De hoje até o dia 30 de abril, às quartas-feiras, uma postagem especial em homenagem ao cantor e compositor baiano Dorival Caymmi será feita aqui no Conversa de Balcão. A série “Quarta de Caymmi” vai tentar desvendar o que é que esse baiano tem, no ano do seu centenário, que se completa justamente no dia 30 de abril.

Então, acompanhe aqui um pouco sobre a obra de Caymmi, que muito contribuiu com a construção da identidade do baiano e com a difusão da nossa cultura pelo Brasil afora. Para começar, confira o texto de Semira Adler Vainsencher, publicado no portal da Fundação Joaquim Nabuco, sobre o nosso homenageado.

Dorival Caymmi nasceu em Salvador, estado da Bahia, no dia 30 de abril de 1914. Por contingências familiares, ele precisou interromper os estudos no primeiro ano ginasial (atual quinta série do ensino fundamental), indo trabalhar como auxiliar de escritório e, posteriormente, como caixeiro-viajante. Nessa época, sozinho, o rapaz aprenderia a tocar violão, desenvolvendo um estilo bonito e peculiar.

No início de sua carreira profissional, ele exercia, ainda, as profissões de jornalista e de cantor, junto à Rádio Clube da Bahia. Em 1936, o jovem baiano ganhava um concurso de músicas carnavalescas; e, incentivado pelos amigos, ao invés de fazer o curso preparatório para a Faculdade de Direito, seguiu a profissão de músico.

Com pouquíssimo dinheiro no bolso, em 1938, Caymmi decidiu ir morar no Rio de Janeiro. Pouco tempo depois, levado por Lamartine Babo e Assis Valente, estreava na Rádio Nacional com a sua música Noite de temporal. Em seguida, era contratado pela rádio Tupy, onde iniciava a vida artística cantando “No tabuleiro da baiana”.

Depois disso, o compositor seria convidado pelo cineasta Lawrence Downey para, com uma de suas músicas, substituir Carmem Miranda. Neste sentido, a composição “O que é que a baiana tem” passava a integrar o filme “Banana-da-terra”. E, em fevereiro de 1939, através da Odeon, o baiano gravava seu primeiro disco com aquela cantora.

Cabe ressaltar que dois fatos marcantes contribuiriam, positivamente, na carreira do compositor: o primeiro deles representou o fato acima registrado; e, o segundo, foi a inserção de uma outra composição sua – “O mar” – no repertório de um espetáculo promovido por Darcy Vargas, esposa do então presidente Getúlio Vargas. Dali em diante, Caymmi passaria a vivenciar um período de êxito. Por outro lado, foi na Rádio Nacional que ele conheceu a caloura Stella Maris, moça com a qual se casou em 1940 e teve três filhos – Dory, Naná e Danilo. Como o pai, eles também seguiriam a carreira de músicos.

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Dorival Caymmi sempre foi bom cozinheiro e grande conhecedor dos mistérios da culinária baiana. Visando enaltecer a sua experiência, ele comporia um samba sui generis, descrevendo as etapas da elaboração de um vatapá:

“Quem quiser vatapá, oi,
Que procure fazer primeiro o fubá,
Depois o dendê…”

Em 1947, a composição “Mariana” inaugurava a sua fase de samba-canção. Depois dessa, vinha “Marina”, um samba mais lento e sofisticado que começava assim:

“Marina, morena, Marina, você se pintou,
Marina, você faça tudo, mas faça um favor…”

Na década de 1950, Caymmi comporia a música “Só louco”, um outro lindo samba-canção onde afirmava:

“Só louco, amou como eu amei,
Só louco, quis o bem que eu lhe quis…”

Um dos seus sambas mais conhecidos, porém, foi a música Rosa Morena, que o cantor João Gilberto transformaria de novo em sucesso, muitos anos depois, ao regravá-lo no início da década de 1960:

“Rosa, Morena, onde estás Morena Rosa,
Com essa rosa nos cabelos
E esse andar de moça prosa,
Ô Rosa, Morena, Morena Rosa…”

Vale ressaltar que, apesar de o artista haver composto e interpretado um repertório considerável de músicas, foram as suas canções praieiras – aquelas que exaltavam as belezas da Bahia – as que mais se destacaram no cancioneiro popular brasileiro.

Em suas canções Caymmi conta e canta a vida dos pescadores, das praias, do mar, dos orixás, das igrejas, e das morenas da Bahia. Sem dúvida alguma, a qualidade de sua produção musical, e o seu estilo inimitável, lhe garantiram um espaço privilegiado no cenário dos maiores compositores brasileiros.

“É doce morrer no mar”; “A lenda do Abaeté”; “Promessa de Pescador”; “Saudade de Itapoã”; “João Valentão”; “Maracangalha”; “Saudades da Bahia”; “Sábado em Copacabana”; “Dois de fevereiro”; “Samba da minha terra”; e “Oração pra Mãe Menininha” são algumas das outras composições que ajudaram a eternizar o artista.

Mesmo com problemas cardíacos e já tendo passado dos noventa anos, Dorival continuava cantando ao lado dos filhos publicamente. Caymmi faleceu no dia 16 de agosto de 2008, aos 94 anos, em sua casa, no bairro de Copacabana, Rio de Janeiro. As causas foram insuficiência renal e falência múltipla dos órgãos.

DISCOGRAFIA

"Canções Praieiras" (1954); "Sambas de Caymmi" (1955); "Caymmi e o Mar" (1957); "Eu Vou pra Maracangalha" (1957); "Ary Caymmi - Dorival Barroso - Um Interpreta o Outro" (1958); "Caymmi e Seu Violão" (1959); "Eu Não Tenho Onde Morar" (1960); "Caymmi Visita Tom e Leva Seus Filhos Nana, Dori e Danilo" (1964); "Caymmi (Kai-ee-me) and the Girls From Bahia" (1965); "Vinicius/Caymmi no Zum Zum" (1967); "Caymmi" (1972); "Caymmi Também É de Rancho" (1973); "Caymmi 70 Anos" (1984); "Caymmi" (1984); "Caymmi's Grandes Amigos" (1986); "Família Caymmi - Dori, Nana, Danilo E Dorival Caymmi" (1987); "Família Caymmi Em Montreux" (1991); "Caymmi Em Família" (1994); e "Caymmi in Bahia" (1994).
“Canções Praieiras” (1954); “Sambas de Caymmi” (1955); “Caymmi e o Mar” (1957); “Eu Vou pra Maracangalha” (1957); “Ary Caymmi – Dorival Barroso – Um Interpreta o Outro” (1958); “Caymmi e Seu Violão” (1959); “Eu Não Tenho Onde Morar” (1960); “Caymmi Visita Tom e Leva Seus Filhos Nana, Dori e Danilo” (1964); “Caymmi (Kai-ee-me) and the Girls From Bahia” (1965); “Vinicius/Caymmi no Zum Zum” (1967); “Caymmi” (1972); “Caymmi Também É de Rancho” (1973); “Caymmi 70 Anos” (1984); “Caymmi” (1984); “Caymmi’s Grandes Amigos” (1986); “Família Caymmi – Dori, Nana, Danilo E Dorival Caymmi” (1987); “Família Caymmi Em Montreux” (1991); “Caymmi Em Família” (1994); e “Caymmi in Bahia” (1994).

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