Conquista está repleta de blogs noticiosos que copiam, colam, reestruturam, ajeitam, apimentam, apaziguam, distorcem, reconstroem e até inventam. A atual situação me fez recordar desta edição da revista Imprensa e a máxima que reproduzo no título do post é, também, a minha opinião. Não é cerceamento da liberdade de expressão – como pode pensar o excelentíssimo senhor Gilmar Mendes, é uma questão de profissionalismo, coerência e ética mesmo. Um jornalista pode ser um excelente blogueiro, já o inverso não se pode garantir como verdade. Confira parte da matéria de Imprensa abaixo.

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(Parte da matéria de capa da edição 238 de IMPRENSA)

Por Igor Ribeiro / Colaborou Fabricio Teixeira

Em meio a cobranças, blogueiros refutam a comparação de sua atividade com o jornalismo e destacam o poder da livre opinião como sua principal característica

A cada minuto são criados mais dois blogs no mundo, somando-se aos outros 112,8 milhões que povoam a rede, segundo dados de agosto de 2008 da empresa de busca e medição Technorati, uma das mais respeitadas na internet. A mesma entidade havia detectado cerca de 4 milhões de blogs no final de 2004. Ou seja, em apenas quatro anos, a chamada “blogosfera” cresceu 2.720%. Diante de números assim, há quem defenda que novas mídias como essa exercerão cada vez mais o papel de informação e entretenimento antes restritos aos veículos de massa, detentores de grandes audiências, equipe profissionalizada, e tradição histórica, como os jornais impressos e a televisão. Desse complexo panorama de transformações surge uma analogia entre as mídias tradicionais e digitais e, conseqüentemente, uma irrefreável indagação: o blogueiro é o novo jornalista?

“Blogueiros e jornalistas são coisas tão diferentes que nem deviam ser discutidas”, afirma Bruna Calheiros, principal figura por trás do blog Smelly Cat, dedicado a curtas e longa-metragens em animação. Apesar da assertividade da blogueira quanto à separação de universos e de sua formação em publicidade, sua página tem abordagem bastante informativa e é constantemente atualizada com as últimas novidades do gênero. Publicou diversos posts sobre o festival AnimaMundi, por exemplo, sem nada dever aos críticos mais tradicionais do setor. Bruna garante que não segue regras e nem pretende fazê-lo: “tenho meu tom, minha maneira e coloco minha personalidade nos textos”. Mas ela pertence a um grupo de blogueiros que se propõem a tratar de certos assuntos tão bem quanto o faria um jornalista treinado para isso, quando não melhor.

É o que acontece, por exemplo, com o catarinense Rafael Ziggy, autor do SimViral, blog dedicado a marketing e publicidade. Ou com Nick Ellis, que faz de seu Digital Drops uma fonte confiável sobre gadgets e tecnologia. Ou ainda com Carlos Merigo, cujo blog Brainstorm #9 conta com programas sobre propaganda e cultura gravados de modo bastante profissional. Nenhum deles é jornalista, mas todos escrevem em quantidade e em qualidade, apuram muitas das notícias que publicam, editam textos e selecionam fotos e vídeos para acompanhá-los, entre outras coisas. Sim, fazem tudo isso com bastante personalidade, deixando clara a distância que têm da profissão jornalística. Mas trazem tanta atenção para si e para seus blogs que passam a ser mercadologicamente atraentes como se cuidassem de um jornal de verdade. Cynara Peixoto, que mantém a partir de Fortaleza o blog sobre tecnologia Mundo Tecno, vê com bons olhos o panorama. “É um mercado em franca expansão, que ainda merece mais atenção dos publicitários. A publicidade tem que ir para onde o público está”, alerta. Diversos blogueiros acompanham o movimento e trocam informações sobre como fazer de sua página na internet uma fonte de lucro. Esperam atingir o grau de Ricardo Noblat, que ficou famoso na época do mensalão por furar o muro do jornalismo impresso com seu site – desde 2005 o blogueiro só vive de e pelo seu blog.

Jornalistas vs. blogueiros

Por Luana Santana em 10/04/2012 no Observatório da Imprensa

A popularização da internet como um veículo de comunicação capaz de alimentar fluxos contínuos de informações e transcender os limites de tempo e espaço físico traz à tona a discussão sobre a esfera midiática à qual o jornalismo se configura na nova era digital. Se até então os jornalistas eram vistos como articuladores detentores das informações às quais a sociedade confere total confiança e credibilidade, hoje, com a consolidação da web e a expansão massiva da chamada blogosfera, muito se discute sobre a atuação dos blogueiros como produtores e comunicadores públicos.

De fato, existem características que diferem o jornalista e o blogueiro. No entanto, nada impede que ambos tenham o seu espaço. O jornalista como ser crítico, politizado, formador de opinião, defensor da veracidade dos fatos, comprometido em denunciar todo tipo de corrupção, tem ou deveria ter o compromisso ético com a apuração, a credibilidade e publicação das informações, devendo aproveitar ao máximo as possibilidades oferecidas pela internet de maneira que o caráter social da profissão sobressaia. Isso não significa que blogueiros articuladores, engajados, que denunciam problemas em suas comunidades locais, trocam informações sobre política e conhecimento, não sejam considerados comunicadores em potencial, até porque sabe-se que a maioria dos grandes veículos de comunicação brasileiros sofre sanções políticas, econômicas e editoriais, o que no território da blog não acontece.

Talvez o grande o abismo dessa competição seja a comparação entre jornalistas bem preparados e “blogueiros-soft”, que se consideram aqueles que são pagos para falar bem de uma marca ou um produto, que publicam de tudo para ganhar status ou crachá de imprensa na primeira fila dos desfiles de moda, baladas e eventos da alta sociedade. Sem falar nas “coberturas” em que há exposição da fonte, falta de aprofundamento das informações e baixa escolaridade, dentre outros fatores. Não que estes aspectos não ocorram no jornalismo. O que é importante salientar é que os jornalistas, de maneira geral, ao cometerem esses erros, sofrem punição ética e judicial, além de terem sua imagem associada ao descrédito, o que raramente ocorre com os blogueiros.

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