Mesmo com todo avanço da tecnologia, o mapeamento do código genético, os testes com células-tronco, as manifestações de junho e julho no Brasil e os seriados da HBO, tem algo que ainda me intriga muito: como as mulheres podem achar que apenas por terem um corpinho legal podem fazer tudo o que quiserem com nós, os homens.
Tudo bem, você pode estar pensando: “Mas claro que pode, uma mulher gostosa faz qualquer homem de gato e sapato”. E eu lhe respondo: “Faz mesmo?”.
Vamos aos fatos:
Certa noite, em que minha namorada gostosa estava viajando, eu e alguns amigos meus saímos para tomar umas e botar o papo em dia. Lá pela uma da madrugada, decidimos ir para casa e passamos em um posto de conveniência para comprar comida. Ou seja, algo que para quem mora sozinho é muito comum. Quando estava eu na filinha para o caixa (Sussa!), adentra duas garotas (gostosas, diga-se de passagem) com roupas de quem vinham de alguma festa regrada a muito álcool. No que já faltava uma pessoa para eu pagar minha conta, as duas garotas chegaram com tudo e passaram em minha frente, perguntando, com aquele tom de voz de “mulher-que-sabe-o-material-que-tem”:
– Passamos em sua frente, tudo bem, né?
Aí você, reles mortal, que ainda não se libertou do ranço do cabaço responderia: “Claro que sim, pode passar”.
Mas não foi o que eu fiz (calma que eu ainda chego lá! Vamos por partes). Afinal, apesar de ter uma mulher gostosa que me satisfaz em cima da cama fora do meu alcance (minha namorada estava a uns 500 km de distância), naquele momento eu já tinha formado todo o cenário em minha mente bem rapidamente.
O cenário
Essas duas garotas gostosas (nem tanto, Escrevinhador Sincero, eram medianas. Notas 7,0 ou 7,5; talvez um 6,0) com certeza já passaram diversas vezes por situação semelhante. E mesmo não estando antes bêbadas, como agora, diversos carinhas já deram a preferência para elas no intuito de se apresentar como possíveis coitos futuros. Então, tudo iria se repetir nesse momento, em que tentavam me passar para trás, pensaram. Elas estavam apenas antecipando algo que iria acontecer naturalmente.
Mas nem a pau, Juvenal (mesmo a expressão sendo ambígua, vale citar)
Mas o que as “garotas gostosas” não imaginavam (ou a cachaça no juízo não as deixavam imaginar) era que eu também já havia antecipado o cenário.
Escuta que a história é boa!
O que faltou às “gostosas” visualizarem é que do outro lado da perguntinha idiota delas (“passamos em sua frente, tudo bem, né?”) estava um cara de quase 30 anos (sei muito bem que não é muito) que já comeu várias gostosas (algumas muito gostosas mesmo, outras nem tanto) como elas e já tinha se submetido a todas as situações possíveis para isso. E dentro dessas situações, nenhuma se parecia com a categoria “levar uma mulher para cama depois de deixá-la passar na frente da fila da loja de conveniência, enquanto ela estiver voltando bêbada de uma festa em que você não estava”.
Ou seja, não conheço nenhum caso (me corrijam se eu estiver errado!) de alguém que comeu alguma criatura depois de ter cedido a vez na fila de uma mercado a uma da madrugada. Só alguém realmente cabaço, na maior seca (comparável a pior que o Nordeste jamais viveu) pode imaginar que essa situação poderia gerar algum tipo de coito positivo.
Já informado por meu cérebro calejado, imune a situações de coito negativo (ou seja, se fuder por nada) respondi prontamente às duas gazelas:
– Não!
Mas minha resposta foi tão simples que elas entenderam errado, e agradeceram com um olhar de “mais um que caiu na nossa artimanha”:
– Obrigada!
No que eu fui mais enfático:
– Não, eu disse não. Não vou deixar vocês passarem na minha frente!
Fui direto ao caixa e paguei minha conta.
“Mas onde fica o seu cavalheirismo, Escrevinhador Sincero?”, você me pergunta. E eu lhe respondo na mesma moeda: onde fica a educação dessas garotas que acham que apenas por ter um corpinho arrumado podem furar uma fila, queridíssimo leitor? Pior, onde está o respeito com o corpo delas mesmas ao achar que apenas esse atributo serve para merecer a gentileza de um homem?
Não sei muito bem se por conta do estado alcoólico das “garotas gostosas”, pela minha reação surpreendente, ou por toda a situação, mas o fato é que todos em volta começaram a rir. Até eu mesmo. Menos elas que ensaiaram algum tipo de chacota contra mim, sem muito sucesso (claro que a cachaça no juízo não ajudou muito!).
Quando ia saindo do estabelecimento, me esbarrei com um homem que acompanhava as duas “gostosas” e ele me pediu desculpas pelo comportamento delas.