O jornalista Fernando Conceição foi obrigado por uma liminar da Justiça Eleitoral a mudar o título de uma matéria que publicou em seu blog. O candidato à prefeitura de Salvador, Mário Kertész (PMDB-BA), solicitou que todas as matérias sobre ele fossem retiradas do veículo, mas a juíza eleitoral Maria Fátima Monteiro Vilas Boas determinou somente a alteração de um título.
O título original era “Chame o ladrão”, refrão da música “Acorda Amor“, de Chico Buarque, e um trocadilho com o slogan “Chame Mário”, utilizado na campanha do candidato do PMDB. Após a liminar, Conceição mudou o título para “Rosquinhas de milho!” – fazendo referência à época da ditadura militar, em que jornais publicavam receitas no lugar das matérias censuradas.
Na matéria, o jornalista fala sobre os rombos da época que Kertész foi prefeito da capital baiana, os seus negócios bem-sucedidos na área da comunicação e seus apadrinhamentos.
“Depois de anos alimentando sua campanha à frente da rádio que comprou a partir daquela época – e cacifado pelo PMDB de Geddel Vieira Lima e do vice-presidente da República, Michel Temer”, escreve o jornalista, que ainda ressalta: “Mário Kértèsz foi primeiramente prefeito biônico, no tempo da ditadura militar. Apadrinhado politicamente pelo cacique Antônio Carlos Magalhães, foi sumariamente demitido por seu mentor em 1981, na sequência de duas semanas de quebra-quebra de ônibus na capital baiana, que foi então ocupada pelas Forças Armadas, resultando em vítimas fatais da violência que se abateu sobre a cidade”.
Em outra postagem, o jornalista afirma que “a juíza impôs derrota ao pedido do empresário e candidato a prefeito de Salvador, Mário de Mello Kertész, que representou em juízo contra este site solicitando a suspensão total da veiculação das matérias que vêm sendo aqui postadas sobre o período em que Kertész foi prefeito (1986-1988)”. Segundo ele, a decisão judicial sobre o título é provisória.
Fernando Conceição é professor e pesquisador da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia, ex-repórter do jornal A Tarde, editor do Jornal alternativo A Província e ativo participante das discussões em torno das questões raciais.