Lançado em dezembro do ano passado, o clipe da música “Tigrão Gostoso”, da banda Abrakadabra já passou das 32 mil visualizações no YouTube (entre os que avaliaram o vídeo, 274 pessoas curtiram, outras 198 não). A música é um dos recentes sucessos das bandas da cidade e tem sido cantada por outras bandas, como a Trio da Huanna e o grupo Psirico.

Só que nesta semana o que chamou atenção foi uma nota assinada por 30 entidades sociais contra o clipe que circula pelas redes sociais. “No início do clip, retrata-se uma situação que é corriqueira na vida de todas as mulheres, que vivem diariamente o medo e a insegurança de serem violentadas ao andarem sozinhas à noite ou em ruas desertas. Entretanto, ao invés de se denunciar a violência sexual, o clipe se desenrola de forma a enaltecer a posição do estuprador, colocado como a figura do ‘tigrão gostoso’, de modo a associar a agressividade à masculinidade”, diz a nota.

“É inadmissível que uma banda lucre a partir da naturalização da violência e da apologia ao estupro! Vale lembrar aos integrantes da banda Abrakadabra que apologia ao estupro é CRIME punido com detenção pelo Código Penal, em seu artigo 287”, diz o texto.

As entidades assinalam que a nota de repúdio é para a banda e seus patrocinadores, mas pedem, em tom de campanha, que os leitores da nota denunciem o vídeo no YouTube.

A manifestação contrária ao clipe já chegou à banda e também às redes sociais, onde as pessoas têm se manifestado a favor e contra a carta de repúdio. Em uma das discussões sobre o assunto, o vocalista da banda, Pretu Abrakadabra, responde: “A maldade está nos olhos de quem vê!”, e agradece as manifestações em apoio à banda: “Quando o povo quer não adianta, não tem jeito! “.

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Leia a nota na íntegra abaixo.

NOTA DE REPÚDIO AO CLIPE “TIGRÃO GOSTOSO” DA BANDA ABRAKADABRA

Nós, movimentos sociais, entidades estudantis e organizações, viemos declarar nosso repúdio à banda conquistense Abrakadabra e seus patrocinadores pela veiculação do clipe da música “Tigrão Gostoso”, disponível no youtube. No início do clip, retrata-se uma situação que é corriqueira na vida de todas as mulheres, que vivem diariamente o medo e a insegurança de serem violentadas ao andarem sozinhas à noite ou em ruas desertas. Entretanto, ao invés de se denunciar a violência sexual, o clipe se desenrola de forma a enaltecer a posição do estuprador, colocado como a figura do “tigrão gostoso”, de modo a associar a agressividade à masculinidade. Por outro lado, reforça a imagem da mulher como um ser frágil e submisso, sem autonomia de vontade, sendo explícita a apologia ao estupro durante toda a música, como pode-se perceber nos trechos: “mas eu tô com medo, você vai me machucar” ou “é na hora do pavor que o bicho vai pegar”.

Infelizmente, esse não é um caso isolado e não se relaciona apenas a um determinado estilo musical. Cotidianamente, as infinitas formas de violência contra a mulher passam despercebidas nas rádios, na TV, nos outdoors. A exemplo disso, temos as propagandas de cerveja e de determinadas festas, em que os corpos seminus das mulheres são utilizados com objetivos comerciais, reforçando o estereótipo equivocado da mulher como mercadoria, como objeto sexual, reproduzindo discursos e práticas machistas, num processo de mercantilização do corpo feminino.

A violência é utilizada como forma de controle sobre a vida, o corpo e a sexualidade das mulheres, como uma punição para aquelas que não obedecem aos padrões de conduta a elas impostas. O estupro é talvez a manifestação mais cruel da violência machista, pois anuncia o fato de que a mulher não tem possibilidade de escolhas sobre o seu próprio corpo, e que nossas vidas estão inscritas no limite da subordinação aos homens. O medo do estupro restringe a liberdade de ir e vir das mulheres, viola o seu direito de livre expressão (de poder se vestir como quiser, por exemplo), sendo que a cultura do estupro culpabiliza a mulher pela violência sofrida, pelo fato de estarem utilizando determinadas roupas ou frequentando determinados locais.

No Brasil, as estimativas acerca da violência crescem assustadoramente a cada ano (somente no ano de 2012, o número de estupros notificados chegou a 50 mil), e casos de estupro coletivo indignam a sociedade, que se mobiliza exigindo a punição, como o da Banda New Hit, cujos 9 integrantes, no ano passado, violentaram covardemente duas jovens menores de idade após um show em praça pública na cidade de Ruy Barbosa, na Bahia.

Diante disto, um clipe como este representa uma afronta aos direitos das mulheres e não ficará por isso mesmo! É inadmissível que uma banda lucre a partir da naturalização da violência e da apologia ao estupro! Vale lembrar aos integrantes da banda Abrakadabra que apologia ao estupro é CRIME punido com detenção pelo Código Penal, em seu artigo 287.

Desta forma é que iniciamos esta campanha de denúncia, exigindo que a produção da banda e os patrocinadores se retratem e retirem do ar o clipe, contando também com a colaboração de todos e todas que leiam esta nota para que DENUNCIEM O VÍDEO NO YOUTUBE.

Não nos calaremos!

Contra a banalização da violência, seguiremos em marcha!

Assinam esta nota:

Marcha Mundial das Mulheres
Núcleo Maria Rogaciana
Centro Acadêmico de Ciências Sociais da UESB
Centro Acadêmico de Direito da UESB
Centro Acadêmico de Comunicação Social da UESB
Centro Acadêmico de Nutrição da UFBA
Núcleo Maria Rogaciana
Núcleo Negra Zeferina
União de Mulheres de Vitória da Conquista
Levante Popular da Juventude
Consulta Popular
Movimento Negro Unificado
Sindicato dos Bancários de Vitória da Conquista e Região
Sindicato dos Trabalhadores em Limpeza Pública da Bahia – SINDILIMP
Circuito Fora do Eixo
Grupo ELO
Enegrecer – Coletivo Nacional de Juventude Negra
Diretório Central de Estudantes – UFBA
Centro Acadêmico de Ciências Sociais/ UESB
Centro Acadêmico Ruy Medeiros – Direito/ UESB
Centro Acadêmico de Geografia – UESB
Centro Acadêmico de Nutrição IMS/UFBA – Gestão RenovAÇÃO
Centro Acadêmico de Comunicação – UESB
Centro Acadêmico Machado Neto – Direito/ FAINOR
Diretório Acadêmico de Engenharia Elétrica – IFBA
Centro Acadêmico de Filosofia – UESB
Diretório Acadêmico Luislinda Valois – Direito/ UNEB – Campus XX)
Federação de Estudantes de Agronomia do Brasil – FEAB
Associação Brasileira de Estudantes de Engenharia Florestal – ABEEF
GUNALE – Grêmio da União Aluno-Escola IFBA

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