Laurentino Gomes

A proclamação da república brasileira foi resultado mais do esgotamento da monarquia do que do vigor dos ideais e da campanha republicanos. Incapaz de se reinventar e promover as reformas necessárias para atender as novas demandas geradas pela realidade brasileira, o império sucumbiu na manhã do dia 15 de novembro de 1889 em um golpe militar improvisado, sem participação popular e sem qualquer reação do próprio D. Pedro II, que parecia aceitar o rumo dos acontecimentos de forma passiva e resignada. “O povo assistiu a tudo bestializado”, escreveu o jornalista Aristides Lobo ao descrever os acontecimentos daquele dia no Rio de Janeiro.

A própria ideia de República não estava madura e os seus articuladores tinham pouca noção a respeito do que fazer com o país que herdavam do imperador. A abolição da escravatura, no ano anterior, tirou a base de apoio que a monarquia desfrutava na oligarquia rural brasileira. Os republicanos, que até então conseguiam precário apoio nas urnas, encontraram nos militares o elemento de apoio que lhes faltava. Havia enorme descontentamento nos quartéis desde o final da Guerra do Paraguai. Oficiais e soldados consideravam-se injustiçados pelo governo do império. Nada disso, porém, teria funcionado em 1889 caso a própria Monarquia já não estivesse corroída nas suas bases.

O império brasileiro caiu inerte, incapaz de mobilizar suas forças e reagir contra o golpe militar liderado pelo marechal Deodoro da Fonseca. Apesar de todas as evidências de uma conspiração em andamento, o imperador Pedro II permaneceu em Petrópolis até a tarde do dia 15 de Novembro. Ao chegar ao Rio de Janeiro, perdeu um longo e precioso tempo, acreditando ingenuamente que no final tudo ia voltar ao normal. “Conheço os brasileiros, isso não vai dar em nada”, disse naquele dia. Só na madrugada de 16 de Novembro, quando o governo provisório republicano já estava anunciado, é que D. Pedro reuniu seus conselheiros mais próximos e tentou organizar um novo ministério. Mas aí já era tarde.

Nas províncias, a única reação em favor da monarquia ocorreu na Bahia, surpreendentemente liderada pelo marechal Hermes Ernesto da Fonseca, comandante de Armas de Salvador e irmão do marechal Deodoro. Ao receber as notícias do Rio de Janeiro, Hermes Ernesto anunciou que permaneceria fiel ao imperador. Capitulou algumas horas mais tarde ao saber que o próprio irmão liderava a Proclamação da República e que D. Pedro II, àquela altura, já estava a caminho do exílio na Europa.

Em 1889, os republicanos brasileiros estavam divididos em quatro grandes facções. A primeira era composta por jornalistas, professores, advogados e intelectuais do Rio de Janeiro, autores do manifesto republicano de 1870 e muitos deles dissidentes do Partido Liberal. Eram liderados por Quintino Bocaiúva e tinham grande atuação na imprensa, na qual se destacavam também alguns radicais como Lopes Trovão e Silva Jardim, que pregavam a instalação da república de forma revolucionária, com insurreição popular nas ruas e até a execução da família imperial brasileira.

O segundo grupo era formato pelos positivistas, que seguiam a doutrina do filósofo francês Augusto Comte e pregavam a instalação de uma ditadura republicana no Brasil. Alguns de seus líderes eram Teixeira Mendes, no Rio de Janeiro, e Julio de Castilhos, no Rio Grande do Sul. O terceiro grupo era o dos cafeicultores do oeste paulista, concentrados na região de Campinas, Itu e Rio Grande, liderados por Prudente de Morais e Campos Salles. Por fim, havia a facção militar, descontente com o governo no Império e liderada no Rio de Janeiro pelo tenente Benjamin Constant. Esses grupos agiam de forma isolada, com pouca articulação entre si, mas todos aderiram rapidamente ao precipitado golpe militar do Marechal Deodoro no dia 15 de Novembro. Os anos seguintes foram de crise, guerra civil e muita confusão.

Publicado por Laurentino Gomes em seu blog. Autor dos livros “1808” e “1822”, Laurentino agora escreve “1889”, com lançamento previsto para 2013.

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