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Me lembro de uma entrevista que fiz com Targino Gondim em que ele afirmou: “não existe forró universitário, forró pé de serra, forró eletrônico, forró tradicional, forró isso ou forró aquilo, existe forró e pronto. Ou é forró, ou não é”.

Não deu para esquecer também que, no ano passado, estive numa cidade conhecida por seus tradicionais festejos juninos, mas naquela noite de São João vi e ouvi, na praça, uma banda de pagode fazendo as moças e as crianças (!) descerem até o chão ao som de músicas que nem preciso reproduzir aqui. Nesse dia fiz questão de voltar cedo para casa. Triste, tentava dormir, mas os refrões indecentes se repetiam e a cena lamentável não saía da minha cabeça.

São João é tradição e não tenho como fugir desta máxima. Cresci vendo meu pai montando a fogueira na porta de casa, vendo minha mãe preparando assados e biscoitos. Ganhava traques e bombinhas dos meus tios. Festejávamos em família e depois a gente ia para as festas na praça. Diferente de como é, hoje, em muitas cidades, a atração era forró mesmo!

Hoje, muitas prefeituras e secretarias de Cultura transformaram o São João em carnaval, o que as festas de camisa já fazem há muito tempo… Estão contratando cantores sertanejos, bandas de axé, de arrocha, de pagode e os tais “forró de plástico” para os seus festejos juninos (ou estavam, porque não dá para manter, por anos, festas com tanta ostentação como vinham fazendo, tanto que tem cidades sem programação nesse ano).

Os festejos juninos pelo Nordeste fazem parte da nossa cultura popular. É do nosso povo, de verdade! Mas parece que a Bahia passou por um processo de aculturação tão grande que ela não está nem no Nordeste, nem tão pouco no Sudeste – é como se existissem as cinco regiões do país mais a Bahia. A cultura popular nordestina não está na nossa mídia, não é ensinada nas nossas escolas, não é pesquisada por nossas universidades (claro, que há exceções), e as prefeituras estavam – e algumas ainda estão – contratando, com cachês milionários “aquilo que o povo gosta”.

Reproduzir o que a grande mídia impõe, fazendo apologia à pornografia, ao consumismo, às bebidas alcoólicas, entre outras coisas, porque é isso que dizem as músicas das atrações “que o povo gosta”; não é, e nem deve ser, o papel de uma administração pública. É preciso zelar pelas tradições populares, preservar nossas essências e resgatar o que estamos deixando se perder, ao dar espaço para a futilidade e o insignificante. Mas, ainda bem que há exceções, e agora chego onde queria chegar: no Forró Pé de Serra do Piripiri. Vitória da Conquista, que por muito tempo ficou sem realizar festejos juninos, “por não ter vocação para a festa”, como muitos diziam, tem hoje uma das poucas verdadeiras festas juninas realizadas no interior do Estado e também do Nordeste. Realizada desde 2009, dentro do mesmo conceito, tudo de graça, aberto ao público e sem esbanjar dinheiro público com cachês milionários.

Nosso São João coloca o trio sanfona-triângulo-zabumba em seu devido lugar. Festeja a arte de Gonzagão, a poesia de Humberto Teixeira, os lamentos do sertanejo, a vida simples da roça, a dança das meninas e a beleza da cultura popular, que, por mais simples que seja, encanta de menino de colo a velhos de bengala, que enchem os olhos d´água só de ver que ainda existe, em algum lugar, o colorido das bandeirolas dançando ao som do autêntico forró. Se emocionam porque isso está dentro da gente, mesmo quando a gente nem sabe. Faz parte de cada nordestino, até dos baianos (claro que sim!). Por mais que estejam nos dizendo o que é “o bom”, o bom mesmo é o que permanece para sempre, é o que a gente carrega dentro da gente. E, dentro de mim, pulsa um coração dizendo que, em Conquista, dá gosto de ver o São João chegar!

Que o Forró Pé de Serra do Piripiri se mantenha por muitos anos, dentro da nossa tradição de festejar com forró de verdade! E que possamos aproveitar cada atração dessa edição! A programação completa está aqui:

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