Por Bruna Fideles*

Nos últimos dias você deve ter visto em sua timeline um vídeo que nos chama para uma realidade e que para muitos foi chocante. Ele convida a nos desligarmos da tecnologia e enxergar tantas oportunidades que perdemos por simplesmente baixarmos nossos olhos para uma tela.

Neste Dia das Mães vi o quanto a internet faz uma onda de comportamento em massa e fico me perguntando até onde isso não é na verdade, uma certa histeria coletiva. Todos da minha timeline mostraram suas mães e fizeram lindas declarações de amor. De nenhuma forma isso é negativo. Demonstrações de afeto são sempre positivas, mas uma porcentagem muito pequena de todas essas pessoas estavam falando diretamente com suas mães.

O Facebook é um palanque que, a cada post, subimos e gritamos algo para todos e a isso damos o nome de status. Num Dia das Mães como o do último domingo, muitas das declarações de amor e afeto eram apenas uma vitrine de um sentimento. Alguns daqueles no dia anterior e até no mesmo dia brigaram com suas mães, e quando cara a cara com elas, sequer teriam coragem ou vontade de falar palavras que estavam expostas em seus status.

Da mesma forma é a exposição de felicidade. As pessoas nunca foram tão felizes e satisfeitas com suas vidas e comidas diárias. Mostramos para os outros o quanto parecemos bem e o quanto o relacionamento vai bem. Entramos numa concorrência de “o meu é melhor” e queremos mostrar isso de qualquer forma, seja verdade ou não.

Com isso não quero dizer que vivemos de mentiras, mas que expomos nosso alter ego, um outro eu que é exatamente da forma como os outros querem nos ver. Me parece que vivemos mais esse alter ego, do que nossa própria vida, carne, osso e realidade.

Estamos dependentes da vida que criamos em redes sociais. O vídeo a que me referi do início do texto e que me levou a escreve-lo mostra aquilo que perdemos. A vida é simples, mágica de ser vivida, rica em momentos fascinantes e palpáveis e deixamos passar.

Nós, que somos cultura famosa pelo toque, pela aproximação, estamos perdendo estes rituais e deixando de nos olharmos nos olhos, tocar o outro, conversar, puxar um papo e rir um com outro, e quando falo isso me refiro aos encontros, aqueles em que estamos fisicamente perto.

Na frente de uma tela nos declaramos, expomos nossas opiniões com tanta bravura, somos participantes de tantos movimentos e nos revoltamos com a injustiça de forma ávida. Na realidade e frente a frente com o outro, somos frágeis e cada vez mais introvertidos. Perdemos a oportunidade do toque, do encontro, do olhar.

É comum ver pessoas que preferem conversar por mensagem por não se sentirem a vontade em falar pelo telefone ou pessoalmente. A tela é um escudo para a realidade.

Sei que é um pensamento um tanto romântico e dramático, afinal, a tecnologia, a internet, e os smartphones evoluíram a sociedade. Tudo ficou mais fácil de ser feito, processos antes complicados são feitos em segundos. Não discordo disso e de maneira nenhuma posso afirmar minha crítica de forma generalista. Critico porém nossa imersão exagerada, a exposição tão profunda de nós, tantos selfies por aí e essa vontade tão desenfreada de mostrar esse alter ego. Talvez, antes a vida fosse mais simples de ser vivida.

Para quem não viu, abaixo o vídeo que me fez repensar.

*Publicado em TodaMídia. Bruna é publicitária, mídia e coordenadora de pauta da Mondo Comunicação.

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