anesia cauaçu cartaz A3 (2)

Ela se chamava Anésia Cauaçu e foi a primeira mulher no sertão baiano de Jequié a ingressar no cangaço, a liderar um bando de cangaceiros, a praticar montaria de frente, a vestir calças compridas nos combates para facilitar no enfrentamento com jagunços e tropas policiais, além de ter sido a primeira mulher branca a lutar capoeira. Quem afirma isso é o jornalista e pesquisador Domingos Ailton, autor do livro “Anésia Cauaçu”, que será lançado em Vitória da Conquista neste sábado, 28.

O lançamento acontece às 19 horas no Museu Regional (Casa Henriqueta Prates, na praça Tancredo Neves).

A família Cauaçu inicia seus confrontos para vingar a morte de Augusto Cauaçu, assassinando Zezinho dos Laços em uma tocaia na Fazenda Rochedo, na região de Ituaçu, com uma bala feita do chifre de um boi preto, confeccionada por um pai de santo que cuidava do povo pobre da região. A partir daí, a família Silva, a qual pertencia Zezinho, passa a perseguir e matar membros da família Cauaçu e do bando de cangaceiros que acompanha o grupo comandado por Anésia e seu irmão José Cauaçu.

O movimento armado foi classificado pelo governo do estado como “conflagração sertaneja”, fazendo com que 240 soldados se deslocassem para Jequié para combater o grupo. Em um dos combates, José Cauaçu é ferido e morre oito dias depois. Anésia é presa, mas depois é libertada, quando concede entrevista ao jornal A Tarde, em outubro de 1916, sobre a história do bando.

Segundo o autor, Anésia tinha muita habilidade para os combates, além de uma força extraordinária e muita coragem, qualidade que fizeram surgir o mito de que ela se desmaterializava transformando-se em rocha ou em toco de árvore.

O romance se reporta também a episódios envolvendo personagens da República Velha e da Revolução de 1930 e seus reflexos em Jequié e na região, além de fazer referências às manifestações religiosas e da cultura popular do sertão. A trama ficcional se baseou também em narrativas orais de pessoas que ouviram histórias relacionadas aos Cauaçus ou que chegaram a conhecer personagens do romance, como  a centenária  Alvina Ferreira, que morreu com 112 anos e conviveu com Anésia Cauaçu, ou  Braulino Antônio de Souza, que morreu aos 96 anos, não sem antes ter conhecido o  pai de santo Heitor Gurunga.

A obra procura também preservar a pronúncia e a morfossintaxe popular. Palavras e expressões da variante linguística do catingueiro das primeiras décadas do século XX foram conservadas. Anésia Cauaçu pode ser considerada uma meta-narrativa histórica  em que  o autor   procura,  na ficção, revelar fatos históricos e acontecimentos presentes na memória coletiva através da tradição oral.

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