Texto e fotos de Maria Eduarda Carvalho

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“Nós pousamos em Vitória da Conquista, onde fomos calorosamente bem-vindos! Quem vai vir para o nosso show aqui esta noite?” As palavras são de Floor Jansen, musa headbanger e vocalista das bandas Nightwish e Revamp. O comentário publicado via Instagram vinha adicionado a uma foto onde Floor e outros integrantes da banda sorriam ao lado de fãs conquistenses. “É um privilégio ter contato com uma cantora ao nível de Floor Jansen, da banda tão consagrada que é o Nightwish, apesar de ter lido notícias adversas do posicionamento da cantora com os fãs, tive uma ideia completamente diferente, de muito profissionalismo e carisma”, relata Yuri Moura, um dos sortudos que aparece na fotografia.

A recepção no aeroporto é somente um dos muitos exemplos de admiração que os fãs demonstrariam durante o dia de ontem, 21. Antes da abertura dos portões, que aconteceu por volta das 21 horas, uma fila já se organizava em frente. Ansiosos, mas bem organizados, os fãs discutiam possibilidades de setlist e discretamente se acotovelavam para descobrir quem seria o primeiro a pisar o solo do Ibiza Hall.

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Existe uma mística que envolve os shows de rock, principalmente os de metal onde cada pequena parte da apresentação tem uma importância enorme. O ritual começa antes da disputa na fila já mencionada, na compra do ingresso. Ser o primeiro a comprar é uma honra, mais do que comparecer é preciso que, de alguma forma, tudo naquele momento seja mágico. Depois da compra, da espera, da entrada, vem uma das melhores partes, a luta pela grade. Aquele pedacinho de chão logo depois da barra de ferro, o céu dos shows de rock. É importante ficar o mais perto possível, se manter conectado.

Mas até os shows de rock estão mudando, o que era geralmente um ambiente de poucos celulares empunhados e muito bate cabeça, tem cedido espaço a importância dos registros e das fotografias digitais. Perto do palco muitas câmeras, mas também muita emoção. A alegria vinha a tona em gritos, os amigos compartilhavam piadas e tentavam sem muito sucesso alguma comunicação com os músicos holandeses.

O repertório completamente autoral trouxe canções mistas, um pouco dos cinco anos de existência do grupo. As composições alternavam entre calmas e pesadas, ora Floor encantava com sua perfomance vocal acompanhada do teclado, ora alucinava a multidão com o bate cabeça coordenado em conjunto com os outros músicos da banda. Era impossível se desconectar do palco, mesmo que muito contida, a exuberância da cantora arrastava a atenção. Os guitarristas não deixavam por menos, as caras e bocas eram o principal diálogo com o público que no final ganhou de brinde palhetas, setlists e até munhequeiras.

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Floor também se comunicava bastante, interagia com o público, mesmo que em inglês o que talvez seja a razão de poucas respostas coordenadas. Além disso, por conta da pouca luz, a cantora repetiu algumas vezes que apesar de alta não conseguia ver o público, mas que os sentia e que a energia estava ótima. O show, que foi o primeiro da noite, acabou cedo e o público, que em sua maioria na quinta-feira tinha que trabalhar, também acabou esvaziando a pista – infelizmente – para os cariocas da banda Maldita.

Eles entraram sem ser anunciados e não demoraram a disparar a torrente de canções rápidas, furiosas e exasperadas. A banda Maldita é velha conhecida do público conquistense, já tocou por aqui algumas vezes e em situações bem diferentes. Há poucos anos seguem se apresentando com dois vocalistas, o que aumenta bastante a confusão já característica do palco.

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A banda parecia não se importar muito com a dispersão do público e tocou o show com a desenvoltura de sempre. Para Vítor Melo, que aguardava especialmente a apresentação, foi uma boa performance: “eu achei muito legal, só fiquei triste porque estava vazio, acho que a cidade já comporta eventos assim, mas infelizmente, o próprio público da cena alternativa não valoriza essas iniciativas!”

A reflexão de Vítor foi repercutida de modo geral, a iniciativa de trazer um show internacional para Vitória da Conquista é sem dúvida arriscada, mas deve ser exaltada. São riscos como esse que colocam a cidade no mapa de produção cultural principalmente se tratando de música. Mas, o que falta? Além da força de vontade, quase tudo. Os espaços para eventos desse porte ainda são escassos, os custos elevados e patrocínios quase inexistentes. Diante de diversos poréns, realmente se faz necessária a participação mais ativa do público, é importante comparecer, contribuir, estimular a cadeia produtiva de shows tanto de atrações locais quanto nacionais e, por que não, internacionais?

A vinda de Revamp é só mais um dos casos que exemplificam como o global pode estar mais perto do que se imagina, principalmente se contar com uma forcinha do que é primeiramente local.

Mais fotos abaixo:

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