letra pronta, falando que tinha feito ‘uma coisinha’. Herbert, emocionado, anotava o que ele lhe ditava.

Para reverenciar o som que eles gostam, os Paralamas abriram ainda brecha no show para colocar algumas releituras. Entraram Sting e Led Zeppelin. “A gente sempre fez isso naturalmente, inserir coisas que a gente gosta no meio da nossa música”, explica Bi.

Ambas da década de 80, as músicas Selvagem, dos Paralamas do Sucesso, e Que País É Esse, do Legião Urbana, foram incluídas no repertório antes de os protestos de junho de 2013 começarem no Brasil – e suas letras se mostram atuais até hoje. “A gente fica um pouco rendido com essa realidade ainda não ter mudado muito de lá para cá. Temos ainda as mesmas estruturas arcaicas controlando a grande parcela da população, corrupção, falta de investimento na educação, que é a única coisa que pode salvar o Brasil. A gente preferia que essas músicas fossem até nostálgicas”, pondera Barone.

Enquanto a turnê de 30 anos se estende até final do ano, a banda já pensa na caixa com toda a discografia dos Paralamas, que deve ser lançada também no final do ano – com direito a material inédito e raridades.

E Herbert segue compondo músicas inéditas. “Tenho vários cantos da minha casa onde eu normalmente costumo passar mais tempo durante o dia. Para cada um deles, faço cópias manuais de novas ideias, e deixo aqui e ali meus cadernos com ideias e textos.” Mas ainda não há data prevista para um novo disco da banda sair.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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