Por Camila Bárbara*

A venda de LPs nas ruas da cidade está cada vez mais rara, porém, em Vitória da Conquista este comércio ainda não está extinto.

vinil1Bem no centro da cidade, em meio ao fluxo constante de pessoas circulando para todos os lados, há um engraxate que trabalha exibindo um sorriso simpático no rosto. Sentado no seu banquinho, pode-se ver uma coleção de discos ao seu lado. Desde os anos 70, Hélio Andrade Cruz, de 54 anos, possui um trabalho duplo de engraxate e vendedor de discos LP.

Hélio diz possuir um acervo de cerca de 10 mil LPs em sua casa, a maioria comprados em São Paulo. Ele os coleciona e seleciona alguns que leva ao Centro de Conquista para a venda, sendo que alguns são encomendados. Os preços variam de 5 a 100 reais – este último é o preço do LP do “rei do POP”, Michael Jackson.

Para o engraxate, a moda dos discos de vinil está voltando, principalmente para os jovens. “Antigamente os jovens nem pensavam em vinil, agora eles estão mais curiosos. Agora é só de rock”, ele explica, comentando o gosto musical dessa geração. Para ele, a qualidade do LP não pode ser substituída. “O agudo que tem no LP não tem no CD”, contou.

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Quem encontrar os vinis de Hélio no centro da cidade verá que tem para todos os gostos e estilos musicais: desde POP e rock até forró e MPB, cantados por artistas como Michael Jackson, Zé Ramalho, Milton Nascimento, Luiz Gonzaga, Gal Costa, Tim Maia, Phil Collins, entre outros.

Rubens Pereira dos Santos, 49 anos, funcionário público, estava sentado ao lado do vendedor, e também aprecia o som do LP. “Quando alguém diz que ‘esse CD é gravado diretamente do LP’, quer dizer que a qualidade é boa”. Rubens possuía os seus próprios, mas disse que hoje não sobrou nenhum. “Eu tinha muitos, mas eu dei muitos pro meu sogro e vendi alguns. Me arrependi, porque eu queria agora pra deixar como lembrança”, contou Rubens.

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Na Rua Ernesto Dantas, centro da cidade, está situada a loja A Tropicália Discos, onde são comercializados CDs e LPs. O proprietário Nadinho Rocha, 59 anos, vende lá os mais diversos estilos musicais, nacionais e internacionais, porém não trabalha com lançamentos em LP. “O preço do vinil ainda é caro – até três vezes mais que o de um CD – não vai popularizar”. Segundo ele, a venda hoje é razoável, e os preços variam de 5 a 15 reais, com ainda alguns que chegam a custar até R$ 150.

Embora sua visão a respeito do futuro do LP seja um pouco mais pessimista que a de Hélio Andrade, Nadinho admite que haja nele aspectos positivos. “Segundo os entendidos, a qualidade do LP é melhor que a do CD. Para mim, a vantagem do LP é que não há falsificação”. Além disso, ele acha que manusear um vinil “é mais prazeroso”.

É muito raro encontrar hoje lugares que vendam LP – se você estiver procurando um lançamento, a melhor solução é comprar diretamente pela internet –, mas ele ainda não foi completamente esquecido das ruas da cidade. A prova disso são os vendedores Hélio e Nadinho. Talvez esta nova geração não tenha tido a chance de conhecê-lo, mas esta regra não se aplica a todos os jovens que curtem uma boa música.

*Publicada originalmente no jornal-laboratório do curso de Jornalismo da Uesb.

Fotos de Brenda Damasceno

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