leo tavaresPor Leonardo Tavares*

Tenho uma mania estranha: costumo, uma vez por mês, dormir em hotéis e pousadas. Sozinho ou acompanhado. Não importa. É só pra desenjoar de casa e ser servido com pompa e circunstância. É muito bom. Vocês deviam tentar. Mas, no último domingo, aconteceu algo bem interessante.

Estava eu tomando café na Pousada da Conquista, de meu amigo Ricardo Matheus, quando de repente quem chega e senta na mesa ao lado? Caetano Veloso.

Isso mesmo meus amigos, Caetano Veloso e toda a sua baianidade, ou não, entende?! (Leia com a voz dele). Não sou tiete e odeio quem se descabela por um astro, seja ele de qualquer magnitude, mas o cumprimentei e ele, cordialmente, acenou de volta com um bom dia. Pronto, seguimos com o nosso desjejum.

Mas a minha surpresa não terminou por aí. Eis que o Naldo veio ao refeitório, e sentou na mesma mesa do Caetano. Cumprimentou-me e começou um dialogo com o seu parceiro de mesa. Foi, no mínimo, curioso. Transcreverei:

– Bom dia , meu rei. Como foi o seu show?

– Bom dia, Caê. Foi confuso. Primeiro não teve teto para o meu pouso, e a produção até arrumou um sósia, mas cheguei a tempo. Depois um povo invadiu meu palco e eu tive que aturar. Me chateei. Povo pela saco. Cantei pouco e fui embora.

– “Minha mãe me deu ao mundo de maneira singular me dizendo uma sentença:
pra eu sempre pedir licença, mas nunca deixar entrar”.

– “Talvez não seja assim tão fácil. Mas vou tentar esquecer. O que passou passou.”

– Mas deve ser difícil segurar um show com “alto em cima, alto em cima” o tempo todo, não é não?

– Foi mais fácil que ter uma sonorização ruim e alguém gritar “Horrível” no meio do show, não acha?!

– Pelo menos nenhuma polenta foi melhor que eu.

– Já é. AÍ você apelou. Não tenho culpa da cultura da região. Tava doido para abalar, e fazer um show maneiro, mas o povo só queria “nhem, nhem, nhem, chororô”

– Meu caro Mc, “de perto ninguém é normal.”

– Mas me diga: como foi se sentir um cantor de churrascaria? Porque me disseram que além de não te escutar tinha gente que conversava o tempo todo. Fora os que levantavam toda hora pra pegar cerveja. É sério que só tinha cerveja no camarote? O de Thiaguinho tinha whisk, água de coco… Que pra mim tanto faz. Gosto mesmo é de cachaça.

– “Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”. E, além do mais, “qualquer maneira de amor vale a pena. Qualquer maneira de amor vale amar.” Beny, daqui a alguns anos, eu ainda serei Caetano Veloso. Apenas dizendo.

– Vai enganar Tetéu. Ao menos, não tomei bola e vamos parar de se alfinetar, não é? Dá camisa pra ninguém.

– E o Thiaguinho meu Rei, sabe dele?!

Neste momento, chega o Thiaguinho, com a maior cara de ressaca, cuspindo um “bom dia”.

– Ué, vei, ainda aqui?

– O que foi que aconteceu, meu bom?!

– Porra. Meu show mudou de nome. Agora é Ousadia e Tristeza. Deu quase ninguém ai eu aproveitei e tomei todas no Open Bar. Acordei em um bar com nome de um carro da Ford.

– Ahhh, o Verona! – em uníssono.

Olharam-se, abaixaram a cabeça e seguiram tomando café sem mais falar nada.

Aí eu pensei:

“Se tá ruim pra eles, imagina pra quem foi e pagou por isso.”

Esta “obra” é pura ficção científica, devaneio, ilusão, maluquessência e humor. Veio de um desafio feito pelo meu amigo Ricardo Marques. Portanto, não me encham o saco com mimimi.

*Publicado originalmente em seu blog Buteco 512

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