*Texto de Caetano Veloso, publicado na sua página no Facebook, na sexta-feira 13, já carnaval na Bahia (nesse caso, Salvador). Marquei com a categoria JORNALISMO devido às últimas linhas, que dei destaque e que também foram a motivação da reprodução aqui.

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Fiquei na Bahia de 27 de janeiro a 7 de fevereiro. Gostei imenso e nem tinha vontade de voltar pro Rio. Fiz o Festival de Verão e não ia fazer mais nada. Nem dar entrevistas. Muito menos pra TV. Mas Geraldo Badá, meu amigo que tem o coração grande, me lembrou que, às vésperas do carnaval em que se comemora 30 anos de axé music, a importância de Paulinho Camafeu (ou ” Paulinho de Camafeu”, como ainda o chamam alguns que se lembram dele dando assistência a Camafeu de Oxóssi) não poderia ser esquecida.

Foi Paulinho quem fez “Mundo Negro” (“Que bloco é esse?”), a canção que registra o surgimento do Ilê Aiyê e a mudança da atitude dos pretos soteropolitanos em relação a sua posição na cidade – e do resto menos preto da cidade em relação a eles. Depois inaugurou o fenômeno “axé”, na parceria com Luiz Caldas em “Fricote”. Só por causa dele aceitei, por sugestão de Badá, falar com uma jornalista da TV Bahia.

Era Wanda, cafuza do norte do país que virou baiana, pessoa de quem gosto e em quem confio. Quando a ouvi dizer que me perguntaria sobre axé music, teimei em que o assunto era Paulinho Camafeu. Mas como não há um sem o outro, fui maleável. Falamos sobre Paulinho. E ela me perguntou se acho que a música de carnaval de Salvador passa por uma crise. Respondi que pode haver crise, mas que eu sou incuravelmente otimista quando se trata de axé. Basta-me que haja uma canção como a da Rainha Má de Daniela e que se afirme a força do pagodão, “do Harmonia a Kannário”. Pois bem.

O que vi na TV depois foi uma conversa genérica sobre axé music e nada sobre Paulinho Camafeu ou Kannário. Por que cortaram o nome de Kannário? A Bahia precisa saber que foi o primeiro nome que escolhi para colocar junto do do Harmonia. Amo o Psirico. Repeti o nome deste grupo como complemento ao que já tinha dito, mostrando que não desprezo (ao contrário) o grupo de Márcio Vítor. Mas Kannário foi o nome que proferi primeiro e não admito que os baianos não fiquem sabendo que eu o fiz.

O jornalismo de televisão (assim como os outros) precisa mostrar honestidade para receber do público a confiança que deseja. Se temos de defender a liberdade de imprensa, que comecemos por exigir da imprensa mais responsabilidade.

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