O ano era 1963 e o produtor Aloysio de Oliveira dono da gravadora Elenco resolveu unir a família Caymmi ao talentoso compositor bossanovista Tom Jobim para uma gravação onde predominaria a intimidade e a espontaneidade de um encontro de grandes músicos num clima de festa em família, mas, sem as artificialidades de uma típica gravação de estúdio.

A ideia era justamente que na informalidade dos convidados surgissem momentos únicos, aqueles que só aconteceriam se fossem realizados sem nenhuma preparação prévia, naturalmente. Para esse encontro musical foram também chamados o baixista, Sergio Barroso e os bateristas Do Um Romão e Edson Machado, com o objetivo de fazerem o acompanhamento e darem também sua canja na reunião.

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Danilo, Dorival, Dori, Tom e Nana

As gravações ocorreram em um clima ameno e esse encontro musical definiu as vidas de alguns de seus personagens. Estavam presentes além de Tom Jobim e Dorival Caymmi os filhos e a esposa do compositor baiano, Nana, Dori, Danilo e Stela. Como em toda reunião de amigos fraternos houve trocas de gentilezas e Caymmi ofereceu a Tom Jobim a inédita canção “Das rosas” e Tom devolveu com a também inédita, “Só tinha de ser com você” em parceria com Aloysio de Oliveira, duas musicas que brevemente se tornariam clássicas.

Nana Caymmi que vinha de um casamento desgastado e morando na Venezuela, estava passando uma temporada no Brasil e ainda tinha dúvidas quanto as suas pretensões em ser cantora profissional, depois, portanto, de ter cantado nesse disco “Inútil paisagem”, de Tom e Aloysio de Oliveira, acompanhada do pai e num belíssimo vôo solo, “Sem você”, de Tom e Vinicius e “Tristeza de nós dois”, de Durval Ferreira, Bebeto e Maurício Einhorn, definiu de vez sua vocação resolvendo seguir carreira como intérprete. Dori Caymmi também sentiu-se estimulado e a partir de então profissionalizou-se como violonista, arranjador e depois cantor, um artista completo.

De todos o mais jovem era Danilo Caymmi, que aos 16 anos era estudante de flauta, não fez feio ao lado de músicos consagrados e tornou-se num dos mais talentosos instrumentistas e compositores de sua geração, chegando inclusive a participar da Nova Banda grupo musical que acompanhou Tom Jobim em seus últimos anos.

O repertório do disco que foi lançado no suplemento de 1964 da gravadora inclui ainda “Saudades da Bahia”, samba clássico de Dorival Caymmi, interpretado num magistral dueto por Jobim e Caymmi, “Vai de vez”, de Roberto Menescal e Lula Freire e “Berimbau”, de Vinicius e Baden Powell, apresentadas de maneira instrumental pelos filhos de Caymmi acompanhados dos músicos convidados, por fim, “Canção da noiva”, de Dorival Caymmi, interpretada divinamente por sua esposa Stela, cantora de belos recursos vocais, mas que abandou precocemente a carreira por causa do casamento.

Com uma capa idealizada como um recorte de jornal bem ao estilo moderno da produção gráfica da gravadora Elenco, este disco reafirma o conceito de que para serem grandes, os bons momentos da vida devem ser construídos espontaneamente, repletos de paz e felicidade entre seus participantes e protagonistas, deixando para a história a tarefa de perpetuá-los e transformá-los em saudade, a audição do desse LP, portanto, nos remete a isso, consagrando-o definitivamente como fundamental para a musica popular brasileira.

*Trecho do texto do professor Luiz Américo Lisboa Junior sobre o disco.

Reencontro ocorrido em 1991 foi registrado em vídeo, confira.

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