É dele músicas como “Preta, pretinha”, “Mistério dos planetas”, “Acabou chorare”, “Besta é tu” e outros sucessos do Novos Baianos, grupo que integrou na década de 70 ao lado de Moraes Moreira, Pepeu Gomes, Baby Consuelo, Paulinho Boca e Dadi. Aos 76 anos, Luiz Galvão participou em Vitória da Conquista do Festival da Juventude, ao lado do cantor e também compositor Arnaldo Antunes, falou sobre sua produção poética e recitou versos. Após o encontro, Galvão respondeu a perguntas dos jornalistas Gil Brito e Ailton Fernandes. Confira o bate-papo!
GIL BRITO – A maioria das suas composições, até hoje, são conhecidas, principalmente pelo público jovem. O que você acha dessa permanência da música no gosto das pessoas?
LUIZ GALVÃO – Eu quando fiz, fiz para isso. Era uma coisa pela consistência e não uma coisa para vender. Não por vaidade, mas é que eu só sei fazer assim. Dizem que eu sou poeta e eu termino acreditando e minha mãe dizia que já era desde pequenininho.
AILTON FERNANDES – Então, hoje você continua escrevendo?
LG – Sim, mas eu quero fazer mesmo é cinema, estou fazendo um filme e quero terminar. Na verdade, são dois, o “Novos Baianos Futebol Clube”, e o outro é o que eu mais gosto, “O Umbuzeiro Doce e Azedo”, é um romance que vai virar filme, a história de uma cidade, que é a minha cidade [Juazeiro] com outras coisas boas de outras cidades também que eu botei. Tem uma peça de teatro que eu quero que ela vá para a praça também, mas eu não tenho mais a peça, sei que um cara que trabalhou na peça lá em Juazeiro, que eu escrevi ela lá, eu tenho que ir lá para ver se ele tem essa peça para eu reescrever, porque ela tem que ser atualizada.
GB – A forma como os Novos Baianos conviviam, morando em comunidade, facilitava o exercício de criação?
LG – De uma certa forma sim, porque havia uma motivação por estar todo mundo junto, era uma alegria. Um dia a gente
estava jogando futebol na sala, daí o dono do apartamento de baixo veio e disse: “continuem jogando aí, mas você que é
mais velho venha cá”, eu fui lá e o lustre do cara tava assim [tremendo], então saímos procurando um sítio e fomos morar no sítio. Era assim que as coisas aconteciam, natural, não era uma coisa programada.
AF – A principal influência dos Novos Baianos foi o João Gilberto, mas o que mais vocês ouviam naquela época?
LG – A gente ouvia Dorival Caymmi, Ary Barroso, Assis Valente, os grandes e os antigos, mas não ouvíamos muita coisa não. Era isso aí, mas o importante não era o que a gente ouvia, eu não gosto de ter influência de nada não, porque quando vou fazer um disco não quero ouvir ou ver nada para não ter influência. Gosto de fazer as coisas do nada.
AF – Talvez por isso o “Acabou Chorare” é classificado como o principal disco da música brasileira…
LG – Eu gosto muito do “Acabou Chorare”, embora o “Futebol Clube” seja tão bom quanto, mas o “Acabou Chorare” tem os sucessos “Preta, Pretinha”, “Besta é tu”, “Mistério dos planetas”…
AF – É possível fazer um paralelo entre a juventude que fazia música naquela época com a de hoje em dia?
LG – Hoje se faz muito para vender, porque está acontecendo isso aqui e ali e vai e faz igual, então, é diferente, porque naquela época as coisas aconteciam naturalmente, porque não tinha essa coisa de vender, a diferença é muito grande. Essa coisa de hoje está acabando com o bom, se o cara for milionário ele pega o filho dele e bota pra fazer sucesso sem o cara fazer porra nenhuma. O talento não é mais necessário.
AF – Em 2009, foi anunciado que os Novos Baianos iriam se juntar para gravar um disco de inéditas em comemoração aos 40 anos do grupo e isso não aconteceu…
LG – Ainda estão querendo aí. Mas, eu digo: “arranje muito dinheiro, porque eu nunca vi ninguém rasgar dinheiro, não”.
GB – Antes dos Novos Baianos, você já tinha uma relação próxima de João Gilberto, por serem de Juazeiro. Foi você que articulou aquela visita histórica dele ao apartamento dos Novos Baianos?
LG – Foi. Eu chamei e ele disse: “não quero conhecer ninguém não, já conheço muita gente”. Eu insisti e falei: “vamos
João, é um pessoal legal”, daí ele foi. Chegou lá, sentou, começou a tocar e disse “chama aquele vaqueiro ali”, chamei o
Moraes, aí Pepeu veio e começou a tocar e ele deixou Pepeu mais louco e Pepeu: “dancei”, aí ele disse: “não, Pepeu, vai ter muita gente querendo tocar com você, eu só tô lhe ensinando”. João era assim, era assim não, é assim!
AF – Tem aproximação com ele ainda hoje?
LG – Rapaz, eu tenho, mas tem tempo que eu não o vejo. Ele perguntou por mim outro dia, aí conseguiu e eu não
sei como encontrá-lo, não.
AF – Em 2010, um repórter promoveu um encontro entre os componentes dos Novos Baianos para visitar o sítio, mas Pepeu e Moraes não foram. Depois da publicação, o Moraes escreveu uma carta falando que a reaproximação é impossível porque naquela época o Novos Baianos era quase uma religião e que hoje cada um tem a sua. Esse afastamento dele é mesmo só por conta das diferenças?
LG – Não sei, Moraes eu não sei como é que é… Uma vez ele me ligou dizendo que eu era o cara e pá-pá-pá, que queria me
encontrar, que ia me ver lá em casa e não foi, eu fiquei até querendo encontrá-lo porque eu gosto muito dele e acho que há possibilidade de fazermos alguma coisa ainda, não sei, acho que não acabou, o mundo não acabou… Eu acredito que tenha a possibilidade, embora cada um tenha a sua maneira de conduzir as coisas, quero sempre fazer as coisas e estar sempre novo, com pique e em qualquer área, música, cinema, teatro…