Por Mariana Kaoos

Gilvandro Oliveira é um jovem natural da comunidade remanescente de quilombo Ribeiro dos Paneleiros, integrante do município de Vitória da Conquista.  Atualmente ele reside no bairro Bruno Barcelar, localizado dentro da cidade. Escultor desde a infância, trabalhou com Artes Sacras durante toda a adolescência, até, por fim, encontrar seu próprio estilo. Suas obras de cerâmica, barro e madeira morta, que trazem influências indígenas e quilombolas, buscam evidenciar a história do autor que mescla com a própria história local.

Uma parte da obra de Gilvandro foi exposta na Estação Juventude, programa municipal pertencente à Coordenação da Juventude. Mas não só. Durante os festejos juninos, é possível visitar e conhecer algumas de suas esculturas em outro local, no Centro Glauber Rocha – Educação e Cultura, aonde vem acontecendo a sexta edição do Forró Pé de Serra do Periperi.

Com o intuito de expandir o São João para além das atrações musicais, o evento oferece ao público uma gama de opções culturais que vai além dos shows. Exemplo disso é o “Arraiá Vila da Conquista”, local temático que expõe stands de literatura de cordel, mini igrejinhas com imagens de São João, pontos de venda de quentão, amendoim e canjica e um pequeno palco onde grupos tradicionais da região se apresentam. Um deles foi o Forró Canta Brasil, que animou pessoas de diferentes idades na noite de quinta-feira (19).

Além da vila, há também o Memorial do Forró, que conta a história do homenageado desse ano, o sanfoneiro Dominguinhos, e expõe telas, bonecos em tamanho real e até mesmo uma vila junina em miniatura. Quem assina a produção do lugar é Vitória e Marcelo Viana. O memorial abre todos os dias às 19 horas e fecha por volta de uma hora da madrugada.

001
Público do segundo dia: lotação máxima

A FESTA E O NOVO ESPAÇO – Construído pelo governo municipal, o Centro Glauber Rocha fica localizado na Avenida Brumado, mais precisamente ao lado da famosa Feirinha do Bairro Brasil. O novo espaço, que custou em torno de seis milhões aos cofres públicos, tem capacidade para comportar em torno de vinte mil pessoas e será reservado para os grandes eventos públicos da região como o Natal da Cidade, Festival da Juventude e Forro Pé de Serra do Periperi.

Esse último inaugurou o local com muita animação e surpresa por parte do público. Para a estudante de artes da Universidade Federal da Bahia, em Salvador, Bruna Rocha, o espaço é uma forma de política acertada da gestão do município. “Esse espaço é a materialização do que é o direito da cidade. Eu tenho visto aqui todas as classes sociais convivendo tranquilamente, sem violência, e isso causa uma sensação de bem estar em mim. Existe uma preocupação muito importante com a valorização da cultura local, e isso a gente sente muita falta em Salvador. Vitória da Conquista está apontando caminhos para outras cidades da Bahia entenderem que nossa principal riqueza está aqui dentro”.

Já de acordo com o secretário municipal de cultura, Nagib Barroso, o diferencial do Centro Glauber, é a infraestrutura e o sentimento de pertencimento por parte da população local. “Na realidade, isso aqui é um espaço totalmente adaptado para receber a população com a infraestrutura necessária para fazer eventos com qualidade e segurança. O complexo cultural vem como um divisor de águas na cultural local, porque a partir de agora nós podemos nos certificar que a comunidade conquistense tem um espaço adequado e merecedor de eventos conceituais de extrema qualidade”, comenta.

002
Flávio José atraiu cerca de vinte mil pessoas para o novo espaço

A SEGURANÇA DO FORRÓ – Apesar de ser um evento público, onde qualquer pessoa pode ter acesso, o Forró Pé de Serra do Periperi esse ano contou com ajuda extra da Polícia Militar. Logo na entrada do Centro Glauber Rocha uma gama de seguranças se prontifica a revistar com detector de metais a todos que entram no local. Essa medida impede que o público entre portando armas e objetos que possam vir a serem usados em caso de violência.

De acordo com o Capitão Orlins, responsável pelo comando da polícia no evento, há um total de doze câmeras dentro do espaço, sendo oito fixas e quatro do modelo “speed dome”, que tem como finalidade uma visualização rotativa, através de diversos ângulos. “Com intenso monitoramento, nós não registramos nenhum caso de violência até agora. O evento vem se dando de maneira pacífica e ainda não captamos nada que viole a integridade das pessoas”, afirma o militar.

O Capitão ainda explica que o principal foco da PM no evento é contribuir para que ele aconteça de maneira satisfatória para o público, o que implica também em fechar os portões, como ocorreu no segundo dia do Forró. “Na noite de quinta-feira, os portões se fecharam porque a quantidade de público interno e a de público externo eram incompatíveis com as dimensões do espaço. Então, nós da polícia, em parceria com a Defesa Civil, o Corpo de Bombeiros e outros órgãos envolvidos, decidimos barrar o público externo por determinado tempo, em detrimento de que a segurança imperasse no evento. De forma coerente, decidimos fechar os portões para que nada viesse a prejudicá-lo”.

Ainda de acordo com ele, os portões serão fechados novamente, caso o número de pessoas presentes no espaço ultrapasse os vinte mil.

004
Arraiá Vila da Conquista com as tradicionais casas de barro

AS COMIDAS DO SÃO JOÃO – As festas tradicionais de Vitória da Conquista, além de serem situações propícias para a celebração e alegria por parte do público, é também favorável no que se refere aos vendedores locais. A economia da região aumenta e grande parte do lucro vai para as mãos de taxistas e dos ambulantes que oferecem os mais variados tipos de comida e bebida à população.

João Santos, taxista há mais de dez anos, garante que, atualmente, é mais vantajoso trabalhar no São João do que viajar para curtir a data. “Junto com o Natal da Cidade e outras festas como Festival de Inverno Bahia e a Exposição Agropecuária, o São João está sendo um período bom pra tirar um dinheirinho a mais. A cidade está crescendo e as pessoas, hoje em dia, escolhem ficar aqui a viajar, porque se divertem do mesmo jeito. Até eu tenho preferido trabalhar nessa época e escutar um forrozinho quando posso, do que ir gastar em outro lugar”.

Ao redor do Centro Glauber Rocha, inúmeras pessoas instalaram suas barraquinhas de comida e bebida. Já dentro do local, é possível encontrar em torno de 70 barracas, que vendem desde as comidas tradicionais de São João a outras coisas como acarajé e sanduíches. O critério para elas estarem lá foi bem simples. Quem tinha interesse, poderia se inscrever na Secretaria de Serviços Públicos, que, mediante ao contingente de inscritos, realizou um sorteio para decidir quem poderia montar o seu negócio lá.

003
O cantador Xangai se apresentou com o frio e a neblina, típicas do inverno conquistense

A MÚSICA E O FRIO – Apesar do frio que imperou nessas últimas quatro noites, o público não arredou pé e ocupou em massa o complexo cultural para assistir as atrações desse ano. Dentre elas, alguns nomes de destaque local como a banda Maria Vai com as Outras, que esse ano trouxe novidades para os presentes. De acordo com Narjara Paiva, vocalista do grupo, a inovação não veio apenas no repertório que transita do baião ao reggae, mas também no cenário e figurino. “Quem assina o nosso figurino é a nossa queridíssima Conça, costureira da banda. Já o cenário, fomos nós, junto com a nossa produção, que pensamos direitinho. Então a gente usa coisas tradicionais dessa época mesmo. Caixas de feira junto com pedaços de chita, fitinhas do Senhor do Bonfim dentre outras coisas. Procuramos reutilizar, reciclar tudo que parece não ter mais serventia”, diz a vocalista.

Além da Maria Vai com as Outras, outros cantores se apresentaram na mesma noite (19), como Flávio José, que se mostrou feliz em estar ali. De acordo com ele, é bonito ver o pátio tomado por uma multidão dançante. “Melhor ainda é saber que a nossa música prevalece, e também essa homenagem a Dominguinhos, muito mais do que justa, porque era um ser humano maravilhoso e um grande artista”, comenta o cantor.

Já na sexta-feira (20), o destaque foi para a banda Tirana Seca e para o cantor Waldonys, que surpreendeu a todos com a sua habilidade na sanfona. De acordo com o sanfoneiro foi “um show que teve de tudo um pouco, mas que não deixa as raízes de lado”. Além de Waldonys e Tirana Seca, as bandas Forrozão Arapuca e Amantes do Forró também se apresentaram.

Por fim, na noite de ontem (21), o frio falou tão alto quanto a música. Balançando as bandeirolas que estavam no lugar, o primeiro dia de inverno veio com chuva, fazendo com que o público se escondesse debaixo dos toldos instalados. Mesmo assim, ele não foi de total impedimento para a diversão geral.

O grupo Forró Baião de Dois deu um show de qualidade musical. Seu repertório variou entre as já tradicionais músicas juninas até alguns forrós pé de serra. Em seguida foi a vez de Rony Barbosa, que também não fez feio, fazendo com que todo mundo dançasse na chuva. No entanto, a atração mais esperada da noite veio em seguida. Xangai, trazendo músicas completamente distintas das já habituais em seus shows, fez uma apresentação calorosa e brincou com o público. “Vocês são uns heróis e umas ‘heróias’ debaixo dessa chuva. Eu estou aqui é tomando choque”, comentou em meio a risos.

Após a sua partida, o Centro Glauber Rocha esvaziou consideravelmente. No entanto, quem ficou ainda pode curtir o som de Forró Kalundú e Fulor do Cangaço.

Hoje, 22, quem se apresenta são as bandas Alex Baducha, Onildo Barbosa, Targino Gondim e Paulo Barros & Banda. A programação do Forró Pé de Serra do Periperi segue até terça (24), dia de São João.

(Fotos: Secom PMVC; Foto de destaque: Rafael Flores / Revista Gambiarra)

Deixe um comentário