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Documento emitido pela Aeronáutica em 1971 determinava a morte de Glauber Rocha, avalia Comissão da Verdade do Rio de Janeiro

Documentos revelados pela Comissão da Verdade do Rio de Janeiro revelam que militares monitoravam cineastas brasileiros e que o diretor Glauber Rocha, um dos nomes mais importantes do Cinema Novo, esteve marcado para morrer durante a ditadura militar no país.

Na primeira página do documento, datado de setembro de 1971, está a palavra “morto”, escrita à mão. De acordo com informações da própria Comissão ao UOL, a palavra era praxe na época para determinar que o indivíduo precisava ser morto.

Na mesma época em que a ordem teria sido dada, Glauber partiu, por vontade própria, para o exílio.

Relatório cita artistas, como Gilberto Gil, Caetano Veloso, os cineastas Nelson Pereira do Santos e Joaquim Pedro de Andrade, e o dramaturgo José Carlos Martinez, como pessoas citadas por Glauber em prol da "revolução comunista"
Relatório cita artistas, como Gilberto Gil, Caetano Veloso, os cineastas Nelson Pereira do Santos e Joaquim Pedro de Andrade, e o dramaturgo José Carlos Martinez, como pessoas citadas por Glauber em prol da “revolução comunista”

O relatório produzido pela Aeronáutica descreve Glauber como um dos líderes da esquerda brasileira. A monitoração em torno das atividades do diretor de “Deus e o Diabo na Terra do Sol” e “Terra em Transe” era feita através de entrevistas que Glauber concedia a publicações europeias, sempre críticas ao governo militar e a repressão. Os depoimentos do cineasta era considerada pelos militares como um “violento ataque ao país”.

Em 1971, Glauber já era um cineasta de destaque no exterior tendo, inclusive, ganhado o prêmio de Cannes. Nas inúmeras entrevistas no exterior, ele citava o que desagradava o regime, já que ele falava em tortura, massacre de indígenas, execuções, financiamento dos Estados Unidos, Japão, Alemanha, no apoio ao regime.

Além de anexar as entrevistas, os relatórios tecem comentários sobre a vida de Glauber Rocha e sua filmografia. “seus desejos são de um comunista convicto, à serviço do imperialismo soviético. Demonstra que usou e abusou do cinema brasileiro, do qual recebeu auxílios e incentivos, em prol da revolução comunista”.

Sobre o longa “Cabeças Cortadas”, lançado naquele ano, os militarem dizem: “[tem] objetivo político que, por meio do simbolismo, demonstra o rancor de Glauber Rocha em relação ao regime vigente no Brasil.

Em outro documento, os militares listam os amigos de Glauber, na música, no teatro e no cinema, e comentam suas atividades “achincalhadas”.

“Seus comentários a respeito de Carlos Diegues, Nelson Pereira dos Santos, Saraceni, Joaquim Pedro de Andrade, Caetano Veloso, Gil, e José Celso Martinez demonstram, ampliam, os conhecimentos que, embora já sabidos, devem ser sempre lembrados, sobre as verdadeiras finalidades das atividades desses elementos. A situação maléfica que exercem está sempre presente, “bastando lembrar o grande sucesso que, há pouco, tiveram Caetano e Gil em sua temporada no Brasil, onde atuaram até no Teatro Municipal, num achincalho àqueles que combatem a subversão no Brasil”, diz o trecho.

Os documentos serão divulgados neste sábado (16), durante homenagem da Comissão ao cineasta, que acontece no Parque Lage, no Rio de Janeiro, às 15h. Será entregue à família de Glauber uma série de documentos que mostra a importância das denúncias que Glauber fez à imprensa e o acompanhamento que ele sofria pelos órgãos da repressão. O evento confirmou a presença dos filhos de Glauber, Erik e Paloma, além de Zelito Viana e Silvio Tendler.

A programação termina com a exibição gratuita de “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, marco no cinema político brasileiro, que completou, recentemente, 50 anos. (Do Uol)

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