Por Joilson Bergher*

O culto de Ísis, os festejos, a sobrevivência, a evolução, a honra para Dionísio, na Grécia. Eis o carnaval. A origem é controversa. Para uns, é a festividades popular que ocorre em diversos países e regiões católicas nos dias que antecedem o início da Quaresma.

No Brasil o carnaval possui status de ser uma das mais importantes festas populares do país, provavelmente, a que mais goza de grande participação popular. Na sua forma oral fora transmitida através dos séculos, como herança das festas pagãs a partir de Dezembro-Saturnais, – em honra a deus Saturno na mitologia grega, e 15 de fevereiro-Lupercais – em honra a Deus Pã, na Roma Antiga. Entretanto, na verdade, não se sabe ao certo qual a origem do carnaval, assim como a origem do nome, que continua sendo polêmica.

O fato é que a comemoração do carnaval tem suas raízes em alguma festa primitiva, de caráter orgíaco, realizada em honra do ressurgimento da primavera. De fato, em certos rituais agrários da antiguidade, 10 mil anos A.C., homens e mulheres pintavam seus rostos e corpos, deixando-se enlevar pela dança, pela festa e pela embriaguez-carnal. É um rápido retrospecto. Nesses dias vive-se apenas um pretexto. Recupera-se o que se fazia em tal período: os romanos e gregos continuavam com suas comemorações pagãs, apenas usavam outro nome.

Era a Igreja Católica, a Santa Sé a ditadora das ordens na época, afinal, como manter uma comemoração pagã em meio a um mundo que se dizia Cristão? A resposta: a transgressão da carne, do corpo, da bebedeira, da comida, literalmente. “O carnaval permite paródias, e separação temporária de constrangimentos sociais e religiosos. Por exemplo, escravos são iguais aos seus mestres durante a Saturnália Romana; a festa medieval dos idiotas inclui uma missa blasfemiosa; e durante o carnaval fantasias sexuais e tabus sociais são, algumas vezes, temporariamente suspensos”, assinala, Irlan de Alvarenga Cidade. Eis aí a história, ela se fazendo viva. O bacanal carnavalesco continua firme e forte, quero dizer, em tese.

Há uma crise também firme e forte. Mudança de hábito? O povo sendo excluído, a existência de apartheid com a aquiescência do Estado que tenta normatizar o que nunca foi normal ou anormal? Confesso que dá até êxtase falar do carnaval. Lembro-me do carnaval em Jequié, notadamente na ACJ, Associação Cultural Jequieense e também na rua. Batalha de confetes, arlequins, palhaços, caretas aterradoras, serpentinas. Orquestras de sopro capitaneada pela Banda Embalo 4 tocando antigos clássicos. Era a imaginação criada pela fantasia do Carnaval-Baconiano. Era o carnaval sem cordas, sem racismo, sem a pancadaria selvagem da malandragem e de policiais. Não pagava-se caro pelo carnaval da alegria ensaiada, disfarçada pelo medo gerado pela festa-baconiana.

E, hoje? Maragogipe e Rio de Contas ainda conservam esse ‘cenário’. A ressalva: Em Rio de Contas já se percebe a falta de controle do poder Público Municipal em controlar a sanha mercantilista de quem vive a destruir carnaval Brasil a dentro. Algumas ditas Bandas e artistas de cunho duvidoso, aliada a cultura ensurdecedora de carros e seus sons cada vez mais potentes estão a proliferar essa cidade hoje tombada pelo Patrimônio Histórico do Brasil. Prefeitos, cuidado e zelo pela tradições de suas festas.

E, em Vitória da Conquista? Lembro-me que em 2011, a foliona, Morgana e um grupo de amigos, reuniu um grupo de algumas pessoas, fomos numa tarde de Carnaval celebrar o carnaval sem cordas, sem trio, sem organização no sentido das normas. A alegria era exatamente a fantasia do carnaval. Agora de novo, a idéia, ressurge com fôlego com o Bloco Curtaki. Muito boa iniciativa. Fantasias, crianças, a juventude, idosos, a intelectualidade e a certeza de que é possível sim fazer carnaval com qualidade em Vitória da Conquista. O que se ouviu nos dois dias em que o cortejo Curtaki desceu as ruas da cidade é que o formato do Carnaval de Salvador vive está superado. Tanto é verdade que dados da Secretaria de Turismo da Bahia lamenta a não participação do povo de Salvador no Carnaval.

Em passado recente, em Vitória da Conquista, existia, segundo os organizadores a melhor Micareta do Brasil. É curioso, a festa em crise, acabou, seu formato não agregava muita coisa pra cidade, assim eu acredito: se fosse o contrário tal festa estaria aí. Na avenida eu estava atento a uma fala de um componente do mini-trio: “Está provado que Vitória da Conquista tem carnaval e quer carnaval”. Um recado: muito interessante o modelo trazido a baila pelo Bloco Curtaki em seu formato original onde a espontaneidade é o mote da alegria. Que venha o ‘novo’ carnaval de Vitória da Conquista. Um segundo recado: secretário de Cultura e Turismo de Vitória da Conquista, senhor Gidelson Felício, corre por aí comentários (?) de que há uma pressão para que volte a Micareta de Vitória da Conquista. Abra o olho e coloque o pé no chão no sentido de conter a sanha desses Amantes do Capital. É indispensável a parceria com o setor privado, mas, em benefício da cidade e não de grupos que se privilegia turbando tradições criadas pelo povo, pela sociedade. Em Salvador isso tá tão escancarado que agora não basta ser dono de bloco e alugar ou comprar espaços para desfile no circuito de carnaval, cria-se grandes camarotes com até 5 mil lugares, pagando até 5 mil reais… é o que está circulando em jornais, blogs, tvs! O curioso é que os mesmos blocos que privatizaram o espaço público, estão tocando tais investimentos, os dos camarotes.

“Ninrode foi o homem que, com seu poder, deu início a uma civilização chamada Babilônia. Localizaremos em Babilônia o início de todas as profanações, todos os cultos a outros deuses”. Assim eis que vivi um raro momento de carnaval em Vitória da Conquista, capitaneado pelo Bloco Curtaki e por uma multidão fantasiada pelo carnaval.

Ah, em tempos de decisões por dentro e por fora da Igreja Católica com a prematura renúncia do Santo Bento 16, em plena quaresma, o Jornal A Tarde do dia 12 de fevereiro, através de seu chargista Cau Gomez, brinda ao carnaval junto aos seus leitores com a imagem de um trio elétrico emanando o seu som e o santo Padre deixando de lado os símbolos da Santa Sé e caindo na gandaia carnavalesca. Pelo menos a idéia é essa.

*Professor de História, Especialista em Metodologia do Conhecimento Superior, Pesquisador Independente do negro no Brasil, Estudante do Curso de Filosofia, Uesb – Vitória da Conquista, Bahia

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