A chegada dos militares ao poder em 1964 teve repercussão também em Vitória da Conquista. “Foi onde aconteceram as maiores violências contra políticos, autoridades ou militantes de partidos no interior da Bahia”, segundo o historiador Ruy Medeiros. A cidade foi aterrorizada com a prisão e exebição pública de dezenas de pessoas.
Militantes do Partido Comunista Brasileiro, profissionais liberais, funcionários públicos, comerciantes, sindicalistas, estudantes, professores e até um juiz foram presos pelo capitão Bendochi Alves, que chegou à cidade com centenas de soldados. Até mesmo o prefeito e vereadores foram presos e interrogados, muitas vezes, sem motivo concreto.
O prefeito na época era José Pedral Sampaio, eleito em 1962. “Fiquei numa cela com uns 20 presos. Revezamos na guarda a noite inteira com medo de alguma violência e quando éramos interrogados, dava para perceber que eles não sabiam direito quem éramos nós”, declarou Pedral. O prefeito foi transferido para Salvador e perdeu os seus direitos políticos quando instituíram o AI-2.
Entre outros presos, estavam o jornalista Aníbal Lopes Viana e o vereador Péricles Gusmão Régis, este último morreu misteriosamente dentro do Quartel da Polícia Militar da cidade (onde hoje é o 9º Batalhão). Péricles foi encontrado morto no dia 12 de maio de 1964, após uma madrugada de intensos interrogatórios, no quarto sanitário com cortes de lâminas de ‘Gillette’ no pescoço e nos pulsos. Um médico legista que também estava preso, declarou que a morte havia sido provocada pelo próprio vereador, versão contestada por amigos e familiares de Péricles.
PÉRICLES – O vereador era filho de Adalberto Regis Keller da Silva e Laudicéia Gusmão e, mesmo sendo de família rica, se envolveu com a luta política e social desde muito cedo. Quando Pedral se elegeu, ele era o seu líder na Câmara e tinha ideias que irritavam a classe dominante local. Defendia a reforma agrária, a redistribuição de renda e o direito dos analfabetos ao voto. Foi o único conquistense morto vítima fatal da ditadura na cidade.
Outra conquistense também morreu por conta da ditadura, mas no Araguaia: Dinaelza Soares Santana Coqueiro, filha de Antonio Pereira de Santana e Jumília Soares Santana, falecida em 1973.
Informações da “Taberna da História”, do jornalista Luís Fernandes.