Um piano e uma guitarra aguardavam o cantor Luiz Caldas no palco, o mesmo que recebeu durante a programação do Natal da Cidade nomes como Erasmo Carlos, Milton Nascimento, Nando Reis e Maria Gadú. Na sua chegada, o baiano iniciou sua apresentação com um solo de guitarra, animando o público que o aguardava com ansiedade, logo depois deu voz a “Ajayô”, uma das músicas de carnaval que o fez conhecido por todo o Brasil.

Ali na Barão do Rio Branco passa um filme na cabeça do cantor. O lugar é especial para ele, que viveu em Conquista durante a infância e onde iniciou sua carreira na música, fazendo aqui os seus primeiros contatos com ritmos diversos e instrumentos musicais. “Esse palco está montado onde era um restaurante onde eu já toquei violão, o chamado ‘Poleiro’ antigamente. Então, Conquista que me deu régua e compasso para que eu pudesse me tornar um multi-instrumentista, porque foi aqui que eu tive contato com um grande músico na época chamado Dalmar, que conhecia a fundo harmonia de violão, era um dos caras que eu pescava, então pra mim é muito prazeroso voltar aqui”, conta.

Fotos e texto: Ailton Fernandes

Sem perder o rebolado, Luiz surpreendeu o público ao ir para o piano para tocar e cantar músicas como “Casinha branca”, “Medo da chuva” e “Super-homem”. Mais surpresa ainda foi quando ele cantou versões das músicas de Pe. Zezinho, “Oração da família” e “Amar como Jesus amou”, esta última com a participação do amigo Seca Gás na bateria.

A maioria das pessoas queria vê-lo cantar “Nega do cabelo duro”, “Haja amor”, “O que essa nega quer”, “Tieta” e “Fricote”, mas Luiz Caldas foi mais além e fez até a galera do rock’n’roll sacudir a cabeleira, com músicas como “Sultans of Swing”, de Dire Straits. No repertório ainda entraram “I miss here”, “Three Little Birds”, “É de Oxum”, “Dandaluna” e “Toda menina baiana”.

“É um repertório bem mesclado, o que eu acho que combina bastante com a pauta da festa, com a forma como Conquista vê cultura e vê o Natal e para mim é muito prazeroso voltar aqui e ver que, ao contrário de muitos lugares, se mantém essa chama de cultura, de procurar coisas diferentes e desafiar o gosto da massa para fazer algo que vai ser benéfico para a cultura e para a cidade”, disse o cantor, que fez questão de atender a imprensa antes do show, mesmo recebendo muitos conhecidos da cidade no seu camarim.

renato braz

RENATO BRAZ – Quem também surpreendeu no palco foi o paulista Renato Baz, pouco conhecido das pessoas que estavam ali esperando pelo baiano Luiz Caldas, mas que fez o público cantar junto. “Eu não faço set-list, não faço roteiro e os músicos trabalham comigo há muito tempo, então sempre tem vazão para fazer assim, meio imprevisível”, diz ele, que fez um apanhado das músicas que gravou ao longo dos seus quase 20 anos de carreira.

“Ponteio”, “Todo menino é um rei”, “Água da minha sede”, “Canto das três raças”, “Cálice”, “Só louco”, “Azul da cor do mar”, “Boiadeiro” e até “Sítio do pica-pau amarelo” foram algumas das canções escolhidas por ele para apresentar ao público conquistense. Aclamado, no bis fez “Saudosa maloca”, em dueto com o público.

“Nasci em São Paulo, meu pai era baiano e minha mãe do interior de São Paulo, acabo sendo uma mistura de tudo isso, com certa admiração por Minas Gerais e com uma ligação muito forte com a Bahia do meu pai e mais especificamente com a música nordestina”, conta o cantor, que recentemente se apresentou em Nova Iorque ao lado de Ivan Lins e Paul Winter numa catedral gótica. Lá ele propôs incluir a música “Bandeira do divino”, do Ivan Lins, no repertório e tentou explicar, em inglês e sem muito sucesso, o que era uma folia de reis.

“Daí quando chego aqui e entro em um casarão, tem tudo representado ali, aí você sente que é nosso, é autoexplicativo, é da nossa cultura e é o princípio de tudo, é onde está tudo”, relata ele, que visitou o Memorial do Reisado e se surpreendeu com a exposição.

vivaldo bonfim

VIVALDO BONFIM – A última noite do Natal da Cidade teve, logo após o tradicional encontro dos ternos de reis, o cantor Vivaldo Bonfim no palco. Com um repertório baseado nas suas principais influências, o conquistense interpretou sucessos da Jovem Guarda, dos Beatles e também composições próprias.

“Esse show irá transmitir uma mensagem ao público e para mim é uma honra estar mostrando esse show depois de um bom tempo afastado”, disse ele que iniciou sua apresentação com “Todos estão surdos”. O ex-tripidantes ainda cantou “A palo seco”, “Amazonas” e “Não tem lua”, deixando a praça animada para as demais atrações.

Confira toda a cobertura do Natal da Cidade

OUTRO CORPO CAÍDO – Poucos minutos após o fim do show de Luiz Caldas, um pipoco foi ouvido na praça. As pessoas que ainda estavam ali saíram correndo em desespero e logo a frente do palco estava deserta. As pessoas corriam sem saber para onde e não viam o que realmente havia acontecido, a polícia chegou numa viatura e já entrou com arma na mão. Era hora de ir embora.

Ao descer em direção à rua Dois de Julho, uma pequena aglomeração de pessoas cercava um homem ferido na esquina do Banco do Brasil. Estirado e sangrando, a respiração estava intensa e ainda não havia chegado o socorro. Os curiosos ficaram e eu, infelizmente, me despedi do Natal da Cidade com aquela cena, sem saber quem era aquele homem, o porquê levou um tiro ou se sobreviveria.

Na madrugada do dia 23, outros disparos atingiram duas pessoas que estavam na Barão do Rio Branco. Fala-se que as ocorrências estão relacionadas a brigas entre grupos de traficantes da cidade.

Deixe um comentário