O homem mais rico do Brasil é sócio do grupo controlador da Anheuser-Busch InBev e da gestora 3G, com participações no Burger King e na Heinz
Na noite de autógrafos do ex-tenista Gustavo Kuerten, em setembro, em São Paulo, um discreto senhor de 75 anos e cabelos grisalhos, com um livro sob o braço, esperava pacientemente na fila, entre 500 convidados, o tricampeão no saibro de Roland Garros autografar o seu exemplar. Com camisa social clara e uma malha roxa ao redor do pescoço, Jorge Paulo Lemann fez uma rara aparição pública para cumprimentar, pessoalmente, o maior tenista brasileiro que viu jogar. Passou despercebido por muitos, desconhecedores da presença do homem mais rico do Brasil, segundo a Forbes, e sócio do grupo controlador da Anheuser-Busch InBev, dona da maior cervejaria do mundo, e da gestora 3G, com participações na rede Burger King e na Heinz, a marca de ketchup mais conhecida do planeta.
Pelo segundo ano consecutivo o líder empresarial mais admirado do País, Lemann tem muitos pontos em comum com o ex-primeiro colocado no ranking mundial de tênis: além da paixão pelas quadras (o empreendedor foi pentacampeão brasileiro do esporte e chegou a defender o Brasil na Taça Davis), ambos compartilham o amor pelas ondas. Enquanto Guga surfava em Santa Catarina, Lemann era presença recorrente nas areias do Arpoador, na zona sul carioca. Ambos sempre nutriram o desejo de se tornar os melhores em suas carreiras profissionais. Guga ficou 43 semanas como primeiro colocado no ranking, Lemann desistiu das raquetes ao perceber que dificilmente seria um dos dez primeiros colocados e concentrou-se no mundo dos negócios, onde se tornou um ícone.
Do esporte ele extraiu algumas lições futuramente utilizadas nos negócios. “O tênis exige muita disciplina, muito treino, muita competição. Você aprende que, para ser bom, é preciso treinar e gostar muito do que faz. Ganha e perde e, quando é derrotado, tem de avaliar o que pode melhorar. Nos negócios, a minha atitude foi fazer força, treinar, ter foco e, quando surgem algumas oportunidades, é preciso agarrá-las”, afirmou, em uma rara entrevista à Fundação Estudar.
O aprendizado das quadras e das ondas somou-se ao acadêmico. Aos 17 anos, ingressou na Universidade Harvard, na sua primeira viagem aos Estados Unidos. Sofreu com o frio e a distância da praia, contou a universitários brasileiros durante um evento. Para passar de ano, usou um pouco do jeitinho brasileiro. Descobriu com alunos de anos anteriores que as provas praticamente se repetiam semestre após semestre e que poderia pesquisá-las na biblioteca. Assimilada a dica, tornou-se um dos melhores alunos. “Poderia ter aprendido muito mais, mas a experiência foi transformadora, moldando princípios tanto na vida pessoal quanto na profissional”, disse.
Trocou a prancha e a raquete por livros de Platão. O sonho de ganhar um campeonato de tênis ou de ser o melhor surfista foi deixado de lado. “Passei a ter sonhos grandes, de fazer maior e melhor. Aprendi também em Harvard a selecionar pessoas, porque ali estava cercado das melhores do mundo. Reconhecer a excelência individual é algo que se aprende e o convívio mostra quem são eles, quais são os portadores dessa qualidade”, relatou no evento da Fundação Estudar, criada por ele, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, dois sócios participantes da fusão de Brahma e Antarctica. Em Harvard, viu também o poder que as boas ideias poderiam ter.
A carreira bem-sucedida teve tropeços. Em 1966, segundo o livro Sonho Grande, de Cristiane Corrêa, a corretora Invesco, primeira empresa em que teve participação acionária, quebrou. Sua cota de 2% virou pó. A falência o deixou com mais vontade de aprender e dar a volta por cima. Ele soube extrair lições dos erros e transformar as oportunidades em negócios rentáveis, caminho para alçar grandes voos e se tornar um dos símbolos do capitalismo emergente, principalmente depois de participar da aquisição de empresas com marcas mundialmente afamadas.
(Da Carta Capital)