Fotos: Ailton Fernandes

Em Vitória da Conquista para a apresentação do show “Atento aos sinais”, o cantor Ney Matogrosso conversou com a imprensa nesta sexta-feira e falou sobre a turnê, os 40 anos de carreira e a vitalidade no palco, além das manifestações populares que têm acontecido pelo Brasil.

“Esse show é todo novo, é tudo muito inédito para mim. Estou cantando todo mundo que me interessa, inclusive um monte de bandas desconhecidas que eu estou botando na roda para a moçada. Eu acho que essa é uma das funções do intérprete: apresentar novos compositores”, destacou. “Mas não me preocupo com roteiro. Misturo Caetano, Paulinho da Viola e por aí vai, desde que seja coerente com o que eu quero mostrar. Eu penso: ‘se eu fosse compositor eu falaria disso?’ Se sim, entra”.

O repertório de “Atento aos sinais” estava sendo selecionado desde 2009 e já foi gravado em estúdio pelo cantor e deve ser lançado em CD entre setembro e outubro.

“O nome é trecho de uma música (“Oração”, de Dani Black) que está no show e que achei interessante porque estou pela primeira vez na minha vida fazendo um trabalho em que busco estar conectado com novos pensamentos de uma maneira maior. Não tem nada de apocalíptico, mas vejo que está ultrapassando a ideia inicial, estou cantando coisas ali que falam dos acontecimentos no Rio de Janeiro, por exemplo. Então significa que tem uma antena ligada, que está percebendo coisas que a gente não sabia que iriam acontecer e realmente eu estou atento aos sinais”, explicou o cantor.

SAM_4134 copy2CARREIRA – “O show não tem nada a ver com os 40 anos, só calhou de ser agora porque o show anterior durou três anos. Então, não é um show de ‘estou festejando’. Sou a mesma pessoa do início [da carreira], mas não aquele do Secos e Molhados, tem o desenvolvimento daquilo, o desenrolar daquela história e em nenhum momento eu estou preocupado em soar parecido. Sou a mesma pessoa, só que 40 anos depois. Para mim é nítido o amadurecimento humano e pessoal, que reflete no meu trabalho “.

“O que marca na minha carreira é essa necessidade de estar sempre experimentando, eu gosto muito de correr riscos e esse é um dos mais arriscados, mas eu nunca me deitei sobre louros, eu sempre quis mais, sempre quis experimentar, sempre quis novidades, sempre quis fazer diferente, nunca quis fazer um show de sucessos, poderia, eu tenho um número significativo de sucessos mas nunca me interessei em fazer um show assim, prefiro estar fazendo trabalhos que me estimulem. É o que dá prazer à vida”.

O PALCO – “É o foco da minha vida, subir no palco e fazer o show. O disco para mim é uma consequência, um cartão de visitas, mas a minha história é o palco. É o que eu gosto de fazer, por enquanto e ainda”.

VITALIDADE – “Eu ainda tenho a vitalidade, em geral as pessoas que chegam à minha idade já não tem mais. Ainda consigo subir no palco e fazer meu trabalho com o mesmo entusiasmo que eu tive até agora. Sei que vai chegar um momento que não terei, porque é natural chegar o momento que o corpo não vai corresponder à minha cabeça, mas ainda não chegou a hora. Eu sou capaz, estou capaz”.

ENVELHECIMENTO – “Dentro de mim eu não tenho uma idade cronológica que eu possa determinar, é engraçado isso e acho que isso é comum a todos, todos devem passar pelo mesmo processo e tenho observado esse comentário de muitas pessoas de mais idade e elas não se sentem velhas, se sentem como eram na adolescência, não me sinto um adolescente, mas eu não sei que idade eu tenho, não sei como é ou como seria ter a minha idade, não sei o que tem que mudar, o que tem que acontecer. Dentro de mim não muda, é uma coisa assim  que tenho uma curiosidade ainda pela vida. É muito estranho. É estranho porque você não se sente envelhecendo por dentro, só por fora, é muito estranho, mas todos passarão por isso e saberão o que estou falando”.

PÚBLICO JOVEM – “Quando eu comecei a perceber a aproximação dos jovens foi inesperadamente e me surpreendeu, porque foi fazendo ‘Cartola’. Eu fiz porque eu gostava do Cartola e queria fazer. Um certo dia numa padaria perto da minha casa, de madrugada, um jovem se aproximou de mim e disse ‘eu quero lhe dizer que você é o melhor interprete de Cartola’. Eu tomei um susto com isso porque eu não esperava. Eu achava que essas pessoas não ouviam Cartola e que nem sabiam quem ele era. Então, nesse momento eu senti uma aproximação de gente mais jovem e daí em diante, cada vez mais, agora eu acho que está bem explícito, mas isso ainda vem acontecendo”.

CARETICE – “Nós vivemos num país muito mais careta que na década de 70, que era debaixo de uma ditadura, mas havia uma mentalidade mais aberta e, hoje em dia, nosso país é mais careta de uma maneira geral e o que eu faço soa como uma coisa provocadora, mas já deviam ter se acostumado comigo”.

QUESTÕES DE GÊNERO – “Assim caminha a humanidade. Eu tento olhar isso aí como um processo evolutivo, de aceitação das pessoas. Eu abro o show com uma música que diz: ‘todo mundo tem direito a vida e todo mundo tem direito igual. Travesti, trabalhador, turista, solitário, família, casal, todo mundo tem direito a vida, todo mundo tem direito igual’. Tá bom como pensamento?”

MANIFESTAÇÕES – “As manifestações em si são válidas e é um direito do povo, agora o vandalismo é tão estranho que, como a política tem a mentalidade tão pervertida, chego a pensar que podem ser políticos pondo gente para desvirtuar o acontecimento histórico. Por que não prendem nenhum mascarado? Deixa a desconfiança maior e o que a polícia fez foi não perseguir, liberaram os mascarados para depredarem”.

Ney se apresenta no Centro de Convenções Divaldo Franco neste sábado, 20 de julho, às 22:30. O show é uma promoção do Massicas, integrando o projeto “Conquista Cultural”, comemorativo aos 40 anos do bloco. Ingressos à venda na Banca Central.

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