As ossadas encontradas durante a construção do Jardim das Borboletas foram atribuídas aos índios, daí o mito de que ali ocorrera o Banquete da Morte

Vitória da Conquista chega aos seus 172 anos e, ainda hoje, alguns equívocos são cometidos por algumas pessoas que contam sobre a origem da cidade. O livro do professor Durval Menezes, “A Conquista dos Coronéis”, é esclarecedor em algumas dessas questões. Uma delas é o mito criado em torno da figura indígena.

De acordo o historiador, a luta entre bandeirantes e índios não ocorreu no lugar onde dizem que ocorreu, onde está a praça Tancredo Neves e a catedral de Nossa Senhora das Vitórias, e sim numa área muito mais acima. Aliás, a obra do professor Durval ainda revela que os índios sequer viviam onde hoje está a zona urbana da cidade. Leia abaixo trechos do livro.

Não tinha índios na Serra do Periperi
A localização geográfica de Vitória da Conquista com o seu clima de baixa temperatura, principalmente no decorrer da noite, com ventos fortes e úmidos no período da estação do inverno, jamais permitiria a permanência de índios. A temperatura no fim do século XIX e início do século XX, no perímetro urbano de Vitória da Conquista, chegava a atingir 2 ⁰C, condição insuportável para quem andava completamente nu.

Quando o bandeirante João da Silva Guimarães conquistou o Sertão da Ressaca, aqui existiam milhares de índios. Na realidade, os índios não ocupavam as terras que hoje compreendem o perímetro urbano de Conquista, mas, sim, as áreas do seu contorno periférico. Os índios pataxó, mongoió e imboré viviam em áreas de clima quente. Povoavam as matas do Catulé, Marçal, Itambé, Itapetinga, Macarani, Itarantim e toda a região do Vale do Rio Pardo. Também ocupavam as zonas das caatingas e chapadas.

Nunca existiu cemitério indígena
Não procede a informação de que são de origem indígena as ossadas encontradas em frente à Igreja Matriz, na atual Praça Tancredo Neves por ocasião das escavações dos alicerces para construção do Jardim das Borboletas. Existe outra versão! Em 1954, foi eleito prefeito de Vitória da Conquista Edvaldo de Oliveira Flores, político de mente aberta e homem de visão, que não se contentava em ser apenas prefeito de uma cidade que ainda não se destacava no cenário baiano, arquitetou um plano para o crescimento político do município. Inicialmente mandou fazer o projeto de um belíssimo jardim a ser construído na praça principal em frente à Catedral. O prefeito, visando seu nome, divulgou que, durante as escavações para construção do jardim, foram encontradas ossadas de índios sepultados em frente à Catedral.

Centenas de pessoas correram para o local, acreditando que eram dos índios mortos por ocasião do chamado “Banquete da Morte”. Quase toda a imprensa da Bahia divulgou o acontecimento, até mesmo a Rádio Nacional do Rio de Janeiro. É claro que, em todas as reportagens, constava o nome do prefeito construtor do jardim. Um jornal de Salvador publicou a seguinte manchete: “Vitória da Conquista desenterra o passado e o prefeito constrói o mais belo jardim da Bahia.” O prefeito alcançou o seu objetivo ao eleger-se deputado federal e, anos depois, vice-governador da Bahia, chegando a assumir o governo do estado.

A ossada enterrada em frente à Igreja Matriz nunca foi de restos mortais de índios. Vejamos a explicação: em 4 de novembro do ano de 1858, o Conselho Municipal encaminhou ofício ao governo do estado em que solicitava recursos no valor de um conto de réis para a construção do primeiro cemitério. Estes foram os termos do documento: “… gozando outrora esta Vila de ar puro, tem certo tempo a este desenvolvido enfermidades que pasmam, como sejam as contaminadas febres cataras e outras, pensam-se ser provenientes dos muitos corpos enterrados na Matriz, serem as sepulturas inferiores em número aos óbitos que tem lugar neste município se exumam ainda mesmo depois de enterrados, doze ou quatorze meses depois há cadáveres ainda por decompor-se… o que não se pode evitar porque a não se ter lugar que inteiramente substitua ao em que os restos de seus parentes, ou amigos sejam depositados em lugar carecedor de culto religioso…”

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