“Tem gente que tem o corpo fechado”. Quem nunca ouviu essa expressão no sertão? É com esse enredo e baseado em outras crenças populares do sertão conquistense que está em produção o documentário “Contra o Veneno Peçonhento do Cão Danado”, um filme da TV Local e do Instituto Mandacaru de Inclusão Sociocultural.
“Muitos causos, filmes e novelas, e inúmeros livros que relatam os sertões baianos da metade do século XIX e início do XX dão conta da crença popular de que o corpo de algumas pessoas era ‘fechado’, invulnerável tanto a projéteis de arma de fogo quanto a golpes de arma branca, que ficavam invisíveis ou mesmo viravam bicho. Geralmente, são relatos sobre pessoas bastante conhecidas, sejam foras-da-lei ou autoridades. Para muitos estudiosos, não se trata de uma peculiaridade regional e sim de um traço da cultura brasileira, nomeadamente a popular”, diz a divulgação.
A produção irá abordar narrativas de guerra e violência, disputas de poder político e mitos populares, retratando principalmente um universo histórico e mágico que vem se perdendo na contraposição do campo com a urbanização dos nossos dias.
“Uma das histórias a ser retratada é a do delegado Afonso Lopes Moitinho, uma das figuras centrais do que ficou conhecido como ‘A Chacina do Tamanduá’, ocorrida no final do século XIX, na então Imperial Vila da Vitória – hoje a cidade de Belo Campo. Moitinho era tido por muitos como um homem de corpo fechado, uma imagem que reforçava seu papel de autoridade. Segundo a crença popular sua morte somente seria possível se tivesse sua cabeça cortada por um facão sobre um pilão e depois pisada: a mesma crença afirmava categoricamente que este foi o seu fim”, conta a equipe.
O documentário está em fase de produção desde o início de maio e se estende por sete municípios baianos, boa parte deles situados na região sudoeste. O público poderá acompanhar o andamento das atividades através do site do projeto (sintomadecultura.com.br/santolenho) a partir do dia 10 de julho.