Ao todo foram dezoito apresentações de grupos de ternos de reis em dez dias da programação do Natal da Cidade. A tradição do reisado é forte na cidade de Vitória da Conquista e todo ano faz parte do evento, desde a sua criação em 1997. São grupos formados, em sua maioria, por agricultores rurais e donas de casa, pessoas simples que anseiam pela chegada do Natal para festejar os santos reis e anunciar o nascimento de Jesus Cristo.
É nessa época que eles se vestem com roupas coloridas, colocam chapéus ornamentados e trocam as enxadas por instrumentos como tambores, pandeiros e pífanos. Os versos cantados de forma estridente são baseados nas passagens bíblicas que narram a visita do anjo Gabriel a Maria, a viagem dos reis magos, a vida simples de Jesus e, sobretudo a dedicação e o amor ao próximo.
Pessoas como a senhora Maria Rosália, do povoado do Baixão, saem com orgulho cantando reis nos festejos natalinos. Uma tradição que ela herdou do seu avô, que durante os seus 90 anos de vida se dedicou ao reisado e que segue passando para os novos integrantes da família. “Afilhado, sobrinho, irmã, primo, esposo, tio, todo mundo faz parte, até os ‘miudim’ que já bate na caixa”, diz ela sobre a formação do Terno de Reis do Divino Espírito Santo.
“A cada dia que passa temos mais alegria, o prefeito Guilherme resgatou essa cultura que estava lá escondida e trouxe para a cidade, estava morto e a gente não via em cidade nenhuma, a gente não tinha essa alegria de hoje, não. Não tinha esse povão todo aqui na frente, não”, afirma, satisfeita após a apresentação no dia 25, quando aconteceu na praça Barão do Rio Branco o encontro dos ternos de reis.
“Os ternos de reis viviam marginalizados e era necessário que eles pudessem ser vistos, lembrados e homenageados, sendo aplaudidos e reconhecidos”, ressalta o prefeito Guilherme Menezes. “Os ternos e outras manifestações tradicionais populares têm sido uma fonte limpa de pesquisa e inspiração para muitos artistas, seja do teatro, das artes plásticas, compositores e cantores bebem nessa fonte”, lembra.
A grande festa para os reiseiros, no entanto, acontece no dia 6 de janeiro, dia dos Santos Reis. A dona Maria diz que lá no Baixão eles se apresentam durante seis dias até chegar o dia da festa, quando é montado um verdadeiro banquete. “Mata porco, bode, peru e galinha que eu crio o ano todo para essa festa, para celebrar o nascimento de Jesus. Sem Jesus nós não é ninguém, sem Jesus nós não vive”, exalta, contente a mestre reiseira.
ORIGEM DOS REISADOS – Também conhecido como Folia de Reis, o Reisado é uma dança folclórica que surgiu em Portugal em meados do século XVII, com a principal finalidade de divertir o povo. Para o Brasil, veio quase um século depois através dos colonizadores portugueses como uma espécie de revista popular, recheada de histórias folclóricas. Sua essência continua a mesma, até hoje, nos lugares onde resiste, com uma mistura de temas sacros e profanos, mas bastante ligada ao catolicismo. A tradição ainda é encontrada em alguns estados do Nordeste, principalmente por cidades pequenas de Alagoas, de Sergipe e da Bahia.
Assista, no vídeo abaixo, parte da apresentação do Terno de Reis Santa Bakhita no Memorial do Reisado no dia 24 de dezembro.