Tim Maia ganha vida quando longa o retrata como gênio tosco
Por Cássio Starling, da Folha de SP
Entre as tantas qualidades das cinebiografias, a principal é ter ajudado o cinema brasileiro a perder o complexo de vira-latas diante de seu próprio público.
Afinal, “Tim Maia”, como outros filmes do gênero que o antecederam, confirma uma excelência de produção num padrão capaz de satisfazer o espectador que só tem o cinema americano em seu horizonte.
Esta vantagem da comparação com a matriz implica, no entanto, uma desvantagem. Diferente do cinema que mimetizamos, ainda não sabemos bem como contar uma boa história.
Da primeira à última cena de “Tim Maia”, não assistimos, mas escutamos um narrador contar uma história, por meio de uma voz “over” que anuncia, rememora, explica e quase impede o personagem principal de existir.
Faz sentido que esta voz seja de Fábio, músico e amigo de Tim Maia, vivido por Cauã Reymond, que, além de astro, branco, bonito e com mais apelo que Babu Santana e Robson Nunes, é um dos produtores do filme.
Outro efeito negativo da padronização narrativa é a perda da identidade. “Tim Maia” deixa a impressão de que entre o autor de “Me Dê Motivo” e Noel Rosa, Cazuza, Renato Russo e Paulo Coelho não há nenhuma diferença de temperamento, comportamento ou talento.
Só nos poucos momentos em que o filme arrisca a mostrar seu personagem como um gênio tosco, por exemplo, é que consegue dar vida à figura portentosa e atormentada do cantor.
Ou quando o deixa livre do peso dos outros, como na reconstituição da viagem aos EUA e no mergulho nas drogas. São instantes em que “Tim Maia” se valoriza com a contribuição de Robson Nunes, que dá graça e credibilidade ao percurso antes da fama, e Babu Santana, que consegue a proeza de encarná-lo sem precisar forçar a reencarnação.
TIM MAIA
DIREÇÃO Mauro Lima
ELENCO Babu Santana, Robson Lima, Alinne Moraes, Cauã Reymond
PRODUÇÃO Brasil, 2014, 16 anos
AVALIAÇÃO regular
O filme está em cartaz no Moviecom Conquista, no Shopping Conquista Sul.